quarta-feira, 2 de abril de 2014

Religião não é igreja, mas sentimento



Realizamos ontem à noite no Centro Espírita Nosso Lar mais uma etapa do estudo metódico do livro O Tesouro dos Espíritas, de Miguel Vives y Vives, conforme tradução de J. Herculano Pires, publicada pela EDICEL.

Eis as questões propostas inicialmente para debate:

1. Qual a principal obrigação do espírita?
2. Que pensar dos que dizem que as obras de Kardec não trazem novidades e que há obras mais interessantes?
3. É o Espiritismo religião?

Em seguida foi feita a leitura do texto – abaixo reproduzido – que serviu de base aos estudos da noite, verificando-se, a cada item lido, os comentários pertinentes:

150. A obrigação principal do espírita, diz Irmão Saulo (pseudônimo usado nesta obra pelo conhecido escritor José Herculano Pires, tradutor do texto de Miguel Vives y Vives e autor da 2a Parte do livro em estudo), é zelar pelo seu tesouro: a Doutrina Espírita. Para isso, temos de estudá-la e conhecê-la bem, pois, do contrário, como poderemos zelar por ela? “O Espiritismo – lembra ele – não é apenas uma eclosão mediúnica, não é somente manifestações de espíritos. É a Doutrina do Consolador, do Espírito da Verdade, do Paráclito, prometida e enviada pelo Cristo para nos orientar.” (P. 165)
151. Se Jesus nos trouxe a mensagem redentora do Evangelho e prometeu que nos enviaria o Consolador é que temos de conhecer o Evangelho e conhecer o Espiritismo. “Os cristãos estudam a Lei Nova, que está no Novo Testamento. Os espíritas, que são os cristãos renascidos da água e do espírito, devem estudar as obras de Kardec, que são a Codificação do Espiritismo, a Nova Revelação.” (P. 166)
152. Há espíritas que se deixam levar pelos falsos profetas, encarnados e desencarnados, que enchem o nosso mundo de novidades absurdas e perturbam o movimento doutrinário, impedindo a boa divulgação da luz. Acreditam eles que Kardec está superado e que portanto a obra de Kardec não tem mais nada a nos ensinar. “Ah, como se enganam esses pobres irmãos, levados por ilusões momentâneas!” (P. 167)
153. Alguns confrades dizem:  as obras de Kardec não trazem novidades; há outros livros que nos falam de coisas mais interessantes, contando-nos fatos desconhecidos, dando-nos ensinamentos novos. “Ah, pobres irmãos que não fazem conta da promessa do Senhor, que menosprezam a sua dádiva! Então o Senhor e Mestre nos promete o Consolador e no-lo envia, para agora o deixarmos de lado e corrermos como loucos atrás dos falsos profetas, dos falsos Cristos, dos falsos Kardecs, que enxameiam na vaidade humana?” (PP. 168 e 169)
154. Não temos o direito de pensar assim. O Espiritismo é a Verdade Maior que podemos conhecer, nesta fase evolutiva da Terra. O seu aparecimento foi preparado pelo Alto. Antes de Kardec encarnar-se, para cumprir a sua missão, já numerosos fatos espíritas ocorreram no mundo, predispondo-nos à compreensão do trabalho do Codificador. (P. 169)
155. O próprio Codificador viveu cinquenta anos preparando-se, adquirindo cultura e experiência, conquistando toda a ciência do seu tempo, antes de receber do Alto a incumbência de investigar os fenômenos e organizar a Doutrina, embora fosse um dos mais lúcidos discípulos de Jesus, que este enviou à Terra para cumprir a promessa do Consolador. E queremos, por acaso, ser mais do que ele e do que o Espírito da Verdade, que o assistia e guiava? (P. 169)
156. Outros irmãos alegam:  o Espiritismo é muito simples, é o ABC da Espiritualidade; temos maiores instruções na Teosofia ou com os Rosa-Cruzes. “Deviam antes pensar, diz Irmão Saulo, que necessitamos justamente do ABC, pois somos ainda analfabetos espirituais. O Espiritismo não tem a pretensão de tudo saber e tudo ensinar. Porque as doutrinas que tudo ensinam, na verdade nada sabem.” (P. 170)
157. Não pensemos, porém, que o Espiritismo é doutrina estática, que não quer ir além. Pelo contrário, ele é doutrina dinâmica e avança sempre. Mas avança na medida do possível e do conveniente, com os pés na terra, para evitar a vertigem das alturas. “Na proporção em que crescermos moralmente – prestemos bem atenção a esta palavra: moralmente – o próprio Espiritismo, dentro das próprias obras de Kardec, desvelará novos mundos e novos ensinos aos nossos olhos. Mas, então, estaremos em condições de compreendê-los.” (P. 172)
158. Em conclusão: O espírita deve estudar constantemente as obras de Kardec, que são o fundamento do Espiritismo, e não deixar-se levar por fascinações da vaidade ou da ambição de saber o que não pode. (PP. 172 e 173)
159. O Espiritismo é a Religião em espírito e verdade, de que Jesus falou à mulher samaritana. Mas há espíritas que não compreendem isso e negam a religião espírita. “É possível tirarmos do Espiritismo a fé em Deus e a lei da caridade?” (P. 174)
160. Todo o problema, que tanta celeuma tem levantado entre alguns irmãos intelectuais, se resume na falta de compreensão do que seja religião. Os confrades antirreligiosos gastam tinta e papel em quantidade por quererem provar  um absurdo.  “Alegam que Kardec se recusou a chamar o Espiritismo de religião. Mas o próprio Kardec explicou por que o evitou – não se recusou, mas apenas evitou – chamar o Espiritismo de religião: não queria confundir uma doutrina de luz e liberdade com as organizações dogmáticas e fanáticas do mundo religioso.” (PP. 174 e 175)
161. Todo homem de cultura hoje compreende que religião não é igreja, mas sentimento. Henri Bergson ensinou que há dois tipos de religião: a social, que é dogmática e estática, e a individual, que é livre e dinâmica. Assim pensava também Henrique Pestalozzi, para quem a religião verdadeira é a Moralidade. Vemos aí um dos motivos por que Kardec dizia que o Espiritismo tem consequências morais, em vez de referir-se a consequências religiosas.  “Hoje em dia, o Codificador não teria dúvida em falar de religião, porque o conceito atual de religião é muito mais amplo.” (PP. 175 e 176)
162. O Espiritismo tem três aspectos, como sabemos: o científico, no qual ele se apresenta como ciência de observação e investigação, tratando dos fenômenos espíritas; o filosófico, no qual procura interpretar os resultados da investigação científica e dar-nos uma visão nova do mundo; e o religioso, no qual nos ensina como aplicar, na vida prática, os princípios da filosofia espírita. “Queremos, acaso, ficar apenas nos princípios, sem aplicá-los?” (P. 176)

