Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 8
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. No momento
do sono podemos reunir-nos a outros companheiros ainda encarnados?
B. O acaso
existe?
C. Que virtudes
devem crescer no caminho do espírita verdadeiro?
Texto para leitura
91. Em uma
sessão espírita realizada na casa de uma família russa residente em Paris, o
Espírito de Moki, por meio do Sr. Desliens, afirmou que mesmo na existência do
mais ínfimo dos seres nada é deixado ao acaso: os principais acontecimentos de
sua vida são determinados por sua provação; os detalhes, influenciados por seu
livre-arbítrio; mas o conjunto da situação foi previsto e combinado
antecipadamente por ele próprio e por aqueles que Deus predispôs à sua guarda.
A escolha do jovem Kommissaroff fora uma recompensa à sua atitude de
devotamento desinteressado. As honrarias e a fortuna que ele, em consequência
de seu gesto, recebeu do czar, constituíam, no entanto, não apenas um prêmio,
mas também uma prova – prova que, segundo Kardec, é cem vezes mais perigosa que
as desgraças materiais, às quais a gente se resigna por força, ao passo que é
bem mais difícil resistir às tentações do orgulho e da opulência. (Págs. 169 a
171.)
92. Durante uma
doença que enfrentou em abril de 1866, Kardec teve um sonho bem estranho.
Consultado por ele, o Espírito do Dr. Demeure fez a respeito do assunto
observações muito interessantes, adiante resumidas: I – Há sonhos que resultam
do próprio sofrimento experimentado pelos enfermos. Todas as vezes que há
enfraquecimento do corpo, há tendência para o desprendimento do Espírito; mas,
quando o corpo sofre, o desprendimento não se opera de maneira regular e
normal; incessantemente o Espírito é chamado a seu posto; daí as interrupções e
misturas que tornam confusas as imagens e as lembranças. II – O caráter do
sonho se liga, portanto, mais do que se pensa, à natureza da doença, porque se
o estado do Espírito influi sobre a saúde, o estado do corpo reage sobre o
Espírito. III – O sonho de Kardec fora, na verdade, a imagem de uma reunião
havida entre pessoas que ali discutiam um assunto relacionado com invenções. O
assunto nenhuma relação tinha com o Espiritismo: os Espíritos quiseram somente
mostrar-lhe um fato comum, que é o encontro, no momento do sono, de pessoas que
se dedicam na Terra a um mesmo objetivo. (Págs. 171 a 173.)
93. Dr. Demeure
acrescentou que não existem descobertas por acaso. As coisas que nos parecem as
mais fortuitas têm sua razão de ser, pois há inumeráveis inteligências ocultas
que presidem a todas as partes do conjunto. Chegado, por exemplo, o momento de
uma descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências.
“Não”, afirmou Demeure com toda a ênfase. “Não há acaso: tudo é inteligente na
natureza.” (Págs. 173 e 174.)
94. A 11 de
maio de 1866 o Espírito do Dr. Cailleux disse ter, dias atrás, entrado numa
espécie de torpor, após o que, conservando a consciência de si próprio, se viu
transportado no espaço e encontrado vários Espíritos que haviam, em vida,
adquirido celebridade pelas descobertas que fizeram. (Págs. 174 e 175.)
95. Na sessão
seguinte, Dr. Cailleux informou que naquela oportunidade ele fora levado a um
sono magnético-espiritual e, nesse estado, viu desdobrar-se o passado e as
diferentes personalidades que seu Espírito havia animado, voltado sempre para
os estudos e os trabalhos no âmbito da medicina. (Págs. 175 e 176.)
