JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Nessa noite, o Agricultor
teve o sonho mais lindo de toda a sua vida. Viu-se no segundo andar de um
shopping e dirigindo-se a um balcão para solicitar um documento importante.
Havia, porém, uma razoável fila com outros postulantes a documento semelhante,
e nosso amigo dirigia-se para o final da fila, quando ouviu a moça do
atendimento chamá-lo: — Sr. Agricultor, Sr. Agricultor!
Ainda sem entender
bem o motivo de ser convidado a fura-fila, meu amigo foi conferir se o
chamado era ele mesmo. Aproximou-se da moça do balcão de atendimento, sem que
ninguém reclamasse de seu gesto, e viu um papel na mão dela com um bilhete de
juiz com a ordem de entregar, prioritariamente, a nosso amigo algumas cópias do
documento. Quando recebeu as cópias, ainda foi informado de que o documento
original lhe seria entregue no prazo de dez dias.
O Agricultor,
tratado como amigo do juiz, observou, ao se afastar, que as folhas recebidas
cortavam um pedaço da informação, mas considerou isso desprezível em relação ao
conteúdo, que já conhecia. Ao se afastar, foi recebido pelo magistrado, que
estava mais adiante, com um abraço e a despedida de até breve.
Enquanto caminhava
para descer ao andar abaixo, nosso amigo viu todo o piso de cima aplaudi-lo.
Com naturalidade, ele também bateu palmas, até alcançar, pela escada, o andar
inferior. Para sua surpresa, também todas as pessoas que ali estavam
aplaudiam-no freneticamente, ao que ele também correspondeu.
Despertou, por
momentos, antes de adormecer novamente e entrar noutros sonhos, e pensou: —
Este sonho eu não posso esquecer. E, de fato, ao acordar no raiar do dia, após
ter sonhado novamente, o sonho anterior manteve-se vivo em sua memória.
Antes de levantar-se
da cama, outra lembrança aflorou-lhe à mente. E se eu propusesse ao meu amigo
diretor submeter meu livro aos demais diretores, além de seu conselho
consultivo, mas não como obra pessoal, e sim como um trabalho da equipe da
casa? Como não gosta de perder tempo, entrou em contato com o diretor e reiterou-lhe
sua proposta para que, no tempo certo, fosse tomada uma decisão sobre o
importante livro, cuja autoria, se aprovada constará como: Equipe da Casa X.
Como somos muito
amigos, encontrei o Agricultor em conhecida livraria e dele ouvi esta
linda história que agora lhe repasso, alma querida. Quem sabe os dez dias
sonhados para o recebimento do documento original não significam dez meses, ou
dez anos que terá de aguardar até que a obra proposta à editora, citada no
início desta crônica, seja editada? De uma coisa, ele disse-me que tem certeza:
um dia a obra ainda será publicada. Então não mais para satisfazer à sua
vaidade, mas a um trabalho em equipe, que simbolicamente pode significar
os pedaços cortados nas cópias recebidas durante seu sonho.
Paz e luz!
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