No Invisível
Léon Denis
Parte 50 e final
Concluímos nesta edição o estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.
Nossa expectativa é que este estudo tenha servido para o
leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo foi publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Que condições são importantes
no desenvolvimento do poder de curar pela imposição das mãos?
B. Que Léon Denis quer dizer com
a expressão “mediunidade genial”?
C. Podemos afirmar que a Igreja
foi espírita durante os três primeiros séculos?
Texto para
leitura
1282. O poder de curar pelo olhar, pelo tato, pela
imposição das mãos, é também uma das formas por que a ação espiritual se faz
sentir no mundo. Deus, fonte de vida, é o princípio da saúde física, do mesmo
modo que o é da perfeição moral e da suprema beleza. Certos homens, por meio da
prece e do esforço magnético, atraem esse influxo, essa irradiação da força
divina que expele os fluidos impuros, causa de tantos sofrimentos. O espírito
de caridade e dedicação levada até ao sacrifício, o esquecimento de si mesmo,
são as condições necessárias para adquirir e conservar esse poder, um dos mais
admiráveis que Deus concede ao homem.
1283. Esse domínio, essa superioridade do espírito sobre a
matéria, se afirma em todos os tempos. Vespasiano cura pela imposição das mãos
um cego e um estropiado. Não menos célebres são as curas de Apolônio de Tiana.
Todas são ultrapassadas pelas do Cristo e seus apóstolos, operadas em virtude
das mesmas leis.
1284. Nos tempos modernos, pelo ano de 1830, um santo padre
bávaro, o Príncipe de Hohenlohe, possuiu essa admirável faculdade. Ele procedia
sempre mediante a prece e a invocação, e a fama de suas curas repercutiu em
toda a Europa. Curava os cegos, surdos, mudos; uma multidão de doentes e
achacados, incessantemente renovados, assediavam-lhe a casa.
1285. Mais recentemente, outros taumaturgos atraíram a
multidão dos sofredores e desenganados. Cahagnet, Puységur, Du Potet, Deleuze e
seus discípulos fizeram prodígios. Ainda hoje, inúmeros curadores, mais ou
menos felizes, tratam com assistência dos Espíritos. Esses simples, esses
crentes, são enigmas torturantes para a ciência médica oficial, tão impotente
em face da dor, apesar de suas orgulhosas pretensões.
1286. Charcot, esse observador genial, no fim da vida
reconheceu-lhes o poder. Numa revista inglesa publicou ele um estudo que se
tornou famoso: “The faith healing” (A fé que cura). Com efeito, a fé,
que é de si mesma uma fonte de vida, pode bastar para restituir a saúde. Os
fatos o demonstraram com eloquência irrefragável. Nos mais diversos meios,
homens de bem como o cura d'Ars, o Sr. Vigne, um protestante das Cevennas, o
padre João, de Cronstadt, outros ainda, tanto nos santuários católicos como nos
do Islã ou da Índia, obtiveram pela prece inumeráveis curas.
1287. Demonstra isso que, acima de todas as igrejas
humanas, fora de todos os ritos, de todas as fórmulas e seitas, há um foco
supremo que a alma pode atingir pelos impulsos da fé, e no qual vai ela haurir
forças, auxílios, luzes, que se não podem apreciar nem compreender desconhecendo
Deus e não querendo orar. A cura magnética não exige, na realidade, nem passes,
nem fórmulas especiais, mas unicamente o desejo ardente de aliviar a outrem, a
invocação profunda e sincera da alma a Deus, fonte e princípio de todas as
forças.
1288. Dessas considerações se depreende um fato: é que
perpetuamente, em todas as épocas, tem o mundo invisível colaborado com o mundo
dos mortais, nele transfundindo suas aspirações e socorros. Os milagres do
passado são os fenômenos do presente; só os nomes mudam; os fatos espíritas são
eternos.
1289. Assim, tudo se explica, se esclarece e se compreende.
Ante o imenso panorama do passado se inclina o pensador, empunhando o facho do
novo Espiritualismo; e essa luz, na vastidão dos séculos, a poeira dos destroços,
que a História registrou, brilha a seus olhos como auríferas centelhas.