96. Comentando
o assunto, Kardec observa: I – Há, como se vê, para os Espíritos uma espécie de
sono, o que é um ponto de contato a mais entre o estado corporal e o
espiritual. II – Se há Espíritos que se sentem fatigados e experimentam a
necessidade do repouso, nada há de estranho em que se deitem e durmam. III – No
sono dos encarnados, só o corpo repousa, mas o Espírito não dorme. IV – Segundo
um dos membros da Sociedade de Paris, deve dar-se o mesmo no estado espiritual:
o sono magnético ou o sono comum deve afetar apenas o perispírito, ficando o
Espírito num estado análogo ao do Espírito encarnado durante o sono corporal,
isto é, com perfeita consciência de seu ser. V – As diferentes encarnações do
Dr. Cailleux puderam então apresentar-se a ele como lembrança, da mesma maneira
que as imagens se oferecem nos sonhos. (N.R.: No livro “Nosso Lar”, cap. 36,
André relata um sonho que ele teve com sua mãe, no qual afirma ter a certeza de
que deixara o veículo inferior – o corpo espiritual – no apartamento. A
explicação do fato se encontra no estudo acerca do corpo mental, o envoltório
sutil da mente, que André Luiz desenvolve no livro Evolução em dois Mundos,
primeira parte, cap. II, pp. 25 e 26.) (Págs. 176 e 177.)
97. O Espírito
do Dr. Demeure explica por que, quando alguma coisa é pressentida pelo povo,
geralmente se diz que ela está no ar. Esse pressentimento geral à aproximação
de algum acontecimento grave tem duas causas. A primeira vem das massas de
Espíritos que incessantemente percorrem o espaço e têm o conhecimento das
coisas que se preparam. Eles incessantemente roçam a humanidade e lhe comunicam
seus pensamentos pelas correntes fluídicas que ligam o mundo corporal ao mundo
espiritual. A segunda causa reside no desprendimento do Espírito encarnado,
durante o repouso do corpo, ocasião em que ele conversa com outros Espíritos e
se penetra de seus pensamentos. Como ele fica sabendo de certas coisas, não
consegue explicar. Uns dirão que uma voz interior lhes falou, outros que
tiveram uma visão reveladora. (Págs. 177 a 179.)
98. Na seção de
poesias, a Revista transcreve três poemas notáveis. O último, intitulado “A
lagarta e a borboleta”, é uma fábula que retrata muito bem a atitude dos que
negam a alma e a imortalidade. (Págs. 179 a 182.)
99. Três
comunicações mediúnicas integram também o número de junho de 1866, das quais
extraímos de forma resumida os ensinamentos que se seguem: I – Ao deixar a
Terra, conforme as faculdades ali adquiridas, os Espíritos buscam o meio que
lhes é próprio, a menos que, não podendo estar desprendidos, estejam na noite,
nada vendo nem ouvindo. II – Quando se prepara para reencarnar, o Espírito
submete suas ideias às decisões do grupo a que pertence. O grupo discute o
assunto, pesquisa, aconselha. O Espírito pode, então, aconselhado, esclarecido,
fortificado, seguir, se quiser, seu caminho, ciente de que terá na jornada
terrena uma multidão de Espíritos invisíveis que não o perderão de vista e o
assistirão. III – Algumas vezes Espíritos elevados passam a comunicar-se com
menor frequência no grupo que assistem. Por que isso se dá? Duas são as causas
para esse afastamento temporário, mas necessário. Primeiramente, é preciso dar
ao grupo tempo para aplicar o que já lhe foi ensinado. Em segundo lugar, muitos
dos conselheiros espirituais têm missões análogas junto a outros grupos, o que
às vezes os impede de vir. IV – Cada pessoa tem no mundo uma missão a cumprir.
Seja em grande escala, seja em escala menor, Deus pedirá a todos contas do óbolo
que lhes foi entregue. V – Nesse sentido, o dever dos espíritas é muito grande,
porque o dom que lhes foi concedido é um dos soberanos dons de Deus. Sem se
envaidecer por isto, devem os espíritas fazer todos os esforços para merecê-lo.
VI – Que ninguém reserve apenas para si esse talento, mas que o ofereça a todos
os irmãos, trabalhando na seara espírita, sob a assistência dos Bons Espíritos,
que jamais lhe faltará. VII – Instruir os ignorantes, assistir os fracos, ter
compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lamentar os que estão no erro,
perdoar aos inimigos – eis as virtudes que devem crescer em abundância no
caminho do verdadeiro espírita. (Págs. 182 a 188.)
