Existe vida depois da vida?
A revista Veja, um dos periódicos mais admirados
de nosso País, perdeu excelente oportunidade de mostrar seu respeito à verdade
quando escalou seu correspondente em Nova York para tratar do tema que dá
título a este texto, fato que se deu em uma extensa reportagem que se inicia,
no entanto, com uma afirmação no mínimo infeliz: “Nos 50.000 anos de história
humana na Terra, jamais surgiu prova de que a morte não é o fim da linha, mas
nunca deixamos de acreditar nessa possibilidade”.
A que prova o correspondente
se refere?
A Bíblia não lhe
serve?
Caso sirva,
poderíamos citar aqui, de memória, a aparição de Samuel ao rei Saul, a visita
de Elias e Moisés a Jesus e a própria aparição do Cristo aos seus discípulos,
horas depois de ter sido declarado morto e sepultado.
Servem as
comunicações recebidas por Chico Xavier?
As centenas de
mensagens de pais e mães que reencontraram seus filhos de nada valem?
De algum valor têm
para o jornalista os relatos do dr. Raymond Moody Jr. ou os da dra. Elisabeth
Kübler Ross?
Não lhe serve,
porventura, o depoimento do padre François Brune expresso em obras em que ele
atesta, com base em fatos, que os mortos nos falam?
É claro que nada
disso serve para o autor da reportagem, o qual certamente entende, como muitas
pessoas gostam de dizer, que somente a Ciência é que pode dar a esse respeito o
veredicto definitivo.
Mas, a que Ciência
ele se refere?
À Física, à
Biologia, à Química, à Medicina?
Essas disciplinas
ditas científicas alguma vez se interessaram em pesquisar realmente o fenômeno
da morte e a sobrevivência post mortem?
Onde estão
publicados os resultados dessas pesquisas?
O leitor sabe,
porém, que para crer que a vida continua além-túmulo não é preciso que a
Ciência venha nos dizer. Esta é outra tolice própria de quem escreve sobre
assunto que não conhece.
Quantas pessoas
adquiriram essa convicção – não simplesmente fé – em função de uma ocorrência
trivial!
Lombroso era cético,
mas não aguentou quando viu o Espírito de sua própria mãe abraçá-lo.
Em Londrina, um
conhecido e respeitado professor de Matemática, ateu e materialista,
transformou-se quando deparou o próprio sogro materializado, na sala de sua
casa, por três vezes, até que na terceira vez caminhou e o abraçou. Desaparecia
ali o materialista, nascia um novo espírita.
A respeito do tema,
é sempre bom lembrar as sábias palavras de Allan Kardec:
“Diz-se vulgarmente
que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a
culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais
certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de
possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais
básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete
procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem
sinceramente, não deixarão de achá-la.” (O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7.)
Para isso pode, sim,
a Ciência ajudar, mas a Filosofia e a Religião também podem, sendo certo que
muitos – como ocorreu com Lombroso e o matemático a que nos referimos –
chegaram a ela por meio dos fatos, sem que ninguém tivesse exercido influência
para isso.
*
O correspondente de Veja repete, em verdade, um chavão que
é bem caro aos materialistas em geral, mas a repetição de ideias assim revela
tão somente ignorância das pesquisas e dos trabalhos que, no campo dos
fenômenos psíquicos, foram realizados nos dois últimos séculos, notadamente na
Europa.
Em seu livro
intitulado Por que creio na imortalidade
da alma, obra de 1929, traduzida para o nosso idioma por Francisco Klörs
Werneck, Sir Oliver Lodge faz observações sobre o comportamento dos que negam
os fatos baseados simplesmente em preconceito. Segundo ele, os homens de
ciência não têm senão um “conhecimento parcial e imperfeito dos fatos”, do que
se deriva sua descrença.
Nascido em 12 de
junho de 1851 em Penkhull, Sttafordshire, Inglaterra, Lodge desencarnou a 22 de
agosto de 1940, aos 89 anos de idade, em Amesbury, Wiltshire, em seu país
natal. Sua vida pode ser dividida em duas partes distintas. Até os 56 anos de
idade, granjeou fama mundial como professor e inventor, notadamente no campo da
radiotelegrafia. Educado na Grammar School, de Newport, e no University
College, de Londres, especializou-se em Física. Professor emérito, foi feito
cavaleiro pelo rei Eduardo VII, em 1902, e recebeu grau de doutor em Ciências por sete
Universidades.