Completando o estudo, foram lidas e comentadas as respostas dadas às perguntas propostas:

1. Qual a principal obrigação do espírita?
A obrigação principal do espírita, diz Irmão Saulo, é zelar pelo seu tesouro: a Doutrina Espírita. Para isso, temos de estudá-la e conhecê-la bem, pois, do contrário, como poderemos zelar por ela? “O Espiritismo – lembra ele – não é apenas uma eclosão mediúnica, não é somente manifestações de espíritos. É a Doutrina do Consolador, do Espírito da Verdade, do Paráclito, prometida e enviada pelo Cristo para nos orientar.” (O Tesouro dos Espíritas, 2ª Parte, Marcha para o Futuro, pp. 165 e 166.)

2. Que pensar dos que dizem que as obras de Kardec não trazem novidades e que há obras mais interessantes?
A respeito deles, diz Irmão Saulo: “Ah, pobres irmãos que não fazem conta da promessa do Senhor, que menosprezam a sua dádiva! Então o Senhor e Mestre nos promete o Consolador e no-lo envia, para agora o deixarmos de lado e corrermos como loucos atrás dos falsos profetas, dos falsos Cristos, dos falsos Kardecs, que enxameiam na vaidade humana?” Não temos o direito de pensar assim. O Espiritismo é a Verdade Maior que podemos conhecer, nesta fase evolutiva da Terra. O seu aparecimento foi preparado pelo Alto. Antes de Kardec encarnar-se, para cumprir a sua missão, já numerosos fatos espíritas ocorreram no mundo, predispondo-nos à compreensão do trabalho do Codificador. (Obra citada, pp. 168 e 169.)

3. É o Espiritismo religião?
Sim. O Espiritismo é a Religião em espírito e verdade, de que Jesus falou à mulher samaritana. Mas há espíritas que não compreendem isso e negam a religião espírita. “É possível tirarmos do Espiritismo a fé em Deus e a lei da caridade?” Todo o problema, que tanta celeuma tem levantado entre alguns irmãos intelectuais, se resume na falta de compreensão do que seja religião. Os confrades antirreligiosos gastam tinta e papel por quererem provar  um absurdo.  “Alegam que Kardec se recusou a chamar o Espiritismo de religião. Mas o próprio Kardec explicou por que o evitou – não se recusou, mas apenas evitou – chamar o Espiritismo de religião: não queria confundir uma doutrina de luz e liberdade com as organizações dogmáticas e fanáticas do mundo religioso.” (Obra citada, pp. 174 a 176.)



Um comentário:

  1. Quanto à questão do Espiritismo ser religião ou não, entre outros aspectos que poderia elencar para defender a posição religiosa, Kardec tenteou evitar a institucionalização da Doutrina. Quando o cristianismo se institucionalizou, com a criação da igreja católica, simultaneamente, morreu. E não foi somente naquele conhecido artigo de 1868 que Kardec defendeu a Doutrina como religião. Na Revista Espírita de dezembro de 1861 ele é muito claro quanto à forma pretendida por ele de organização do movimento, estrutura que ia contra a institucionalização. Ali, em momento alguém ele fala de Religião, mas uma análise mais profunda dos dois textos, demonstrará que estão ambos interligados.

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