1290. Os homens de gênio, voluntária ou involuntariamente,
conscientemente ou não, se acham em relação com o Além; dele recebem os
poderosos eflúvios; inspiradores invisíveis os assistem e colaboram em suas
obras. Acrescentarei que o gênio é uma mediunidade dolorosa. Os grandes
médiuns, como vimos, têm sido os maiores mártires. A morte de Sócrates, o
suplício de Jesus e a fogueira de Joana d'Arc são alguns desses calvários redentores
que dominam a História.
1291. Todos os grandes homens sofreram; foram, segundo uma
palavra célebre: “ilustres perseguidos”. Todo homem que se eleva, isola-se, e o
homem isolado sofre; é incompreendido.
1292. Um excelente livro a escrever seria o dos infortúnios
do gênio; nele ver-se-ia quão doloroso foi o destino de todos os Cristos deste
mundo: Orfeu, dilacerado pelas bacantes; Moisés, enterrado provavelmente vivo
no Nebo; Isaías, serrado pelo meio do corpo; Sócrates, envenenado com cicuta;
Colombo, acorrentado como malfeitor; Tasso, enclausurado entre loucos; Dante,
errando através dos exílios; Milton, pobre como Job e cego como Homero; Camões,
agonizando numa enxerga(1) de hospital; os grandes inventores: Galileu,
encarcerado pela Inquisição; Salomão de Caus, Bernardo Palissy, Jenner, Papin,
Fulton e tantos outros, reputados insensatos! Insensatez sublime, como a de
Jesus, que Herodes fez coroar de espinhos e revestir com um manto de púrpura,
em sinal de humanidade.
1293. Há nesse fato leis misteriosas, conhecidas outrora
pelos sábios, atualmente postergadas, mas que a ciência espiritualista
contemporânea deve reconstituir com paciente labor entre numerosas
contradições; porque a punição dos povos consiste em readquirir ao preço de seu
suor, de seu sangue e suas lágrimas, as verdades perdidas e as revelações
menosprezadas.
1294. Voltemos, porém, ao estudo psíquico do gênio. O gênio
é uma mediunidade, da qual possui antes de tudo o caráter essencial, que é a
intermitência. Um homem superior não o é jamais no estado habitual; o sublime a
jato contínuo faria rebentar o cérebro. Os homens de gênio têm às vezes suetos
vulgares. Alguns mesmo há que não foram inspirados mais que uma vez na vida;
escreveram uma obra imortal e em seguida repousaram.
1295. Numerosos exemplos o demonstram: a mediunidade genial
se assemelha à mediunidade de incorporação. É precedida de uma espécie de
transe, que tem sido justamente denominado “a tortura da inspiração”. A
mensagem divina não penetra impunemente o ser mortal; impõe-se-lhe de alguma
sorte pela violência. Uma espécie de febre e um frêmito sagrado se apoderam
daquele que o Espírito visita. Manifestações, transportes semelhantes aos que
agitavam a pítia(2) em sua trípode(3), anunciam a chegada do deus: Ecce
deus!
1296. Todos os grandes inspirados – poetas, oradores,
músicos, artistas – têm experimentado essa hiperexcitação sibilina(4), em
consequência da qual chegaram alguns mesmo a morrer. Rafael consumiu-se na flor
dos anos. Há jovens predestinados cujo invólucro demasiado frágil não pôde
suportar a energia das inspirações super-humanas, e que tombaram, logo ao
alvorecer do próprio gênio, como a delicada flor que o primeiro raio de sol
atira morta ao chão.
1297. A Igreja admite essa doutrina; ensina que dentre os
seus autores sagrados alguns são diretamente inspirados, como os profetas,
outros simplesmente assistidos. Essa distinção entre a inspiração e a
assistência é para nós representada pelos diferentes graus da mediunidade.
Lembremo-nos a esse respeito do que expusemos em outro lugar. A Igreja foi
espírita durante os três primeiros séculos. As Epístolas de São Paulo e os
livros dos Atos dos Apóstolos são manuais clássicos de mediunidade.