Inventor do “coherer”,
o primeiro detector de ondas a ser usado, de relevante papel na telegrafia sem
fio, foi ele o primeiro cientista a enviar mensagens pelo telégrafo sem fio, em
1894, antes de Marconi ter-se ocupado do assunto. E uma de suas maiores glórias
foi a descoberta das ondas hertzianas e o modo de detectá-las, descoberta que
foi efetuada por Hertz quase que simultaneamente, razão pela qual elas ficaram
associadas ao nome de Hertz.
De 1901 a 1903, já
estudioso dos fenômenos espíritas, presidiu a Sociedade de Pesquisas Psíquicas
de Londres, havendo realizado numerosas experimentações com os médiuns Verall e
Leonora Piper e assistido, em 1894, com Charles Richet, a algumas das célebres
sessões de efeitos físicos de Eusápia Paladino.
As provas que Oliver
Lodge obteve da sobrevivência e comunicação de seu filho Raymond foram das mais
robustas, e tão evidentes, que deram origem ao livro Raymond, traduzido para o português pelo escritor Monteiro Lobato.
Psiquista convicto e
erudito, Oliver Lodge, como tantos outros cultores do Psiquismo Transcendental,
admitia a existência da alma, a sua preexistência ou sobrevivência, e a
fenomenologia espírita.
Atestando sua
convicção na imortalidade em diversas obras, como A Sobrevivência Humana, A
Formação do Homem e Raymond,
Lodge declarou, com toda a clareza, na última referida: “Jamais ocultei minha
crença de que a personalidade não só persiste, como ainda continua mais
entrosada ao nosso viver diário do que geralmente o supomos; de que não há
nenhuma solução de continuidade entre os vivos e os mortos”.
Na introdução do
livro Por que creio na imortalidade da
alma, Lodge afirma: “Conheço o peso da palavra ‘fato’ na Ciência e digo,
sem hesitação, que a continuidade individual e pessoal é para mim um fato
demonstrado”.
Se ao jornalista de Veja o depoimento de Oliver Lodge não
tem maior importância, que tal examinar as experiências de outro físico
britânico – Sir William Crookes – que pesou, auscultou, fotografou o Espírito
materializado de Katie King e apresentou o relatório de suas pesquisas à
Associação Britânica de Ciências, sobre as quais, vinte anos depois, declarou:
“Jamais tive que mudar de ideia a tal respeito. Estou perfeitamente satisfeito
do que disse nos primeiros dias. É muito certo que um contato foi estabelecido
entre este mundo e o outro.”
Em resposta à
pergunta se o Espiritismo não havia liquidado o velho materialismo dos
cientistas, Crookes declarou: “Penso que sim. Pelo menos ele convenceu a
maioria do povo, que sabe alguma coisa relativa à existência do outro mundo”. (The International Psychic Gazette,
Dezembro, 1917, 61-2.)
Não satisfeito com
os dois sábios britânicos, a revista Veja
poderia ao menos consultar o livro História
do Espiritismo, escrito por Arthur Conan Doyle, no qual o leitor isento de
preconceito verá que os fenômenos comprobatórios da imortalidade da alma foram
objeto de atenção dos sábios mais ilustres do mundo, tais como Gully,
Elliotson, Challis, Morgan, Wallace, Varley, Lombroso, Zöellner, Carl du Prel,
Charles Richet, Aksakof, Rochas e muitos outros, além de Crookes e Lodge.
No prefácio do livro
Researches in the phenomena of the
spiritualism, de 1874, Oscar D´Argonell escreveu: “A existência da alma,
que era apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a
filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade
científica. Atualmente os sábios dizem que a alma existe porque a veem e tocam,
conversam com ela e lhe tiram o retrato. A prova científica da existência da
alma e da sua comunicação conosco é o legado mais brilhante que o presente
século vai deixar ao vindouro.”
Pena que a revista Veja não tenha tido conhecimento disso.
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