domingo, 27 de abril de 2014

A nós compete resolver os nossos próprios problemas


Das histórias que Hilário Silva reuniu para compor seus dois livros – A vida escreve e Almas em desfile – ambos psicografados pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier, há uma que expressa bem o que muitas pessoas buscam encontrar valendo-se do Espiritismo.
Trata-se do caso José Cardoso, o confrade que insistia, nas sessões mediúnicas de que participava, em buscar ajuda dos mentores espirituais para a descoberta de tesouros ocultos.
A região em que morava fora sede de mineração. Ali haviam sido descobertas arcas antigas e caldeirões recheados de pepitas e moedas. Devia haver, portanto, segundo pensava Cardoso, muito ouro escondido...
A cobiça era disfarçada com o uso de um argumento conhecido: com o tesouro encontrado seria possível realizar muitas obras caritativas...
Segundo o relato de Hilário, o amigo José Cardoso era persistente e não perdia ocasião de propor ao mentor do grupo questões voltadas para aquela ideia, que se lhe tornara obcecante.
O leitor pode imaginar a dificuldade dos mentores espirituais em tratar com semelhantes pessoas.
Como responder ao confrade sem causar constrangimento, desapontamento e decepção?
Evidentemente, alguém mais sensato poderia ter lembrado a Cardoso e aos componentes do grupo o que nos ensina a questão 533 d´O Livro dos Espíritos, adiante reproduzida:

533. Podem os Espíritos fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que assim aconteça?
“Algumas vezes, como prova. Quase sempre, porém, recusam, como se recusa à criança a satisfação de um pedido inconsiderado.”

A iniciativa não foi, porém, tomada, o que motivou o mentor do grupo, quando o assunto veio novamente à baila, a dizer-lhe:
– Meu irmão, fique tranquilo. Sua petição é bem inspirada. Sua intenção é construtiva. Indicaremos caminho para um tesouro no chão.
Ao ouvir semelhantes palavras, a pequena assembleia se assustou, receando estivesse ocorrendo uma mistificação. José Cardoso estava, porém, contente.
O mentor então explicou:
– Cardoso, busque o seu quintal. Além do pátio empedrado, depois da cozinha, você vê todos os dias grande mancha de terra escura, que a tiririca está envolvendo. Cave lá, meu amigo.
José Cardoso anotou cuidadosamente a orientação e no outro dia, pela manhã, começou a cavar, e cavou até ficar exausto. Para seu desapontamento, não encontrou sinal nenhum de tesouro escondido.
Na reunião mediúnica seguinte, ele interpelou o mentor espiritual, que lhe explicou que ele cavara muito bem e que o caminho da riqueza estava pronto. E, diante da curiosidade geral, acrescentou:
– Plante na cova rasgada um pé taludo de laranjeira, regue-a e trate-a com amor e, em breve, você terá o tesouro que procura, porque uma laranjeira, Cardoso, é princípio de um laranjal...

*

A lição contida na história relatada por Hilário Silva é bem sutil, mas serve de advertência a todos os que esperam encontrar no Espiritismo a solução para os seus problemas de ordem material ou espiritual.
Nos casos de obsessão, é muito comum a família depositar a pessoa perturbada na Casa Espírita e aguardar, de braços cruzados, sua cura.
Os mentores espirituais inspiram-nos, ajudam-nos, estimulam-nos, mas é bom que lembremos que nós é que estamos encarnados e, portanto, a nós compete resolver os problemas advindos de nossa presença neste plano.
Transferir aos protetores espirituais a tarefa que nos pertence é um equívoco lamentável que não se sustenta em nenhum dos ensinamentos contidos na doutrina codificada por Kardec e desenvolvida, entre outros, por Denis, Delanne, Emmanuel, Joanna de Ângelis e André Luiz.



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