1298. A teologia escolástica(5) veio turvar a límpida fonte
das inspirações, introduzindo elementos de erro na magnífica síntese da
doutrina hierática(6) das primeiras épocas cristãs. A obra chamada o
“Areopagita” é inteiramente impregnada de Espiritismo. Na vida dos santos
ressuma exuberante a seiva mediúnica de que foi saturada a primitiva Igreja
pelo Cristo e seus apóstolos.
1299. Os conselhos de São Paulo aos Coríntios são
recomendações de um diretor de grupo aos seus iniciados. Tomás de Aquino afirma
ter comentado essas epístolas sob o próprio ditado do apóstolo; ele conversava
com uma personagem invisível; à noite sua cela era inundada por uma luz
estranha e seu discípulo Reginaldo, três dias depois de morto, lhe veio dizer o
que vira no Céu. Alberto, o Cirande, hauria sua incomparável ciência da
Natureza por meio de infusão(7) mediúnica, ciência que lhe foi retirada
subitamente, do mesmo modo que lhe havia sido transmitida; e na idade de
quarenta anos tornou-se ele novamente ignorante como uma criança.
1300. Joaquim de Flora e João de Parma, seus discípulos,
foram instruídos por meio de visões e escreveram, sob o ditado de um Espírito,
“O Evangelho Eterno”, que contém, em gérmen, toda a revelação do futuro. Os
“litterati” da Renascença, Marsilio Ficino, de Florença; Pico de Mirandola,
Jerônimo Cardan, Paracelso, Pomponácio e o insigne Savonarola imergiram na
mediunidade como num oceano espiritual.
1301. O século XVII teve também seus gloriosos inspirados.
Pascal tinha êxtase; Malebranche escreveu, na obscuridade de uma cela fechada,
sua “Pesquisa da Verdade”. O próprio Descartes refere que o seu sistema genial
da “Dúvida Metódica” lhe foi revelado por súbita intuição que lhe atravessou o
pensamento com a rapidez de um raio.
Ora, à filosofia cartesiana(8), assim oriunda de uma espécie de
revelação mediúnica, é que devemos a emancipação do pensamento moderno, a
libertação do espírito humano, encarcerado havia séculos na fortaleza
escolástica, verdadeira bastilha(9) do despotismo aristotélico e monástico(10).
1302. Esses grandes iluminados do século XVII foram os
precursores de Mesmer, de Saint-Martin, de Swedenborg, da escola san-simoneana
e de todos os apóstolos da doutrina humanitária, precedendo Allan Kardec e a
atual escola espiritualista, cujos inúmeros luzeiros se vão acendendo em todos
os pontos do Universo.
1303. Assim, o fenômeno da mediunidade se patenteia em
todas as épocas, ora fulgurando com intenso brilho, ora velado e obscurecido,
conforme o estado de alma dos povos, jamais cessando de encaminhar a Humanidade
em sua peregrinação terrestre. Todas as grandes obras são filhas do Além. Tudo
o que há revolucionado o mundo do pensamento, aduzindo um progresso
intelectual, nasceu de um sopro inspirador.
1304. Na hierarquia das inteligências existe uma
solidariedade magnífica. Uns aos outros se têm os grandes inspirados
transmitido, através do longo rosário dos séculos, o farol da mediunidade
reveladora e gloriosa. A Humanidade ainda caminha à frouxa luz crepuscular
dessas revelações, à claridade desses fogos acesos, nas eminências da História,
secundada por predestinados instrutores.
1305. Essa perspectiva da história geral é consoladora e
grandiosa; reveste as modalidades e o caráter de um drama sacrossanto. Deus
envia seu pensamento ao mundo por emissários que incessantemente descem os
degraus da escada dos seres e vão levar aos homens a comunicação divina, como
os astros enviam à Terra, através das profundezas, suas irradiações sutis.
Assim tudo se liga no plano universal. As esferas superiores promovem a
educação dos mundos inferiores. Os Espíritos celestes se fazem instrutores das
Humanidades atrasadas. A ascensão dos mundos de prova para os de regeneração é
o mais belo espetáculo que pode ser oferecido à admiração do pensador.