100. O advento
da obra Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, é noticiado por
Kardec, que fez sobre ela os seguintes reparos:
I – Seu autor tratou ali certas questões que ele (Kardec) não tinha
julgado oportuno abordar ainda; por isso, até nova ordem, ele não daria às
teorias nela contidas nem aprovação nem desaprovação, deixando ao tempo o
trabalho de as sancionar ou as contraditar. II – Convém considerar, portanto,
essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, as
quais necessitam da sanção do controle universal e, até mais ampla confirmação,
não podem ser consideradas como partes integrantes da doutrina espírita. III –
Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a
importância da obra, que, ao lado de coisas duvidosas, encerra outras
incontestavelmente boas e verdadeiras. IV – Kardec entendeu também que certas
partes da obra foram desenvolvidas muito extensamente, sem proveito para a
clareza. A seu ver, limitando-se ao estritamente necessário, ela poderia ter
sido reduzida a dois, ou mesmo a um só volume, e teria ganho em popularidade.
(Págs. 188 a 190.)
101. O número
de junho traz como última informação o surgimento do jornal La Voce di Dio
(A Voz de Deus), na Sicília, Itália, uma publicação consagrada exclusivamente
ao ensino dos Espíritos. Kardec adverte, entretanto, que as comunicações
mediúnicas só têm a ganhar quando puderem, conforme as circunstâncias e dentro
do possível, ser acompanhadas de alguns comentários. (Págs. 190 e 191.)
102. A Revista
de julho de 1866 se inicia com um artigo de Kardec sobre a ideia de se criar
uma caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas. No tocante
à caixa geral de socorro, o codificador posiciona-se contra, dada a dispersão
dos espíritas, então espalhados por muitos lugares, o que exigiria uma obra em
alta escala, fato que tornava a ideia impraticável. Era preciso, primeiro, ao
Espiritismo adquirir as forças necessárias para então dar mais do que podia
naquele momento. Longe de servir ao Espiritismo, afirmou Kardec, seria expô-lo
à chacota dos adversários misturar o seu nome a coisas quiméricas. (Págs. 193 a
197.)
103. Em
seguida, disse o codificador que entre os espíritas reais – os que constituem o
verdadeiro corpo dos aderentes – há certas distinções a fazer. Em primeira
linha há que colocar os adeptos de coração, animados de fé sincera, que
compreendem o objetivo e o alcance da doutrina e para quem o lado moral não é
simples teoria: esforçam-se por pregar pelo exemplo; não só têm a coragem de
sua opinião, mas a consideram uma glória. (Pág. 198.)
Respostas às questões propostas
A. No momento
do sono podemos reunir-nos a outros companheiros ainda encarnados?
Sim. Foi o que
o Espírito do Dr. Demeure disse a Kardec ao explicar-lhe um sonho que o
Codificador tivera. O sonho fora, na verdade, a imagem de uma reunião havida
entre pessoas que ali discutiam um assunto relacionado com invenções. O assunto
nenhuma relação tinha com o Espiritismo: os Espíritos quiseram somente
mostrar-lhe um fato comum, que é o encontro, no momento do sono, de pessoas que
se dedicam na Terra a um mesmo objetivo. (Revista Espírita de 1866, pp.
171 a 173.)
B. O acaso
existe?
Não. Segundo
explicação dada pelo Espírito do Dr. Demeure, as coisas que nos parecem as mais
fortuitas têm sua razão de ser, pois há inumeráveis inteligências ocultas que
presidem a todas as partes do conjunto. Chegado, por exemplo, o momento de uma
descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências. “Não
há acaso: tudo é inteligente na natureza”, afirmou o médico. (Obra citada, pp.
173 e 174.)
C. Que virtudes
devem crescer no caminho do espírita verdadeiro?
Instruir os
ignorantes, assistir os fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os
inocentes, lamentar os que estão no erro, perdoar aos inimigos – eis as
virtudes que devem crescer em abundância no caminho do verdadeiro espírita.
(Obra citada, pp. 187 e 188.)
Observação:
Para
acessar a 7ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/09/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_01385341498.html
To read in English, click here: ENGLISH |
Nenhum comentário:
Postar um comentário