sábado, 30 de junho de 2018




A volta de Machado à FEB do Rio
   
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Nem acredita o leitor onde estive na semana passada. Pois é, estive na sede histórica da Federação Espírita Brasileira (FEB), que foi fundada em 10 de dezembro de 1911, na Avenida Passos, nº 30, no Rio de Janeiro.
No século XIX, ainda não foi ali que estive, mas sim em seu antigo endereço, na Rua da Carioca nº 120, sobrado onde também residia seu fundador, o português Augusto Elias da Silva. Esse fato foi relatado em minha crônica de 5 de outubro de 1885, na Gazeta de Notícias.
Após assistir à conversa de alguns diretores da Casa sobre atividades de assistência social da FEB, acompanhei-os, ao lado de Jó, até o restaurante da Rua Buenos Aires, onde todos almoçamos. Em seguida, caminhamos pela Rua Gonçalves Ledo, entramos por uma travessa dessa rua e alcançamos o Teatro João Caetano.
Caminhando mais um pouco, chegamos ao Real Gabinete Português de Leitura, local de minhas antigas pesquisas e no qual presidi quatro sessões da Academia Brasileira de Letras. Ao fundo do salão, belo busto de Camões. Ao lado do vate português, grande espada, que eu trocaria por bela caneta descansando após a escrita deste seu famoso soneto:

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.1

De retorno à FEB, passeamos um pouco pelo comércio da Rua da Alfândega, acotovelados por milhares de pedestres. Nesse local, à frente das lojas que ladeiam a rua, seus concorrentes, os camelôs, vendiam todo tipo de mercadoria, desde frutas diversas e tropicais, como cajaranas e bananas a chaveiros, roupas e calçados variados.
Mas o que mais me impressionou, no centro do Rio, foi a quantidade de mendigos. Um deles, deitado ao lado do teatro João Caetano, lembrou-me famosa peça teatral de Chico Buarque e Paulo Pontes: Gota d’Água.
Deixo aqui meu louvor à Federação Espírita Brasileira que, bem perto dali, realiza um trabalho social que remonta a mais de um século, com base em famosa frase de Allan Kardec: “Fora da caridade, não há salvação”.


[1] PIVA, Luís. Organização e comentários. Luís de Camões: antologia. Brasília: Thesaurus, 1983, p. 63.







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