Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 1
Iniciamos nesta edição o estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. De que trata o livro Comunicações mediúnicas entre vivos,
cujo estudo ora iniciamos?
B. Quando surgiu a Parapsicologia e que contribuição ela, logo de
início, nos ofereceu?
C. Como Bozzano conceitua fenômenos mediúnicos?
Texto para
leitura
Um estudo de Psicologia integral
1. Os estudos da Psicologia introspectiva do passado
limitavam-se ao campo subjetivo. Os estudos da Psicologia experimental moderna
perderam-se no campo sensorial. O desenvolvimento da Psicologia profunda abriu
a possibilidade de uma síntese, que a atual Parapsicologia tenta realizar. Mas
essa síntese já existe e seu ponto modal é o médium ou sujeito paranormal, em
cujo psiquismo se fundem as manifestações anímicas e espirituais. É o que o
eminente pesquisador italiano professor Ernesto Bozzano demonstra neste volume,
dando uma resposta antecipada e definitiva a todas as questões de tipo
bizantino hoje levantadas nesse terreno. (Comunicações mediúnicas entre
vivos, prefácio de J. Herculano Pires.)
2. À maneira do que se fez no século passado e nos princípios
do atual, investigadores sistemáticos ou sectários, uns e outros apegados de
forma anticientífica a preconceitos culturais ou religiosos, procuram sustentar
a natureza puramente anímica dos fenômenos paranormais. Chegam a elaborar
hipóteses de tipo teatral, como a de Tyrell sobre as aparições ou a de Sudre
sobre as variações de personalidade do sensitivo, com a desesperada finalidade
de afastar do campo das pesquisas a evidência da natureza psicológica dos
fenômenos. (Obra citada, prefácio de J. Herculano Pires.)
3. Bozzano refutou, com lógica insuperável, em vários
trabalhos, mas particularmente neste volume e em seu monumental Animismo ou
Espiritismo? (resultado de quarenta anos de observações e estudos) essas
hipóteses inviáveis. (Prefácio de J. Herculano Pires.)
4. Charles Richet, prêmio Nobel de Fisiologia em 1913,
faleceu em 1935. Com sua morte a Metapsíquica foi praticamente posta de lado
pelos cientistas. Mas cinco anos depois já os profs. William McDougal e Joseph
Banks Rhine davam impulso à Parapsicologia, demonstrando que a clarividência
(1940) estava provada em rigorosas pesquisas de laboratório. (Prefácio de J.
Herculano Pires.)
5. Grande número de parapsicólogos, hoje, com Rhine à
frente, sustentam a tese de Bozzano de que esses fenômenos provam a existência
no homem de algo que não se reduz ao físico. As teorias sensoriais foram
novamente golpeadas pela evidência da percepção extrassensorial. Apesar disso,
o velho Sudre voltou à liça para sustentar sua posição superada e
parapsicólogos como Robert Amadou, Robert Tocquet e alguns clérigos desprovidos
de senso crítico empenharam-se numa campanha mundial de difamação de
pesquisadores e médiuns do passado, julgando o que não viram. (Prefácio de J.
Herculano Pires.)
6. Neste volume, Bozzano apresenta um dos seus estudos mais
lúcidos e mais pertinentes (na atualidade) sobre a natureza dos chamados
fenômenos psi. Tratando das comunicações mediúnicas entre vivos, demonstra que
o psiquismo independente da criatura humana é o mesmo e age da mesma maneira
nos fenômenos anímicos (ou mentais, como são hoje classificados) e nos
fenômenos espíritas. Vai além, demonstrando que a simples admissão do
extrassensorial prova que o psiquismo humano não pode ser reduzido às funções
orgânicas. Se podemos ter percepções e comunicar-nos sem o intermediário
habitual dos sentidos físicos é porque não somos somente materiais. (Prefácio
de J. Herculano Pires.)
7. Bozzano, cujo espírito científico é inegável e dos mais
penetrantes, mostra-nos o argumento irrefutável dos fatos, em que sempre se
apoiou. Não se trata, pois, de um simples debate em torno de hipóteses a favor
e contra. O que temos neste livro é uma exposição de fatos, e o que somente os
cegos não veem, de fatos que se repetem incessantemente por toda parte e em todos
os tempos. Assim, o lançamento da primeira tradução deste livro em português é
uma contribuição valiosa e necessária ao desenvolvimento atual dos estudos da
fenomenologia paranormal, particularmente no Brasil, que vem sofrendo o impacto
de campanhas sistemáticas e interesseiras de desmoralização desse importante
campo da investigação científica. (Prefácio de J. Herculano Pires.)
