quarta-feira, 4 de junho de 2014

O consolo ajuda, mas não apaga a lembrança dos atos praticados


Demos prosseguimento, ontem à noite, ao estudo do livro Ação e Reação, obra escrita por André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.
Eis o texto que serviu de base ao estudo realizado:

Questões para debate

A. As palavras de consolo e carinho ajudam o Espírito torturado pelo remorso?
B. Onde ficava a região cujas sombras não permitiam saber se era dia ou noite?
C. Os Espíritos recém-desligados do corpo traziam ainda os sinais das moléstias que lhes haviam causado a desencarnação?

Texto para leitura

17. O caso Antônio Olímpio – Antônio Olímpio revelou ali, de forma comovente, a sua triste história: "O fogo tortura minhalma sem consumi-la... É o remorso, bem sei... Se eu soubesse, não teria... cometido a falta... entretanto, não pude resistir à ambição... Depois da morte de meu pai... vi-me obrigado... a partilhar nossa grande fazenda com meus dois irmãos mais novos... Clarindo e Leonel... Trazia, porém, a cabeça... dominada de planos... Pretendia converter a propriedade... que eu administrava... em larga fonte de renda, contudo... a partilha me estorvava... Notei que os manos... tinham ideias diferentes das minhas... e comecei a maquinar o projeto que acabei... executando..." (Uma crise de soluços embargou-lhe a voz, mas Druso, amparando-o magneticamente, insistiu para que continuasse.) "Admiti –  prosseguiu a Entidade enferma –  que somente poderia ser feliz, aniquilando meus irmãos e... quando o inventário estava prestes a decidir-se, convidei-os a passear comigo... de barco... inspecionando grande lago de nosso sítio... Antes, porém, dei-lhes a beber um licor entorpecente... Calculei o tempo que a droga reclamaria para um efeito seguro e... quando a nossa conversação ia acesa... percebendo-lhes os sinais de fadiga... num gesto deliberado desequilibrei a embarcação, em conhecido trecho... onde as águas eram mais fundas... Ah! que calamidade inesquecível!... Ainda agora, escuto-lhes os brados arrepiantes de horror, implorando socorro... mas... de nervos dormentes... a breves minutos... encontraram a morte... Nadei de consciência pesada, mas firme em meus aloucados propósitos... abordando a praia e clamando por auxílio... Com atitudes estudadas, pintei um imaginário acidente... Foi assim que me apossei da fazenda inteira, legando-a, mais tarde, a Luís... o meu filho único... Fui um homem rico e tido por honesto... O dinheiro granjeou-me considerações sociais e privilégios públicos que a política distribui com todos aqueles que se fazem vencedores no mundo... pela sagacidade e pela inteligência... De quando em quando... recordava meu crime... nuvem constante a sombrear-me a consciência... mas... em companhia de Alzira... a esposa inolvidável... procurava distrações e passeios que me tomavam a atenção..." (Capítulo 3, pp. 43 e 44)

18. Os irmãos se vingam – Olímpio prosseguiu sua narrativa: "Quando meu filho se fez jovem... minha mulher adoeceu gravemente... e da febre que a devorou por muitas semanas... passou à loucura... com a qual se afogou no lago... numa noite de horror. Viúvo... perguntava a mim mesmo se não estava sendo joguete... do fantasma de minhas vítimas... entretanto... temia todas as referências em torno da morte... e busquei simplesmente gozar a fortuna que era bem minha..." (Fez-se ligeira pausa.)   "Ai de mim, porém!... –  informou a Entidade. –  Tão logo cerrei os olhos físicos... diante do sepulcro... não me valeram as preces pagas... porque meus irmãos que eu supunha mortos... se fizeram visíveis à minha frente... Transformados em vingadores, ladearam-me o túmulo... Atiraram-me o crime em rosto... cobriram-me de impropérios e flagelaram-me sem compaixão... até que... talvez... cansados de me espancarem... conduziram-me a tenebrosa furna... onde fui reduzido ao pesadelo em que me encontro... Em meu pensamento... vejo apenas o barco no crepúsculo sinistro... ouvindo os brados de minhas vítimas... que soluçam e gargalham estranhamente... Ai de mim!... estou preso à terrível embarcação... sem que me possa desvencilhar... Quem me fará dormir ou morrer?..." (Aliviado pela confissão, o doente arrojou-se a enorme apatia.) Druso enxugou-lhe o pranto e dirigiu-lhe palavras de consolo e carinho, recomendando ao Assistente recolhê-lo em enfermaria especializada, quando um mensageiro avisou que uma caravana de recém-desencarnados estava prestes a chegar à Mansão. (Capítulo 3, pp. 44 e 45)

