Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 9
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que é que
Kardec disse acerca da necessidade de propagação da doutrina espírita?
B. Kardec era
favorável à fundação de obras de beneficência coletiva?
C. A que
conclusão chegou o governo francês a respeito das causas da loucura?
Texto para leitura
104. Vêm a
seguir os que aceitam a ideia como filosofia, porque isso lhes satisfaz à
visão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para compreender as
obrigações que a doutrina impõe aos que a assimilam. O homem velho ainda ali
está presente, e a reforma de si mesmo lhes parece tarefa muito pesada, embora
entre eles possam encontrar-se propagadores e zelosos defensores. (Pág. 198.)
105. Depois há
as pessoas levianas, para quem o Espiritismo está todo nas manifestações.
Extasiam-se ante o fenômeno, mas ficam frias ante uma consequência moral.
(Págs. 198 e 199.)
106. Há, enfim,
o número muito grande de espíritas mais ou menos sérios, que não puderam
colocar-se acima dos preconceitos e do que dirão, retidos pelo medo do
ridículo; aqueles que considerações pessoais ou de família, e interesses por
vezes respeitáveis, de certo modo forçam a manter-se afastados. Não se pode
querer muito deles, porque é preciso uma força de caráter, que não é dada a
todos, para enfrentar a opinião em certos casos. (Pág. 199.)
107. O
Espiritismo, advertiu Kardec, não tem o privilégio de transformar subitamente a
Humanidade e, se a gente pode admirar-se de uma coisa, é do número de reformas
que ele já operou em tão pouco tempo. Por que isso se dá? É que enquanto há
indivíduos onde ele encontra o terreno preparado, noutros ele só penetra gota a
gota, conforme a resistência que encontra no caráter e nos hábitos arraigados.
(Pág. 199.)
108. Uma
observação interessante é a da proporção dos adeptos segundo as categorias
mencionadas. Diz o codificador do Espiritismo que naquele momento (meados de
1866) havia apenas 10% de espíritas completos, de coração e devotamento, 25% de
espíritas incompletos, que buscavam mais o lado científico que o lado moral e
30% de espíritas levianos, somente interessados nos fatos materiais. Os demais
seriam espíritas não confessos ou que se ocultam. (Pág. 200.)
109.
Relativamente à posição social, dividindo-se as categorias em duas classes –
ricos e trabalhadores –, o quadro seria este: em 100 espíritas da primeira
categoria, haveria 5 ricos e 95 trabalhadores; na 2a categoria, 70 ricos para
30 trabalhadores; na 3a categoria, 80 ricos para 20 trabalhadores; na 4a, 99
ricos para 1 trabalhador. Sem dizer como esses números foram obtidos, Kardec
explica que a diferença na proporção entre os que são ricos e os que não o são
decorre do fato de que os aflitos acham no Espiritismo uma imensa consolação,
que os ajuda a suportar o fardo das misérias da vida. “Assim”, diz Kardec, “não
é surpreendente que, gozando mais benefício, o apreciem mais e o tomem mais a
sério do que os felizes do mundo.” (Pág. 200.)
110. O que
disse sobre a criação de uma caixa geral e de socorro, Kardec estendeu à ideia
de se fundarem estabelecimentos hospitalares e outros, cuja manutenção exigiria
pessoal capaz e suficiente e recursos financeiros vultosos, muito acima das
possibilidades dos espíritas de seu tempo. Sua ideia muito clara era que se
deviam investir recursos na propagação da doutrina espírita, porque onde as
ideias espíritas penetram os abusos caem e o progresso se realiza. “É
necessário”, diz ele, “empenhar-se, pois, em as espalhar: aí está a coisa
possível e prática, a verdadeira alavanca, alavanca irresistível quando se
tiver adquirido a força suficiente pelo desenvolvimento completo dos princípios
e pelo número dos aderentes sérios.” (Pág. 201.)
111. Kardec
indaga, então: “Por que, então, gastar energias em esforços supérfluos, em vez
de as concentrar num ponto acessível e que seguramente deve conduzir ao
objetivo?” “Mil adeptos ganhos para a
causa e espalhados em mil lugares diversos apressarão mais a marcha do
progresso do que um edifício.” (Págs. 201 e 202.)
112.
Considerando que um projeto de formação de uma caixa de socorro entre os
espíritas de uma mesma localidade seria coisa viável – ou menos quimérica –,
Kardec adverte que o Espiritismo não forma nem deve formar classe distinta,
pois se dirige a todos, e por seu princípio deve estender a caridade
indistintamente, sem inquirir da crença, porque todos os homens são irmãos.