8. Muitas inteligências capazes ainda se acomodam no
pressuposto ingênuo de que este é um problema de interpretação. Mas a realidade
é bem outra. As interpretações constituem apenas a fumaça de camuflagem lançada
pelos que não querem aceitar a evidência dos fatos, seja por uma questão de
atitude (o que é anticientífico) ou de posição dogmática, materialista ou
religiosa (o que é hoje culturalmente inaceitável). O problema que este livro
coloca é de Ciência e por isso mesmo os dados que apresenta são objetivos.
(Prefácio de J. Herculano Pires.)
9. A Psicologia integral que a Parapsicologia atual procura
atingir é uma exigência do desenvolvimento científico dos nossos dias. Essa
Psicologia integral é necessária para o verdadeiro conhecimento do homem, e
mais do que isso, para a compreensão da própria natureza cósmica, da qual o
homem é parte integrante. Tolos não são os que sustentam o que viram, mas os
que negam o que não viram. Mais tolos ainda quando teimam em não ver para não
terem de refundir a precariedade de seus conhecimentos. Este livro é,
sobretudo, um exemplo: o grande exemplo de um positivista que, à maneira de
Lombroso, do próprio Richet e atualmente de Rhine, Soal, Price e Pratt, foi
capaz de reexaminar os seus conceitos apriorísticos e reajustar sua posição
científica à realidade dos fatos. (Prefácio de J. Herculano Pires.)
Introdução à obra
10. Designa-se por fenômenos mediúnicos um conjunto de
manifestações, tanto físicas como inteligentes, que se produzem com o auxílio
de forças ou faculdades subtraídas temporariamente de um médium – algumas vezes
também, em pequena escala, dos assistentes –, por vontade que independe do
médium e dos assistentes. Tal vontade pode ser a de um morto ou a de um vivo. (Obra
citada, Introdução ao livro, por Ernesto Bozzano.)
11. Quando a vontade de um vivo é que se apresenta, só o
pode fazer através dos mesmos processos espirituais exercidos por um morto:
faculdades subconscientes e supranormais para um vivo, conscientes e normais
para um morto. Resulta daí que as duas classes de manifestações são idênticas
por natureza, com a distinção puramente formal de que, quando se verificam por
obra de um vivo, tomam o nome de fenômenos anímicos e quando por obra de um
morto, denominam-se fenômenos espíritas. É claro, pois, que as duas classes de
manifestações são uma o complemento necessário da outra, e isto de tal sorte,
que o Espiritismo ficaria sem base se não existisse o Animismo. (Introdução ao
livro, por Ernesto Bozzano.)
12. As manifestações anímicas de ordem inteligente
raramente se verificam sob forma mediúnica, pois, via de regra, exercitam-se em
forma direta e, segundo os casos, tomam o nome de manifestações telepáticas, de
fenômenos de bilocação, de clarividência no passado, no presente e no futuro.(1)
De qualquer modo não me ocuparei de tais modalidades de manifestações anímicas,
limitando-me a analisar, comparar e classificar os casos de comunicações entre
vivos, por via mediúnica. (Introdução ao livro, por Ernesto Bozzano.)
13. De tais manifestações especiais já se ocuparam diversos
eminentes cultores das pesquisas metapsíquicas, e Alexandre Aksakof tratou
muito amplamente do assunto na sua obra Animismo e Espiritismo; todavia,
os meus antecessores não tiveram a intenção de tratar dos fatos de modo
particular, e não os classificaram, o que me proponho fazer no presente
trabalho, limitando-me à especialização de poucos exemplos típicos para cada
categoria, pois que a messe dos casos escolhidos é exuberante. (Introdução ao
livro, por Ernesto Bozzano.)
14. Advirto, também, que a classificação dos casos em exame
apresenta a dificuldade de neles se encontrarem, muitas vezes, incidentes de
diversas categorias, por isso me cinjo ao critério de classificá-los levando em
consideração a característica mais relevante de cada um. (Introdução ao livro,
por Ernesto Bozzano.)
Mensagens experimentais no mesmo aposento
15. Os exemplos compreendidos na presente categoria só
representam um grupo de episódios pertencentes à classe dos fenômenos de
transmissão e leitura do pensamento, mas lembremos que aqui são relatados
naquilo em que diferem dos episódios comuns pela circunstância de a
transferência e a leitura do pensamento se realizarem mediunicamente, ou seja,
com auxílio da escrita automática, dos movimentos de uma mesa ou ainda de
pancadas na madeira de algum móvel, e assim por diante. (1ª Categoria:
Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
16. Para este grupo de fatos o caso clássico por excelência
é ainda o do Rev. Newnham, publicado originalmente no vol. III dos Proceedings
of the Society for Psychical Research (págs. 3-23), posteriormente narrado
por Myers em sua mais importante obra. (2) Sendo ele mais amplamente
citado em várias outras obras metapsíquicas, abstenho-me de repeti-lo aqui,
limitando-me a recordar que o Rev. Newnham fazia experiências com a própria
esposa, sentado na mesma sala, a oito pés de distância da mesma, de costas
voltadas um para o outro. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo
aposento.)
