Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 6
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Qual foi a
primeira faculdade mediúnica concedida aos homens?
B. Veremos Deus
ao deixarmos a Terra?
C. Tantas vezes
mencionada nas Escrituras, a ressurreição é possível?
Texto para leitura
66. Tudo indica
que o czar Paulo I, da Rússia, viu efetivamente em São Petersburgo o Espírito
de seu avô Pedro, o Grande. Pelo menos foi isso que o czar relatou a alguns
amigos, segundo reportagem publicada a 3 de março de 1866 pelo Grand Journal.
Tendo o assunto sido levado à Sociedade Espírita de Paris, um dos médiuns
recebeu espontaneamente uma comunicação que confirmou o fato e acrescentou as
informações que se seguem: I – A existência da mediunidade de vidência foi a
primeira de todas as faculdades dadas ao homem para se corresponder com o mundo
invisível. II – Em todos os tempos e em todos os povos, as crenças religiosas
se estabeleceram sobre revelações de visionários ou médiuns videntes. III – Desde
o instante em que o czar Paulo I viu seu avô, a mediunidade foi nele
permanente, mas o medo do ridículo o impediu de relatar suas visões aos amigos.
IV – A vidência não era a única faculdade que possuía, pois Paulo fora também
dotado da audição e da intuição. Aliás, foi pela audição que ele teve a
revelação do seu fim trágico. (Págs. 120 a 123.)
67. Em Corrèze,
o Sr. Leymarie, colega de Kardec na Sociedade Espírita de Paris, recebeu uma
comunicação assinada por um ex-bispo de nome De Cosnac, que informou ter estado
até então, por dois séculos e meio, inconsciente de sua verdadeira posição de
Espírito desencarnado. Bispo e conselheiro do rei, orgulhoso de seus títulos,
ele só dera valor na última existência às fugidias ilusões da vida, não
constituindo surpresa o longo período de perturbação a que se reportou na
mencionada mensagem. (Págs. 123 a 125.)
68. Em um poema
transcrito pela Revista, Eugène Nus, dirigindo-se aos amigos que já partiram
para o mundo espiritual, pergunta-lhes: “Onde viveis, mortos amados?” O poema
contém ideias claras sobre a influência dos Espíritos em nossa vida e à
possibilidade do seu retorno à vida terrena. (Págs. 125 e 126.)
69. Alguns
espíritas não se conformaram com as críticas feitas a eles pela imprensa por
ocasião do episódio protagonizado pelos irmãos Davenport. Florentin Blanchard,
livreiro em Marennes, foi um deles, como mostra carta publicada pela Revista,
na qual, escrevendo ao jornal La Liberté, o confrade refuta as críticas
e avisa que sua assinatura não mais será renovada. (Págs. 126 e 127.)
70. Cinco obras
são citadas pela Revista na seção de livros. Uma delas, intitulada: “Sou
Espírita?”, de Sylvain Alquié, de Toulouse, foi um dos frutos da polêmica
causada pelos irmãos Davenport. As críticas levaram o autor a conhecer e a
admitir, desde então, o Espiritismo. As demais obras intitulam-se: “Carta aos
Srs. Diretores e Redatores dos Jornais Antispíritas”, de A. Grelez, de Sétif,
Argélia; “Filosofia Espírita”, “O Guia da Felicidade” e “Noções de Astronomia”,
todos os três de autoria de Augustin Babin, espírita de longa data que, segundo
Kardec, levava a doutrina a sério. (Págs. 127 e 128.)