(Págs. 202 e 203.)
113. O
codificador, encorajando as obras de beneficência coletiva, afirma que essas
têm vantagens incontestáveis e, longe de as censurar, as incentivava. “Nós as
conhecemos em Paris, nas Províncias e no Estrangeiro”, revelou Kardec. “Lá,
membros dedicados vão a domicílio inquirir dos sofrimentos e levar o que às
vezes vale mais do que os socorros materiais: as consolações e o encorajamento.
Honra a eles, porque bem merecem do Espiritismo! Que cada grupo assim haja em
sua esfera de atividade e todos juntos realizarão maior soma de bens do que uma
caixa central quatro vezes mais rica.” (Págs. 203 e 204.)
114. Relatório
dirigido ao Imperador pelo ministro da Agricultura, Comércio e Trabalhos
Públicos, sobre o estado de alienação mental na França, publicado no Moniteur
de 16/4/1866, desmentiu formalmente as acusações lançadas pelos adversários do
Espiritismo, que eles acusavam de ser causa preponderante da loucura. A Revista
transcreve os números, que indicam que 60% dos casos eram atribuídos a causas
físicas. Entre os 40% atribuídos a causas morais, os pesares domésticos
constituíam cerca de um quarto das ocorrências. (Págs. 204 a 210.)
115. Comentando
a notícia, Kardec lembra que, entre as causas morais minuciosamente relatadas
pelo ministro, o Espiritismo não figurava nominalmente, nem por alusão, o que
constituía a mais peremptória resposta que se podia dar aos que acusam o
Espiritismo de ser a causa preponderante da loucura. (Págs. 210 e 211.)
116. A Revista
noticia o falecimento do literato e poeta Joseph Méry, morto em Paris aos 67
anos e meio de idade, em junho último. O Sr. Méry não era adepto do
Espiritismo, mas espírita por intuição, porque, além de acreditar nos
princípios da doutrina, afirmava com toda a convicção ter vivido em Roma ao
tempo de Augusto, na Alemanha e nas Índias. (Págs. 211 a 214.)
Respostas às questões propostas
A. Que é que Kardec disse acerca da necessidade de propagação
da doutrina espírita?
Ele entendia que se deviam investir recursos na
propagação da doutrina espírita, porque onde as ideias espíritas penetram os
abusos caem e o progresso se realiza. “É necessário – disse ele –
empenhar-se, pois, em as espalhar: aí está a coisa possível e prática, a
verdadeira alavanca, alavanca irresistível quando se tiver adquirido a força
suficiente pelo desenvolvimento completo dos princípios e pelo número dos
aderentes sérios.” “Mil adeptos ganhos para a causa e espalhados em mil lugares
diversos apressarão mais a marcha do progresso do que um edifício.” (Revista
Espírita de 1866, pp. 201 e 202.)
B. Kardec era
favorável à fundação de obras de beneficência coletiva?
Sim. Ele as
encorajava, afirmando que elas têm vantagens incontestáveis. “Nós as conhecemos
em Paris, nas Províncias e no Estrangeiro”, revelou Kardec. “Lá, membros
dedicados vão a domicílio inquirir dos sofrimentos e levar o que às vezes vale
mais do que os socorros materiais: as consolações e o encorajamento. Honra a
eles, porque bem merecem do Espiritismo! Que cada grupo assim haja em sua
esfera de atividade e todos juntos realizarão maior soma de bens do que uma
caixa central quatro vezes mais rica.” (Obra citada, pp. 203 e 204.)
C. A que
conclusão chegou o governo francês a respeito das causas da loucura?
Segundo
relatório dirigido ao Imperador pelo ministro da Agricultura, Comércio e
Trabalhos Públicos, sobre o estado de alienação mental na França, publicado no Moniteur
de 16/4/1866, ficaram desmentidas formalmente as acusações lançadas pelos
adversários do Espiritismo, que eles acusavam de ser causa preponderante da
loucura. A Revista transcreveu os números, que indicam que 60% dos casos eram
atribuídos a causas físicas e que, entre os 40% atribuídos a causas morais, os
pesares domésticos constituíam cerca de um quarto das ocorrências. Ao comentar
a notícia, Kardec lembrou que, entre as causas morais minuciosamente relatadas
pelo ministro, o Espiritismo não figurava nominalmente nem por alusão, o que
constituía a mais peremptória resposta que se podia dar aos que acusavam o
Espiritismo de ser a causa preponderante da loucura. (Obra citada, pp. 204 a
211.)
Observação:
Para
acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/09/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_0965575060.html
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