17. Escrevia ele as perguntas que desejava transmitir
mentalmente à sensitiva e esta apoiava a mão sobre a prancheta e as respondia
imediatamente, antes mesmo que o experimentador tivesse tempo de escrevê-las.
As respostas eram sempre correspondentes às perguntas e se referiam, na maior
parte dos casos, a coisas ou assuntos desconhecidos dela, mas conhecidos do experimentador,
salvo uma vez em que a resposta se referiu a uma informação ignorada também
pelo experimentador, mas, em tal caso, era conhecida de outra pessoa presente,
a qual escrevera a pergunta e fizera o Rev. Newnham lê-la. (1ª Categoria:
Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
18. Um ensino importante a extrair-se das experiências em
questão consiste na circunstância de que, quando o experimentador se mostrava
muito exigente, insistindo em perguntas demasiadamente complexas para a
capacidade de percepção subconsciente da sensitiva, as respostas recebidas,
conquanto em perfeito acordo com as perguntas, eram inventadas do princípio ao
fim. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
19. Assim, por
exemplo, tendo o Rev. Newnham, que pertencia à Maçonaria, pedido à sensitiva
para transcrever-lhe a prece maçônica em uso para a promoção ao grau de Mestre,
a prancheta escreveu instantaneamente, com vertiginosa rapidez, longa prece em
tal sentido na qual havia reminiscências maçônicas, mas que, no todo, era uma
invenção fantástica. Ora, tais espécies de mistificação em experiências de
transmissão do pensamento, por algum processo mediúnico, são muito
interessantes, devido a uma analogia que apresentam com as correspondentes
interferências mistificadoras, que frequentemente se obtêm nas comunicações
mediúnicas genuinamente espíritas. Dir-se-ia que as excessivas insistências de
parte do indagador, tendo por efeito determinar nas personalidades mediúnicas
uma tensão excessiva da vontade, com relativa dispersão do fluido mediúnico e
consecutivo enfraquecimento do “controle psíquico”, abrem caminho ao extrato
onírico subconsciente, o qual, emergindo, continua a seu modo a comunicação em
curso, determinando uma ação de sonho. (1ª Categoria: Mensagens experimentais
no mesmo aposento.) (Continua na próxima edição.)
Notas:
(1) Na atual
Parapsicologia esses casos de clarividência no passado, no presente e no
futuro, já cientificamente comprovados, tomam respectivamente a designação
técnica de retrocognição, cognição e precognição.
(2) A
Personalidade Humana, de Fredrich Myers.
Respostas às
questões preliminares
A. De que trata o livro Comunicações
mediúnicas entre vivos, cujo estudo ora iniciamos?
Ernesto Bozzano apresenta nesta obra um dos seus estudos
mais lúcidos e mais pertinentes sobre a natureza dos chamados fenômenos psi.
Tratando das comunicações mediúnicas entre vivos, demonstra que o psiquismo
independente da criatura humana é o mesmo e age da mesma maneira nos fenômenos
anímicos (ou mentais, como são hoje classificados) e nos fenômenos espíritas.
Vai além, demonstrando que a simples admissão do extrassensorial prova que o
psiquismo humano não pode ser reduzido às funções orgânicas. Se podemos ter
percepções e comunicar-nos sem o intermediário habitual dos sentidos físicos é
porque não somos somente materiais. (Comunicações mediúnicas entre vivos,
prefácio de J. Herculano Pires.)
B. Quando surgiu a Parapsicologia e que contribuição ela,
logo de início, nos ofereceu?
Com a morte de Charles Richet em 1935, a Metapsíquica, por
ele fundada, foi praticamente posta de lado pelos cientistas. Mas cinco anos
depois (em 1940) os profs. William McDougal e Joseph Banks Rhine davam impulso
à Parapsicologia, demonstrando que a clarividência estava provada por meio de
rigorosas pesquisas de laboratório. Grande número de parapsicólogos, com Rhine
à frente, sustentam a tese de que os fenômenos extrassensoriais provam a
existência no homem de algo que não se reduz ao físico, fato incontestável que
Bozzano comprova nesta obra. (Obra citada, prefácio de J. Herculano Pires.)
C. Como Bozzano conceitua fenômenos
mediúnicos?
Segundo ele,
designa-se por fenômenos mediúnicos um conjunto de manifestações, tanto físicas
como inteligentes, que se produzem com o auxílio de forças ou faculdades
subtraídas temporariamente de um médium – algumas vezes também, em pequena
escala, dos assistentes –, por vontade que independe do médium e dos assistentes. Tal vontade pode ser a de um morto ou a
de um vivo. (Obra citada, Introdução ao livro, por Ernesto Bozzano.)
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