1306. Desde as mais elevadas e brilhantes esferas às
regiões mais baixas e obscuras, desde os mais radiosos Espíritos aos homens
mais grosseiros, o pensamento divino se projeta em catadupas(11) de luz, numa
efusão de amor. Com essa doutrina ou, antes, mediante essa visão de
solidariedade intelectual dos seres, compreendemos quanto somos devedores aos
nossos antepassados espirituais, aos gloriosos médiuns, que, com o labor
penosíssimo do gênio, semearam o que fruímos hoje, e que outros hão de melhor
colher ainda no futuro. Esses pensamentos nos devem inspirar uma piedade
reconhecida aos mortos augustos que implantaram o progresso em nosso mundo.
1307. Vivemos numa época de perturbação em que já quase se
não sentem estas coisas. Pouquíssimos entre os nossos contemporâneos se elevam
a essas culminâncias, donde, como de um promontório, se descortina o vasto
oceano das idades, o cadenciado fluxo e refluxo dos sucessos. A Igreja,
transformada em sociedade política, não soube aplicar às necessidades morais da
Humanidade essas verdades profundas e essas leis do Invisível. Os sacerdotes
são impotentes para nos encaminhar, porque eles próprios esqueceram os termos
sagrados da sabedoria antiga e o segredo dos “mistérios”. A ciência moderna se
engolfou até agora no materialismo e no positivismo experimental. A
Universidade não sabe ministrar, pela palavra dos mestres, o ensino regenerador
que retempera as almas e as prepara para as grandes lutas da existência. Até as
sociedades secretas perderam também o sentido das tradições que justificavam
seu funcionamento; praticam ainda os ritos, mas a alma que as vivificava
emigrou para outros céus.
1308. É tempo de que um novo influxo percorra o mundo e
restitua a vida a essas formas gastas, a esses debilitados envoltórios. Só a
Ciência e a revelação dos Espíritos podem dar à Humanidade a exata noção de
seus destinos. Um imenso trabalho em tal sentido se realiza atualmente; uma
obra considerável se elabora.
1309. O estudo aprofundado e constante do mundo invisível,
que o é também das causas, será o grande manancial, o reservatório inesgotável
em que se hão de alimentar o pensamento e a vida. A mediunidade é a sua chave.
Por esse estudo chegará o homem à verdadeira ciência e à verdadeira crença que
se não excluem mutuamente, mas que se unem para fecundar-se; por ele também uma
comunhão mais íntima se estabelecerá entre os vivos e os mortos, e socorros
mais abundantes fluirão dos Espaços até nós.
1310. O homem de amanhã saberá compreender e abençoar a
vida; cessará de recear a morte. Há de, por seus esforços, realizar na Terra o
reino de Deus, isto é, da paz e da justiça, e, chegado ao termo da viagem, sua
derradeira noite será luminosa e calma como o ocaso das constelações, à hora em
que os primeiros albores matinais se espraiam no horizonte.
Glossário:
1)
Enxerga – Colchão rústico; cama pobre; catre. [Lê-se enxêrga.]
2)
Pítia – Sacerdotisa de Apolo, a qual pronunciava oráculos em Delfos (Grécia
antiga); pitonisa.
3)
Trípode – Que tem três pés. S. f.
Tripeça em que a pitonisa proferia os seus oráculos. Vaso antigo, de três pés.
Poét. V. tripeça: banco de três pés;
tripé, trípoda, trípode.
4)
Sibilina – Enigmática, de difícil compreensão.
5)
Escolástica – Doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos
sécs. IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo problema da relação entre a fé
e a razão, problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico,
representado pela filosofia greco-romana, da teologia cristã. Desenvolveram-se
na escolástica inúmeros sistemas que se definem, do ponto de vista estritamente
filosófico, pela posição adotada quanto ao problema dos universais, dos quais
se destacam os sistemas de Santo Anselmo, de São Tomás e de Guilherme de Ockham.
[Sin. ger.: escolasticismo.]
6)
Hierática – Referente às coisas sagradas. Art. Plást. Diz-se das formas em geral rígidas e
majestosas impostas por certas tradições sacras.