19. A caravana – André, logo em seguida, acompanhou Druso a um largo recinto construído à feição de um pátio inferior de proporções bem amplas. Dezenas de entidades em franca expectativa ali se encontravam, mas não havia sinais de alegria completa em rosto algum. Os grupos variados dividiam-se entre a preocupação e a tristeza. Num deles, uma senhora dizia a um rapaz de semblante agoniado: "Meu filho, guarde serenidade. Segundo informações do Assistente Cláudio, seu pai não virá em condições de reconhecer-nos. Precisará muito tempo para retornar a si". Druso, porque tinha obrigações urgentes a cumprir, confiou André aos cuidados de Silas, prometendo reencontrá-lo no dia seguinte. A sombra reinante não permitia saber se era dia ou noite. Por isso, o grande relógio ali existente, com largo mostrador abrangendo as vinte e quatro horas, funcionava aos seus olhos como a bússola para o viajante. (O autor do livro lembra que se tratava de região encravada nos domínios do próprio globo terrestre, submetida às mesmas leis que regulam o tempo.) Sons de campanas invisíveis cortavam o ar, o que indicava, segundo Silas, que a caravana penetraria no recinto em minutos. O companheiro espiritual informou que as entidades prestes a entrar integravam uma equipe de 19 pessoas, acompanhadas por dez servidores da Mansão, que lhes orientavam a excursão. Tratava-se de recém-desencarnados em desequilíbrio mental, mas credores de imediata assistência, uma vez que não se achavam em desesperação, nem se haviam comprometido de todo com as forças dominantes nas trevas. (Capítulo 4, pp. 47 a 49)

20. A moça que não queria morrer – A caravana se constituía de trabalhadores especializados que, sob a chefia de um Atendente, viajavam com simplicidade, sem carros de estilo, conduzindo apenas o material indispensável à locomoção no pesado ambiente das sombras, auxiliados por alguns cães inteligentes e prestimosos. A Mansão contava com dois grupos dessa natureza, que se revezavam no labor socorrista: diariamente um deles atingia aquele pouso de reajuste, mas não se obedecia a horário certo para a chegada, uma vez que a peregrinação pelos domínios das trevas dependia de fatores circunstanciais. Quando a caravana chegou, André observou que os cooperadores responsáveis estavam aparentemente calmos. Os enfermos recolhidos à Casa, com exceção dos que foram conduzidos de maca, desmemoriados e dormentes, revelavam, porém, perturbações manifestas que, em alguns, se expressavam por loucura desagradável, embora pacífica. Os cães se deitaram, extenuados. Afeiçoados e parentes dos recém-chegados os cercavam com expressões de alegria e sofrimento; alguns derramavam lágrimas discretas. As criaturas recém-desligadas do corpo denso, conturbadas ainda, traziam consigo todos os sinais das moléstias que lhes haviam imposto a desencarnação. Uma jovem recém-liberta da vida física rogava, abraçada à própria mãe que a aguardara: "Não me deixem morrer!... não me deixem morrer!..." E, enclausurada na lembrança dos derradeiros momentos no corpo terrestres, avançou para Silas, exclamando: "Padre! padre, deixa cair sobre mim a bênção da extrema-unção; contudo, afasta de minhalma a foice da morte!... Tentei apagar minha falta na fonte da caridade para com os desprotegidos da sorte, mas a ingratidão, praticada com minha mãe, fala muito alto em minha consciência infeliz!... Ah! por que o orgulho me encegueceu, assim tanto, a ponto de condená-la à miséria?!... Por que não possuía eu, há vinte anos, a compreensão que tenho agora? Pobrezinha, meu padre! Lembra-se dela? Era uma atriz humilde que me criou com imensa doçura!... Concentrou em mim a existência... Da ribalta festiva, desceu a rude labor doméstico para conquistar nosso pão... Tinha a sociedade contra ela, e meu pai, sem ânimo de lutar pela felicidade de todos nós, deixou-a arrastar-se na extrema pobreza, acovardado e infiel aos compromissos que livremente assumira..." (Capítulo 4, pp. 49 e 50)

Respostas às questões propostas

A. As palavras de consolo e carinho ajudam o Espírito torturado pelo remorso?
Sim, mas não são capazes de apagar a lembrança dos atos praticados. O caso Antônio Olímpio é um exemplo expressivo do que realmente ocorre. Seus irmãos, que ele supunha mortos, se faziam visíveis à sua frente e, mesmo depois dos inúmeros flagelos a que foi submetido, ele ainda via o barco que usou para matá-los e ouvia seus brados. “Ai de mim!... estou preso à terrível embarcação... sem que me possa desvencilhar... Quem me fará dormir ou morrer?..." Estas palavras revelam o que efetivamente acontece em casos semelhantes. (Ação e Reação, cap. 3, pp. 44 e 45.)

B. Onde ficava a região cujas sombras não permitiam saber se era dia ou noite?
Segundo André Luiz, tratava-se de uma região encravada nos domínios do próprio globo terrestre, submetida, portanto, às mesmas leis que regulam o tempo. Um grande relógio no pátio em que se encontravam apontava as horas. Ali era aguardado um grupo de Espíritos recém-desencarnados em desequilíbrio mental que seriam assistidos por servidores da Mansão Paz. (Obra citada, cap. 4, pp. 47 a 49.)

C. Os Espíritos recém-desligados do corpo traziam ainda os sinais das moléstias que lhes haviam causado a desencarnação?
Sim, esse fato é, aliás, bastante comum. Além disso, muitos deles, movidos pelo remorso dos erros cometidos na existência recém-finda, diziam que não queriam morrer, suplicando para isso a ajuda dos servidores da Mansão que ali se encontravam. (Obra citada, cap. 4, pp. 49 e 50.)



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