Onde se inicia a educação
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Boa noite, amigos! Hoje teceremos
algumas palavras sobre a família.
No capítulo 4 d’O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec informa-nos que os
laços familiares não se destroem com a reencarnação, pois ampliam a família
universal. Não nos separam, como poderia ocorrer, caso alguns de nós fossem
para o céu e outros para o inferno, de acordo com a doutrina da Igreja.
Aos que se contrariam com a
possibilidade reencarnatória, afirmando que, desse modo, a parentela aumenta
muito, o Codificador do Espiritismo explica que esse “é um temor egoísta”, por
provar, em quem o sente, imensa falta de amor, ante a possibilidade deste se
expandir a uma grande quantidade de pessoas. Os pais que apenas possuem um
filho amam-no tanto quanto se tivessem dois ou mais, explica Kardec.
É verdade que pode renascer, no lar,
alguém que, como se diz popularmente, “não é da família”. Isso serve de prova
para uns e de adiantamento para outros, explica-nos o mestre lionês[1]. Diz ele
que, desse modo, “os maus melhoram-se pouco a pouco, ao contato com os bons e
por efeito dos cuidados que destes recebem. O caráter deles abranda-se, seus
sentimentos depuram-se, as antipatias apagam-se” (op. cit., it. 19).
A grande missão dos pais é educar seus
filhos no sentido moral e espiritual. E isso é de fundamental importância, em
especial nos sete primeiros anos de vida da criança, quando sua alma ainda está
tomando posse completa do corpo, e o ser é mais maleável à influência dos
adultos.
Hoje em dia, com o avanço das ideias
materialistas, é preciso cuidado redobrado de pais e responsáveis pela educação
dos seus filhos. Segundo Lima, as
crianças aprendem muito mais com o que observam outrem fazer do que com o que
lhes é dito. E exemplifica com o caso, bastante comum, de mãe, ensinando:
“Filhinha, não minta, mentira tem perna curta. É desagradável, prejudica as pessoas.
A criança ouve isso o dia todo: não minta, não minta”[2].
À noite, entretanto, prossegue Lima, o
telefone toca, a filha atende, diz que a ligação é para a mãe. Esta
considera-se ocupada e assopra no ouvido da criança: “Diz que a mamãe não
está”.
Essa cena repete-se várias vezes, ao
longo do tempo, e a filha aprende que o que se faz é bem diferente do que se
diz. Com o tempo, pode julgar isso normal.
É por esse motivo que precisamos
repetir, para nós mesmos, incansáveis vezes esta frase de Kardec: “O verdadeiro
espírita se reconhece pela sua transformação moral e pelo esforço que emprega
para domar suas más inclinações”[3]. Parafraseando Santo Agostinho[4], devemos
analisar, sempre, o que fazemos ao próximo; em especial, o que mostramos às
nossas crianças, e procurarmos corrigir, a todo momento, nossos erros.
Se, no dia a dia, ou mesmo durante o culto do evangelho no lar, realizado em
minha casa, junto de meus filhinhos, comento sobre a necessidade do perdão
ilimitado, como proposto por Jesus, e, no convívio com pessoas que me
ofenderam, demonstro odiá-las, minhas pequenas testemunhas, reforçadas por meus
atos, vão crescer acreditando ser mais fácil não perdoar...
Se escrevo ou falo sobre a tolerância
religiosa e critico a religião alheia, meus filhos poderão descrer da eficácia
de minha crença.
Se sou consumidor de fumo ou de bebida,
é contraditório dizer às crianças que tais vícios devem ser evitados.
Se passo a vida comentando erros
alheios, de nada adianta dizer aos meus filhos que é pecado falar das faltas de
alguém.
Se condeno a procura por bens materiais
supérfluos e a usura, mas passo a vida acumulando riquezas, apenas em benefício
próprio, minha ambiciosa conduta desmente minhas palavras.
Se possuo noções filosóficas ou
políticas diferentes das de outras pessoas, a quem considero estúpidas, apenas por não pensarem como
eu, de nada servem minhas palavras sobre a necessidade de respeitar as ideias
alheias.
Desse modo, a incoerência, o egoísmo e
a falta de amor ao próximo ressaltarão, para nossas crianças, de nossas
atitudes, muito mais que de nossas palavras.
Pensemos nisto e reflitamos: se
queremos que o mundo melhore, é preciso nosso esforço sincero em, tanto pelo
exemplo como pela palavra, investirmos na educação. E isso começa, sobretudo,
dentro de nós, e continua dentro de nossos lares, ante os olhares atentos de
nossos filhos.
_______________________________
[1] Allan Kardec nasceu na cidade de Lyon, na França.
[2]
LIMA, Simão Pedro. Viver melhor: uma
abordagem espírita. Goiânia: FEEGO, 2016, p.
[3]
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. 17, it. 4.
[4] _____.
Allan. O Livro dos Espíritos, q.
919a.
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