Na
vida dos animais, como entre nós, há atos instintivos e atos inteligentes
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Focalizando especificamente o caso dos
animais, os exemplos da utilização de atos inteligentes são inúmeros, como
adiante veremos.
Darwin, por exemplo, observou que nos
cães domésticos encontramos o ladrido da impaciência, o da cólera, o grunhido
ou uivo desesperado do prisioneiro, o da alegria quando vai a passeio e,
finalmente, o da súplica.
Andorinhas costumam deliberar antes de
tomar um roteiro.
Buffon diz que certas aves reproduzem em
sua vida cotidiana o que costuma ocorrer nos lares humanos honestos. Observam a
castidade conjugal, cuidam dos filhos e o casal mostra-se valoroso até o
sacrifício quando se trata de defender a prole. Quem ignora o zelo da galinha
na defesa dos pintainhos? O lobo, o gato selvagem, o tigre, embora ferozes, têm
por suas crias o mais terno afeto.
Darwin, Brahm e Leuret mencionam a
respeito disso exemplos curiosos.
Segundo Leuret, determinado macaco, cuja
fêmea morrera, cuidava solícito do filhote esquálido e enfermo. De noite, ele o
tomava ao colo para adormecê-lo e durante o dia não o perdia de vista um só
instante.
Uma bugia (gênero de macacos de cabeça
semelhante à do cão), notável por sua acuidade, chegava a furtar e adotar
cachorros e gatos pequenos, que lhe faziam companhia. Certa vez, um gatinho
adotado arranhou-a. Admirada com o fato, ela examinou-lhe as patas e, de
imediato, com os dentes, aparou-lhe as garras.
Ball menciona o caso de um cão de fila
salvo em um lago congelado por um terra-nova, espécie de cão muito corpulento,
originário da Terra Nova, o qual, notando o desespero do cão em perigo, decidiu
ajudá-lo.
Segundo Darwin, havia em Utah um velho
pelicano completamente cego e também muito gordo, que devia seu bem-estar ao
tratamento e assistência dos companheiros.
Burton refere o caso curioso de um
papagaio que tomara a seu cargo uma ave de outra espécie, raquítica e
estropiada, e a defendia de outros papagaios soltos no jardim.
Gratiolet relata o caso de um cavalo do
antigo regimento de Beauvilliers, o qual, devido à idade, não mais podia
mastigar o feno e a aveia. Dois outros animais passaram, então, a cuidar dele,
retirando o feno da manjedoura e pondo-o à sua frente, depois de mastigado,
procedimento que repetiam com a aveia, depois de bem triturada.
As aves jardineiras da Nova Guiné,
pássaros da família das paradíseas, não se contentam com um simples ninho, pois
constroem, fora da moradia ordinária, verdadeiras casas de recreio, que se
tornam atestados de bom gosto. Há cabanas que atingem dimensões consideráveis.
Há uma espécie que constrói sua casinha
colorida de frutos e conchinhas e outras, como a Amblyornis inornata,
que cercam suas casas de um jardinzinho artificial, feito com musgo disposto em
tabuleiros e decorado com flores constantemente renovadas, bem como frutos de
matizes fortes, seixos e conchas brilhantes.
Com tantos exemplos, vê-se que os atos
inteligentes são comuns na vida dos seres que chamamos, indevidamente, de
irracionais, os quais, como é fácil perceber, indicam que eles também se
encontram submetidos a um processo evolutivo que é inerente à criação e ao qual
não podemos deixar de dar a nossa contribuição.
Quanto
à inteligência dos animais, se é maior ou menor conforme a espécie, a única
informação que conhecemos vinda do mundo espiritual pode ser vista no livro Evolução
em Dois Mundos (2ª parte, cap. 18), em que André Luiz, autor da obra, diz
que há ideias-fragmentos de determinado sentido mais avançadas em certos animais
que em outros. E, na sequência, designa o cão e o macaco, o gato e o elefante,
o muar e o cavalo como os seres do reino animal “mais amplamente dotados de
riqueza mental, como introdução ao pensamento contínuo”.
Entendemos
que nessa lista é bem provável que outras espécies poderiam ser perfeitamente incluídas;
no entanto, o principal é entendermos que o acesso à evolução está aberto a
todos os seres e disso ninguém se encontra excluído.
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