Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 21
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. No
processo da chamada incorporação, que é preciso fazer para que um Espírito
atormentado, como Jaques Latour, se acalme?
B. A
expiação pode ser imediata, ou seja, verificar-se com relação a atos praticados
no curso da mesma existência?
C.
Depende apenas de nós evitar esses infortúnios?
Texto
para leitura
246.
Encantado com a novidade tiptológica, o Codificador observou: “De todos os
aparelhos imaginados para constatar a independência do pensamento do médium,
nenhum vale este processo”. Nada, porém, segundo ele, seria capaz de substituir
a facilidade das comunicações escritas. (PP. 308 e 309)
247. Em
Bruxelas, na presença de Kardec, comunicou-se o Espírito de Latour, que mais
tarde se identificou como autor de vários crimes. Escrevendo com uma agitação
extraordinária, Latour registrou estas palavras: “Arrependo-me, arrependo-me”.
Indagado por que ali se comunicara, uma vez que ninguém o havia evocado, Latour
falou por meio da mesma médium, dotada da faculdade de psicofonia: “Vi que
éreis almas compadecidas e que teríeis piedade de mim, ao passo que outros me
evocam mais por curiosidade que por verdadeira caridade, ou de mim se afastam
com horror”. (P. 309)
248.
Começou então uma cena indescritível, que não durou menos de meia hora: a
médium, juntando à palavra os gestos e a expressão da fisionomia, transmitia o
desespero do Espírito, suas angústias e seus sofrimentos com um tom tão
pungente, que os assistentes ficaram profundamente comovidos. Alguns estavam
mesmo apavorados com a superexcitação da médium, mas Kardec sabia que um
Espírito que se arrepende e implora piedade não ofereceria qualquer perigo. (P.
309)
249.
Latour fora levado à guilhotina, mas isto nada era diante do fogo que o
devorava, porque suas vítimas o rodeavam e perseguiam com seu olhar. Tocados por seus lamentos, os assistentes lhe
dirigiram palavras de encorajamento e de consolo e um deles orou, após o que,
mais calmo, o Espírito agradeceu e se retirou comovido. (PP. 310 e 311)
250.
Finda a cena, durante algum tempo a médium ficou quebrada e abatida; seus
membros estavam fatigados. Sua lembrança era, a princípio, confusa, mas pouco a
pouco recordou-se de algumas palavras que pronunciou, mau grado seu, sentindo
que não era ela quem falara. (P. 311)
251. No
dia seguinte, Latour manifestou-se de novo, mas uma sensível melhora se havia
operado nele, por efeito, sobretudo, da prece que o grupo proferiu em seu
benefício. (N.R.: O caso Jaques Latour e todo o seu desdobramento constam do
cap. VI da Parte Segunda do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec.)
(PP. 311 e 312)
252. O Siècle
de 5 de junho de 1864 relatou um fato intrigante que envolveu um berlinense
abastado e seu pai que, em consequência de vários reveses, havia caído numa
pobreza absoluta. Abandonado pelo filho rico, o pai recorreu à justiça, que
condenou o filho a fornecer-lhe uma pensão alimentícia. Quando a sentença saiu,
o filho já havia transferido seus bens a um tio paterno, tornando, desse modo,
infrutífera a decisão judicial. Um fato imprevisto veio, contudo, tudo mudar: o
tio do rapaz morreu subitamente, sem deixar testamento, e sua fortuna acabou
sendo transmitida ao parente mais próximo, isto é, seu irmão, justamente o pai
repelido pelo filho. Os papéis ficaram então invertidos: o pai está rico, e o
filho, pobre. (PP. 312 e 313)
253.
Comentando o fato, Kardec diz que os exemplos de castigos imediatos são mais
comuns do que se pensa. Se o homem remontasse à fonte de suas vicissitudes,
veria que quase sempre elas decorrem de sua própria conduta nesta vida, mas,
longe de se acusar por seus infortúnios, ele prefere atribuí-los à fatalidade e
à má sorte. (P. 313)
254. Se o
homem aproveitasse os avisos que recebe, se se arrependesse e reparasse seus
erros desde esta vida, satisfaria a justiça de Deus e não teria que expiar e
reparar, seja no mundo dos Espíritos, seja em nova existência. (P. 314)
255. É
preciso que deixemos de ver nas misérias que sofremos em virtude de faltas
cometidas no passado um mistério inexplicável, certos de que depende de nós
evitá-las. Saldadas as dívidas, Deus não nos fará pagá-las segunda vez. Mas, se
ficarmos surdos a seus avisos, exigirá de nós até o último ceitil, ainda que
após séculos ou milhares de anos. A morada dos eleitos só é aberta aos
Espíritos purificados; qualquer mancha lhes interdita o acesso. Cabe a nós
retirá-la. (P. 314)
256. Em
Marselha, um dos mais honrados negociantes da cidade deu um tiro de pistola no
vigário de Saint-Barnabé. A causa foi uma carta anônima que lhe informou que
sua esposa mantinha relações íntimas com aquele padre. Comprovada a denúncia, o
marido traído decidiu agir. (PP. 314 e 315)
257. Qual
o mais culpado neste caso: a mulher, o marido ou o padre? A esta pergunta,
Kardec não teve dúvida em atribuir maior responsabilidade no fato ao vigário,
que, de sangue frio, com premeditação, violou os seus votos, abusou de seu
caráter e enganou a confiança dos fiéis, lançando a desordem, o desespero e a
desunião numa família honrada. Concluindo a análise do triste episódio, observa
Kardec: “Se o medo das penas eternas não detém na via do mal e na violação dos
mandamentos de Deus aqueles que os preconizam, é que eles próprios neles não
acreditam”. “A primeira condição para inspirar confiança seria pregar o
exemplo.” (P. 315)
Respostas
às questões propostas
A. No
processo da chamada incorporação, que é preciso fazer para que um Espírito
atormentado, como Jaques Latour, se acalme?
No caso
de Latour, que transmitia todo o seu desespero, suas angústias e seus
sofrimentos ao médium, os assistentes, tocados por seus lamentos, dirigiram-lhe
palavras de encorajamento e de consolo e um deles orou, após o que, mais calmo,
o Espírito agradeceu e se retirou comovido. Essa providência serve de exemplo
para casos semelhantes, em que a oração será sempre um recurso indispensável. (Revista
Espírita de 1864, pp. 309 a 311.)
Sim. Kardec diz que os exemplos de castigos
imediatos são mais comuns do que se pensa. Se o homem remontasse à fonte de
suas vicissitudes – lembra o Codificador –, veria que quase sempre elas
decorrem de sua própria conduta nesta vida, mas, longe de se acusar
por seus infortúnios, ele prefere atribuí-los à fatalidade e à má sorte. (Obra
citada, pp. 313 e 314.)
C.
Depende apenas de nós evitar esses infortúnios?
Sim. É
preciso que deixemos de ver nas misérias que sofremos em virtude de faltas
cometidas no passado um mistério inexplicável, certos de que depende de nós
evitá-las. Saldadas as dívidas, Deus não nos fará pagá-las segunda vez. Mas, se
ficarmos surdos a seus avisos, exigirá de nós até o último ceitil, ainda que
após séculos ou milhares de anos. A morada dos eleitos só é aberta aos
Espíritos purificados; qualquer mancha lhes interdita o acesso. Cabe a nós
retirá-la. (Obra citada, pág. 314.)
Observação:
Para acessar a Parte 20
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/revista-espirita-de-1864-allan-kardec.html
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
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