Aparições
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Estudioso das Escrituras Sagradas, que
sempre fui, refletia na frase paulina, sem entendê-la plenamente: “Semeia-se
corpo animal, ressuscita-se corpo espiritual. Se há corpo animal, há também
corpo espiritual” (I Cor., 15:44). Então, ao iniciar-me na Vida Espiritual,
após transpor as águas do rio Lete e escapar do Hades, com o auxílio de
Caronte, pude melhor entender o que Paulo quis dizer: todos nós, quando
encarnados, possuímos o corpo físico ou animal, o corpo perispiritual,
“semimaterial”, ao qual ele chama espiritual, e a alma que, ao desencarnar, é
chamada espírito.
Agora, sim, alcançados os Campos Elísios,
tudo ficou claro como as águas de cristal. Ainda assim, resolvi agendar uma
entrevista com um espírito superior para clarear esse assunto. Qual não foi
minha surpresa quando o próprio Allan Kardec surgiu à minha frente para
responder minhas perguntas.
Após os efusivos cumprimentos iniciais,
iniciei a entrevista com a seguinte questão:
— Quem te revelou a existência do corpo
espiritual, a que chamaste perispírito?
— Meu caro Machado, foram os próprios
espíritos que me deram essa informação, e o neologismo perispírito foi
“adotado” por eles(1).
— Então diz-me uma coisa, para que meu
curioso leitor mais bem esclarecido sobre suas dúvidas quase infinitas, essa
forma a que chamas perispírito pode ser vista por uma pessoa encarnada?
— Somente quando o Espírito deseja que isso
ocorra. Nesse caso, ele como que condensa seu perispírito, “por uma disposição
molecular” apropriada a seu objetivo. Todavia, “essa propriedade ele a pode
estender, restringir e fazer cessar à vontade” (id).
Nisso, Joteli, que não perde a ocasião de
dar seu pitaco na conversa alheia, interveio.
— Agora entendi perfeitamente o significado
da frase dita por Chico Xavier: “O telefone toca de lá para cá”...
— Isso mesmo, Joteli, só nos manifestamos
quando, onde e a quem queremos... Concluí.
— Ou a quem podemos, meu caro Bruxo.
— É verdade, Kardec. Explica, então, a
Joteli e demais nove ou dez leitores desta crônica qual a forma que o espírito
pode tomar, ao se manifestar a alguém capacitado a vê-lo.
— Então, não é a forma humana, em geral, a
da última encarnação?
— Amigo obtuso, nunca leste que “o espírito
sopra onde quer”? Passo a palavra ao Codificador para, melhor que eu,
esclarecer tua dúvida, Joteli.
— Sim, meus caros, a forma normal do
perispírito é a humana. Entretanto, o espírito pode dar ao seu corpo espiritual
a aparência que desejar.
— Mesmo a de um animal?
— Sim, Joteli, mesmo a de um animal ou a de
uma simples chama(2).
— Se aparecesses para mim, agora, que forma
terias, Kardec? Perguntou-lhe Joteli.
— A forma de minha última encarnação como
Allan Kardec. Naturalmente!
— Machado, aproveito os esclarecimentos do
Codificador para contar ao nosso amável leitor um singelo caso que presenciei
no tempo de minha juventude. Tendo conhecido os pais de uma menina de seus nove
ou dez anos, superdotada, fiz-lhes algumas visitas, e sua mãe relatou-me, no
primeiro encontro, que seu marido tinha visões e, por vezes, ficava louco.
Na segunda visita, encomendei ao esposo da
informante, que não me pareceu nada aloprado, uma pequena mesinha de madeira,
haja vista ser ele marceneiro.
Ao retornar ao lar do casal, cuja
marcenaria ficava nos fundos da casa, o dia já escurecera, e sua esposa estava
sentada em frente à porta que dava para a rua. Sentei-me a seu lado e ela,
apavorada, disse-me que estava vendo muitos policiais em cima dos postes de
luz, no telhado da casa, por toda a parte. A “doida” era ela, e não o marido
que, dias depois, me entregou o móvel...
O casal conheceu o centro espírita que eu
frequentava e lhes indicara. Ali, a senhora tratou-se espiritual e fisicamente.
Desse modo, perdeu o medo dos espíritos, pois, como dizes, Kardec, os espíritos
nunca nos aparecem sem um propósito e, qualquer que seja a forma que tomem, não
nos podem fazer mal algum, se estivermos sob a proteção Divina.
— Joteli, para que nosso leitor fique bem
informado, faço ao Codificador a seguinte pergunta: qual a finalidade da
manifestação dos espíritos aos que ainda estão na matéria?
— Machado, além de cumprir a promessa de
Jesus, contida no capítulo 14 do Evangelho
de João, nossa aparição maciça visa fazer o homem compreender que a matéria
não passa de ilusão dos sentidos, pois até mesmo quando já não estamos no corpo
físico podemos nos materializar. Entretanto, quem vive para a matéria não
consegue espiritualizar-se.
— E se a pessoa optar por viver para a matéria,
por considerar muito vaga a ideia de se viver para o espírito?
— Não tem ela o livre-arbítrio, Joteli? A
criança, também, gostaria de ser sempre infantil, mas, como diz Paulo de Tarso,
depois que ela se torna adulta, não mais quer saber das coisas pueris (I
Coríntios, 13:11).
— Sem ter a petulância de estar ensinando
algo a Machado, pois o objetivo de sua pergunta é esclarecer o leitor destas
linhas, creio que a finalidade da influência dos espíritos em nossas vidas,
ação que pode ocorrer até mesmo pelos sonhos, é guiar os nossos pensamentos e
atos. Pelo menos é o que entendi quando li a questão 459 d’O livro dos espíritos.
— É isso mesmo, Joteli. Tua interpretação
está correta, porém é preciso não esquecer que as influências do influenciador
dependerão sempre da assimilação do influenciado. Tens um ditado que diz:
“Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Na relação conosco, somos atraídos
pelos que nos são simpáticos e repelidos pelos que não nos têm afinidade
espiritual.
— É verdade, Kardec. Por outro lado, como a
vida material poderia até mesmo deixar de existir, pois a vida espiritual
precede e sucede àquela, inteligente é quem “aposta todas as suas fichas” na
revelação espírita.
— Quem estuda e pratica a Doutrina
Espírita, Machado, não tem medo de aparições, pois o Espiritismo é o
Cristianismo redivivo sem fanatismo, sem sectarismo, sem fé cega... Como eu
disse n’O evangelho segundo o espiritismo,
sua máxima é: “Fora da caridade, não há salvação!”
— Obrigado, Kardec. Até breve, amigos!
[1] KARDEC, A. Revista espírita, dez. 1858. 5. ed.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2014, p. 472.
[2] Id., p. 473.
Como consultar as matérias deste blog? Se você não
conhece a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá
como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.
|
É de arrepiar! Mas, como disse Jesus: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Abraços fraternos e obrigado ao amigo e mentor espiritual Astolfo.
ResponderExcluir