7)
Infusão – V. infuso: Diz-se dos conhecimentos ou virtudes que alguém tem de
natureza, sem haver trabalhado para adquiri-los.
8)
Cartesiana – [Do antr. (René) Descartes (1596-1650), filósofo francês, +
-iano.] Adj. Hist. Filos. Pertencente ou relativo a Descartes ou ao
cartesianismo (q. v.). Hist. Filos. Diz-se da maneira de considerar um fenômeno
ou um conceito, isolando-os da totalidade em que aparecem. Filos.
Afeito a ideias claras e procedimentos rigorosos. Que é partidária do
cartesianismo.
9)
Bastilha – Fortaleza.
10)
Monástico – [Do gr. monastikós, 'relativo à vida solitária', pelo lat.
monastichu.] Adj. V. monacal. Monacal –
Adj. 2 g. Relativo a, ou próprio de monge ou monja, ou da vida conventual.
[Sin.: monástico, mongil e (p. us.) monjal.]
11)
Catadupa – Queda de grande porção de água corrente; queda-d'água; salto. P. ext. Jorro, derramamento. [Em catadupas: Em grande
quantidade.]
Respostas às
questões preliminares
A. Que condições são importantes no
desenvolvimento do poder de curar pela imposição das mãos?
O espírito de caridade, a
dedicação levada até ao sacrifício e o esquecimento de si mesmo são as
condições necessárias para adquirir e conservar esse poder, um dos mais admiráveis
que Deus concede ao homem, que é uma das formas pela qual a ação espiritual se
faz sentir no mundo. Certos homens, por meio da prece
e do esforço magnético, atraem esse influxo, essa irradiação da força divina
que expele os fluidos impuros, causa de tantos sofrimentos, promovendo assim a
cura que a tantos tem beneficiado. (No Invisível, 3ª Parte. XXVI - A
mediunidade gloriosa.)
B. Que Léon Denis quer dizer com a expressão “mediunidade
genial”?
Mediunidade genial é a faculdade de que, segundo ele, são dotados os
homens de gênio e sua característica principal é a intermitência, tanto que
alguns deles não foram inspirados mais que uma vez na vida: escreveram uma obra
imortal e em seguida repousaram. A mediunidade genial se assemelha à
mediunidade de incorporação. É precedida de uma espécie de transe, que tem sido
justamente denominado “a tortura da inspiração”. A mensagem divina não penetra
impunemente o ser mortal; impõe-se-lhe de alguma sorte pela violência. Uma
espécie de febre e um frêmito sagrado se apoderam daquele que o Espírito
visita. Manifestações, transportes semelhantes aos que agitavam a pítia(2) em
sua trípode(3), anunciam a chegada do deus: Ecce deus! (Obra citada, 3ª
Parte. XXVI - A mediunidade gloriosa.)
C. Podemos afirmar que a Igreja foi espírita durante os
três primeiros séculos?
Segundo Léon Denis, sim. As epístolas de São Paulo e os livros dos Atos
dos Apóstolos são manuais clássicos de mediunidade. A teologia escolástica(5)
veio, porém, turvar a límpida fonte das inspirações, introduzindo elementos de
erro na magnífica síntese da doutrina hierática(6) das primeiras épocas
cristãs. A obra chamada o “Areopagita” é inteiramente impregnada de
Espiritismo. Na vida dos santos ressuma exuberante a seiva mediúnica de que foi
saturada a primitiva Igreja pelo Cristo e seus apóstolos. Os conselhos de São
Paulo aos Coríntios são recomendações de um diretor de grupo aos seus
iniciados. Tomás de Aquino afirma ter comentado essas epístolas sob o próprio
ditado do apóstolo; ele conversava com uma personagem invisível; à noite sua
cela era inundada por uma luz estranha e seu discípulo Reginaldo, três dias
depois de morto, lhe veio dizer o que vira no Céu. (Obra citada, 3ª Parte. XXVI
- A mediunidade gloriosa.)
Observação:
Para acessar a Parte 49 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/12/no-invisivel-leon-denis-parte-49-damos.html
Como consultar as matérias deste
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