71. O número de
maio de 1866 inicia-se com um artigo sobre Deus, no qual o Codificador faz as
seguintes observações: I – Como é que Deus, tão grande e poderoso, pode
imiscuir-se em pormenores ínfimos e preocupar-se com os menores atos praticados
pelos indivíduos? II – As propriedades dos fluidos podem dar-nos uma ideia de
como o Criador age nesses casos. III – Os fluidos não têm inteligência, mas são
o veículo do pensamento, das sensações e das percepções dos Espíritos, e é em
consequência da sutileza deles que os Espíritos penetram por toda a parte,
perscrutam os nossos pensamentos, veem e agem a distância. IV – O que os
Espíritos podem realizar, embora em estreitos limites, Deus o faz em proporções
indefinidas. Ora, a natureza inteira está mergulhada no fluido divino. Assim,
tudo está submetido à sua ação, à sua previdência, à sua solicitude. V –
Estamos, portanto, constantemente em presença da Divindade; não existe uma só
de nossas ações que possamos subtrair ao seu olhar; nosso pensamento está em
contato com o seu pensamento e é por isso que se diz que Deus vê os mais
profundos refolhos do nosso coração. VI – O Criador não tem, pois, necessidade
de mergulhar seu olhar nem de deixar o repouso de sua glória, para estender a
nós a sua solicitude. VII – Para serem ouvidas por Ele, nossas preces não
precisam transpor o espaço nem ser ditas com voz retumbante, porque,
incessantemente penetrados pelo fluido divino, nossos pensamentos nele
repercutem. (Págs. 129 a 131.)
72. Concluindo
o artigo, Kardec assevera: “Diante desses problemas insondáveis, nossa razão
deve humilhar-se; Deus existe: não poderíamos duvidá-lo; é infinitamente justo
e bom; é sua essência; sua solicitude se estende a tudo; nós o compreendemos
agora; incessantemente em contacto com ele, podemos orar a ele com a certeza de
ser ouvidos; ele não pode querer senão o nosso bem; por isso devemos ter
confiança nele. Eis o essencial; para o resto, esperemos que sejamos dignos de
o compreender”. (Pág. 132.)
73. No artigo
seguinte Kardec explica por que, estando Deus em toda a parte, não o vemos.
Vê-lo-emos ao deixar a Terra? Eis os ensinamentos transmitidos pelo
Codificador: I – As coisas de essência espiritual não podem ser percebidas
pelos órgãos materiais: só pela visão espiritual é que podemos ver os Espíritos
e o mundo imaterial. Dessa forma, só a nossa alma pode ter a percepção de Deus,
mas sua visão constitui privilégio das almas mais depuradas. II – O envoltório
perispiritual, embora invisível e impalpável para nós, é para a alma uma
verdadeira matéria, muito grosseira para certas percepções, mas que se
espiritualiza à medida que a alma se eleva em moralidade. III – As imperfeições
da alma são como véus que obscurecem sua visão; cada imperfeição de que ela se
desfaz é um véu a menos. IV – Sendo Deus a essência divina por excelência, não
pode ser percebido em todo o seu brilho senão pelos Espíritos chegados ao mais
alto grau de desmaterialização. V – O Espírito só se depura lentamente, e à
medida que se depura tem de Deus uma intuição mais perfeita. Se não o vê,
compreende-o melhor. Quando eles dizem que Deus lhes proíbe de responder ou
fazer algo, não é que Deus lhes aparece, mas sim que o sentem e recebem o
eflúvio de seu pensamento, como acontece ao homem com relação aos Espíritos que
o envolvem com seu fluido, embora não os veja. VI – Nenhum homem pode, pois,
ver a Deus com os olhos da carne. Se esse favor fosse concedido a alguém, só
poderia sê-lo no estado de êxtase. VII - Como os Espíritos da mais elevada
ordem resplandecem com um brilho deslumbrante, pode ser que Espíritos menos
elevados, encarnados ou não, feridos por tal esplendor, julgassem ter visto o
próprio Deus, tal como se vê, por vezes, um ministro tomado por seu soberano.
(Págs. 132 a 134.)
