Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 22
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Os
Espíritos podem, por meio da mediunidade, servir utilmente às especulações e
aos interesses subalternos?
B. Quem
pode ser considerado verdadeiro defensor do Espiritismo?
C. Em que
se apoia e se fundamenta o Espiritismo?
Texto
para leitura
258. Um
certo médico de Zittau, de nome Berthelen, autor de um opúsculo sobre as mesas
girantes, organizou uma sociedade intitulada “Associação dos achadores de
tesouros”, cujo objetivo era cavar o solo das cidades onde se presumia
existissem tesouros enterrados. Uma sonâmbula, Sra. Louise Ebermann, conduzia
as operações da empresa. (P. 316)
259.
Julgando com essa notícia lançar o descrédito sobre o Espiritismo, os jornais
franceses e estrangeiros se deliciaram com o fato. O resultado foi-lhes, porém,
adverso, porquanto a repercussão do episódio acabou levando ao aumento do
número dos adeptos sérios, os únicos que contam entre os espíritas. (P. 316)
260. A
razão disso é simples: aquele que toma contacto com a doutrina espírita aprende
desde logo, pela leitura das obras espíritas, que os Espíritos não podem
favorecer nenhuma pesquisa dessa natureza. E percebe então que o noticiário é
capcioso e falta com a verdade, o que, longe de ser um mal, torna-se um bem
para a própria doutrina. (P. 317)
261.
Quando se soube que os Espíritos podiam comunicar-se - lembra Kardec -, um
primeiro pensamento, aliás muito natural, foi que eles pudessem servir
utilmente às especulações de toda ordem. Não tardou, porém, a se reconhecer
que, nesse ponto, só se obtinham mistificações. Assim, não existe hoje um só
espírita esclarecido que perca tempo em perseguir tais quimeras, pois todos
sabem que Deus não dá aos homens semelhantes meios de enriquecimento e, por
esta razão, não permite aos Espíritos revelações desse gênero. (P. 317)
262. Em
Antuérpia, visitando uma exposição de pintura, Kardec teve sua atenção atraída
para um quadro intitulado: Cena de interior de camponeses espíritas, que
retratava num interior de fazenda três pessoas em costume flamengo sentadas em
volta de um enorme cepo, sobre o qual tinham eles as mãos postas. Se
excetuarmos o quadro mediúnico exposto em Constantinopla (mencionado na Revista
de julho de 1863), era, segundo Kardec, a primeira vez que o Espiritismo
figurava tão claramente confessado nas obras de arte. “É um começo”, observa o
Codificador. (P. 318)
263.
Falando aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia, Kardec disse que entre os
verdadeiros defensores do Espiritismo deveriam colocar-se na primeira linha
todos os que militam pela causa com coragem, perseverança, abnegação e
desinteresse, sem segunda intenção pessoal, que buscam o triunfo da doutrina
pela doutrina e que, por seus exemplos, provam que a moral espírita não é
palavra vã e se esforçam por justificar esta notável afirmação de um incrédulo:
“Com uma tal doutrina, não se pode ser espírita sem ser homem de bem”. (P. 320)
264. O
Espiritismo tem sido mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos
que não o compreendem absolutamente e, mesmo, por seus inimigos declarados. E o
curioso - segundo Kardec - é que os que o compreendem mal geralmente têm a
pretensão de compreendê-lo melhor que os outros. (P. 321)
265. Para
remediar esses inconvenientes, ou seja, para prevenir as consequências da
ignorância e das falsas interpretações, é preciso cuidar da divulgação das
ideias justas, em formar adeptos esclarecidos, cujo número crescente
neutralizará a influência das ideias erradas. (P. 321)
266. Um
fato capital, que deve ser proclamado bem alto: o Espiritismo não é uma
concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema
inventado. Tem sua fonte nos fatos da natureza, em fatos positivos, que se
produzem aos nossos olhos e a cada instante. É, pois, resultado da observação,
numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre os mundos visível e
invisível. (PP. 322 e 323)
267. O Espiritismo nada inventou, porque não se
inventa o que está na natureza. Newton não inventou a lei da gravitação; esta
lei existia antes dele, embora ninguém a conhecesse. Por sua vez, o Espiritismo
vem mostrar uma nova lei, uma nova força da natureza: a que reside na ação do
Espírito sobre a matéria, lei tão universal quanto a da gravitação e da
eletricidade. Mas não procedeu por via de hipóteses, como o acusam, e não supôs
a existência do mundo espiritual para explicar os fenômenos que tinha sob as
vistas. (P. 323)
268. O
Espiritismo procedeu pela via da análise e da observação; dos fatos remontou à
causa, e o elemento espiritual se apresentou como força ativa, que ele só
proclamou depois de o haver constatado. (P. 323)
269. A
ação do elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à ciência e lhe dá a
chave de uma porção de problemas incompreendidos. Mas, se a descoberta de leis
puramente materiais produziu no mundo revoluções materiais, a do elemento
espiritual nele prepara uma revolução moral, porque muda totalmente o curso das
ideias e das crenças mais arraigadas e mostra a vida sob um outro aspecto,
matando a superstição e o fanatismo e dando ao homem um objetivo para o seu
trabalho e os seus esforços. (PP. 323 e 324)
Respostas
às questões propostas
A. Os
Espíritos podem, por meio da mediunidade, servir utilmente às especulações e
aos interesses subalternos?
Não.
Quando se soube que os Espíritos podiam comunicar-se - lembra Kardec -, um
primeiro pensamento, aliás muito natural, foi que eles pudessem servir
utilmente às especulações de toda ordem. Não tardou, porém, a se reconhecer
que, nesse ponto, só se obtinham mistificações. Assim, não existe hoje um só
espírita esclarecido que perca tempo em perseguir tais quimeras, pois todos
sabem que Deus não dá aos homens semelhantes meios de enriquecimento e, por
esta razão, não permite aos Espíritos revelações desse gênero. (Revista
Espírita de 1864, pág. 317.)
B. Quem
pode ser considerado verdadeiro defensor do Espiritismo?
Segundo
Kardec, entre os verdadeiros defensores do Espiritismo deveriam colocar-se na
primeira linha todos os que militam pela causa com coragem, perseverança,
abnegação e desinteresse, sem segunda intenção pessoal; os que buscam o triunfo
da doutrina pela doutrina, e os que provam, por seus exemplos, que a moral
espírita não é palavra vã. (Obra citada, pág. 320.)
C. Em que se apoia e se fundamenta o Espiritismo?
O Espiritismo tem sua fonte nos fatos da
natureza, em fatos positivos, que se produzem aos nossos olhos e a cada
instante. É, pois, resultado da observação, numa palavra, uma ciência: a
ciência das relações entre os mundos visível e invisível. Ele nada inventou,
porque não se inventa o que está na natureza. Newton não inventou a lei da
gravitação; esta lei existia antes dele, embora ninguém a conhecesse. O
Espiritismo vem, por sua vez, mostrar uma nova lei, uma nova força da natureza:
a que reside na ação do Espírito sobre a matéria, lei tão universal quanto a da
gravitação e da eletricidade. Mas não procedeu por via de
hipóteses, como o acusam, e não supôs a existência do mundo espiritual para
explicar os fenômenos que tinha sob as vistas. Ele procedeu pela via da análise
e da observação; dos fatos remontou à causa, e o elemento espiritual se
apresentou como força ativa, que ele só proclamou depois de o haver constatado.
(Obra citada, pp. 322 e 323.)
Observação:
Para acessar a Parte 21
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_0119366666.html
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