Uma dedicatória à Língua Portuguesa
por Fernanda Borges
“Esta é uma confissão de amor: amo a
língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi
profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter
sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que
temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza.
E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de
superficialismo.”
Clarice Lispector
Há uma estimativa de que existam mais de 7 mil
línguas no mundo inteiro e me “calhou” falar português. Não é totalmente um
português de Portugal nem totalmente brasileiro, mas é esta língua portuguesa
que vive nas “entranhas” da minha alma e que pulsa mesmo no silêncio. É como se
antes de nascer, ainda lá nos planos etéricos, meu silêncio vibrasse nessa nota
e, sem que eu me desse conta, precisei sair das terras lusitanas para
compreender quanto ela está em mim.
Quando há o esforço para falar um idioma diferente,
surge uma preguiça mental quase que imposta pelo meu inconsciente para não se esforçar
tanto por esse caminho, mostrando o fluir muito mais harmônico e tranquilo
quando os sons se juntam para soltar uma palavra em português. Não há aquele
“chiado” de Portugal e nem mesmo o gerúndio excessivo brasileiro, mas há sim
uma verdadeira alegria em perceber as palavras se encontrando exatamente onde
deve estar, na Língua Portuguesa.
Tantos são os poetas, escritores e artistas a falar
desse idioma e por tanto tempo nunca me atentei quanto sempre estive tão
conectada a ela, só que de maneira despretensiosa, sem jamais querer fazer das
palavras algo que não fosse simplesmente verbalizá-las. Nos tempos de período
escolar estava sempre a folhear livros de literatura portuguesa e as poesias
sempre acessavam meu coração de maneira curiosa e ao mesmo tempo natural.
Enquanto os amigos saíam para se distrair na hora do intervalo entre as aulas,
eu ficava no banco a folhear as poesias, as imagens e histórias dos poetas, os
“contos” e as combinações das estrofes que ainda não se encaixavam em minha
mente.
Sem fazer muito sentido me formei comunicadora e
num “piscar de olhos” as palavras e este idioma foi a matéria-prima de meu
trabalho como jornalista, que durou dez anos ininterruptos. Será que foi meu
espírito que elegeu a Língua Portuguesa ou foi a Língua Portuguesa que me
escolheu? Por que tanta falta de vontade de verbalizar outros dialetos, outros
idiomas, outras formas de se expressar pelo verbo? Por que ela vibra tão
fortemente em meu coração pedindo uma atenção especial como um convite a dizer:
“Não esqueça que sou parte de você!”
Então, viajando e vivendo num país de língua
diferente, a própria vida me trouxe alunos curiosos para aprender a Língua
Portuguesa. Empolgados e curiosos eles pedem para sentir o sotaque, para ouvir
o samba, para conhecer a cultura, para saber dos poetas. E então, quando me
volto para escutá-la com mais presença outra vez e ao preparar aulas e conectar
temas com os interesses dos alunos, volto ao mundo interno de onde encontro a
casa que me habita. Ali não sou estrangeira, nem mesmo desconhecida. Neste
mundo o tempo para, as vozes silenciam, a alegria ressurge e o consciente traz
de volta uma informação de que por algum tempo me havia esquecido: como é bom
pensar, falar, sentir e vibrar na língua portuguesa.
Que a beleza de todos os idiomas possa manter-se
por meio da construção de palavras ditas de maneira presente, vagarosa, atenta
e cuidadosa. Que possamos manter a pureza dos que se esforçaram para colaborar
com a riqueza cultural de cada nação e que a Língua Portuguesa possa seguir
conectando e espalhando tanta admiração, curiosidade e interesse para sempre
somar com outras nações, línguas e culturas numa espírito de Unidade, em
colaboração com mentes criadoras de tudo o que for belo, bom, harmônico para
nosso planeta.
O texto acima pode ser lido no site https://fernandapaz.site/uma-dedicatoria-a-lingua-portuguesa/
Fernanda Borges é jornalista, tradutora, professora
de português e vive atualmente na Argentina.
Contatos:
WhatsApp: (+54) 9 3548 583998
Instagram: @fernandaborgespaz
Youtube:@fernandaborgespaz
Website: fernandapaz.site
Observação:
Para acessar o estudo publicado no sábado anterior, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/09/a-locucao-ao-contrario-indica-oposicao.html
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