74. Segundo o
jornal Concorde, de Versalhes, edição de 22 de fevereiro de 1866, teria
ocorrido na Córsega um curioso fato de ressurreição, no qual uma mulher,
momentos depois de morrer, teria voltado a viver para transmitir um recado à
sua sobrinha Savéria. A ressurreição é possível? Kardec diz que não e explica:
todas as vezes que houver volta à vida é que não houve morte na acepção
patológica do termo. “Quando a morte é completa, essas voltas são impossíveis,
pois a isto se opõem as leis fisiológicas.” (Págs. 134 e 135.)
75. O assunto
foi levado à Sociedade Espírita de Paris, onde o Espírito de Ebelman explicou o
episódio referido. A tia estava realmente morta, mas não houve ressurreição. A
sobrinha teve, na verdade, uma visão do Espírito da falecida, que, graças à
permissão do Pai, pôde falar-lhe. Sua vontade não pôde fazer reviver o seu
corpo físico, mas pôde dar ao seu invólucro fluídico as aparências dele. (Págs.
135 e 136.)
76. Morto em
Paris em novembro de 1865, o padre Laverdet, atendendo a evocação feita por
Kardec, comunicou-se na Sociedade Espírita de Paris em janeiro seguinte,
ocasião em que, além de manifestar seu respeito pela doutrina espírita,
lamentou os equívocos cometidos por seu colega padre Châtel, que procurou
auferir vantagens financeiras à frente da Igreja. (Págs. 136 a 139.)
77. Outra
comunicação espírita transcrita pela Revista diz respeito a um pai que, dado à
embriaguez desde a juventude, nenhuma preocupação teve quanto à educação dos
filhos. Um destes seguiu-lhe os passos e, mudando-se para a África, não mais
deu notícias. O outro, de natureza diferente, tornou-se espírita fervoroso e
devotado. Na comunicação, Charles-Emmanuel, o pai descuidado, fala das
consequências de seus erros e da tarefa que agora, como Espírito, Deus lhe atribuíra:
velar pelo filho Jean, a quem deveria preservar de qualquer acidente. (Págs.
139 e 140.)
78. Duas
informações importantes constam da comunicação citada: I – Charles-Emmanuel
demorou a perceber que desencarnara e bebia sem cessar. II – A dor que o filho
experimentava nos acidentes de que o pai o salvou, era este quem suportava.
(Págs. 140 e 141.)
Respostas às questões propostas
A. Qual foi a
primeira faculdade mediúnica concedida aos homens?
Segundo
mensagem transmitida na Sociedade Espírita de Paris, a mediunidade de vidência
foi a primeira de todas as faculdades dadas ao homem para se corresponder com o
mundo invisível. Em todos os tempos e em todos os povos, as crenças religiosas
se estabeleceram sobre revelações de visionários ou médiuns videntes. (Revista
Espírita de 1866, pp. 120 a 123.)
B. Veremos Deus
ao deixarmos a Terra?
Esta questão
foi examinada por Kardec na Revista Espírita. Eis, em resumo, o que ele
escreveu: 1. As coisas de essência espiritual não podem ser percebidas pelos
órgãos materiais: só pela visão espiritual é que podemos ver os Espíritos e o
mundo imaterial. 2. Dessa forma, só a nossa alma pode ter a percepção de Deus,
mas sua visão constitui privilégio das almas mais depuradas. 3. Sendo Deus a
essência divina por excelência, não pode ser percebido em todo o seu brilho
senão pelos Espíritos chegados ao mais alto grau de desmaterialização. (Obra
citada, pp. 132 a 134.)
C. Tantas vezes
mencionada nas Escrituras, a ressurreição é possível?
Segundo Kardec,
a ressurreição não é possível. Todas as vezes em que ocorre volta à vida é que
não houve morte na acepção patológica do termo. “Quando a morte é completa,
essas voltas são impossíveis, pois a isto se opõem as leis fisiológicas.” (Obra
citada, pp. 134 a 136.)
Observação:
Para
acessar a 5ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/08/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_01065676860.html
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