A morte e os
seus mistérios
Ernesto Bozzano
Parte 16
Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano,
conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa
expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos
chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que outro fato pôde ser observado nas manifestações em
que atuou a médium Elisabeth Eslinger, a vidente de Prevorst?
B. No caso Elisabeth Eslinger, verificou-se algum fato que
nos autorize excluir em definitivo a hipótese dos “estigmas por sugestão
emotiva”?
C. Segundo Bozzano, o enigma referente à natureza do
elemento psicofísico que determina tais fenômenos está suficientemente
resolvido?
Texto para
leitura
243. Passando às manifestações que constituem o objeto
desta monografia, Bozzano observa que no caso Elisabeth Eslinger encontra-se um
conjunto de fatos teoricamente interessantes, porque são semelhantes a outros
de que ele tratou anteriormente.
244. Sobressai, com efeito, da narração que, quando o Espírito
tocava uma pessoa, esta sentia ao mesmo tempo uma sensação de queimadura, que
era logo seguida de uma marca azulada ou de uma bolha. Trata-se, pois, de uma
reunião de fatos que se juntam aos quatro narrados antes e já comentados nesta
obra. Segue-se daí que esse outro grupo de fatos análogos que se produziram no
caso de Elisabeth Eslinger serve para confirmar, ulteriormente, os quatro casos
citados anteriormente. Em outros termos: os incidentes em questão, embora de
natureza menos sensacional do que as "impressões de mãos de fogo",
poderiam bastar, por si mesmos, para provar a existência real dos fenômenos em
questão.
245. A outra manifestação, na qual o fantasma apertou uma
mão protegida por um lenço, deixando na fazenda a impressão em fogo de cinco
dedos, é por sua vez interessante, porque ela se deu em plena luz do dia, na
presença de várias pessoas que viram o fantasma mais ou menos nitidamente. Essa
manifestação se reúne, eficazmente, às outras antes citadas, nas quais as
impressões ficaram gravadas em tecidos e objetos, o que serve para excluir,
definitivamente, a hipótese dos "estigmas por sugestão emotiva",
destinada a explicar, em bloco, os fenômenos de mãos de fogo.
246. Já que o material dos casos recolhidos é abundante,
não é preciso escolher outros que possam ser considerados como suficientemente
documentados. Trata-se, na maior parte, de casos tirados de velhas crônicas,
especialmente da hagiografia cristã e, por consequência, desprovidos de
qualquer testemunho autorizado. Com efeito, durante os séculos passados –
séculos de fé e não de ciência - a documentação dos episódios que se relatavam
parecia ser aos autores uma superfluidade árida, prejudicial ao fim principal e
eficaz da narração.
247. Infelizmente, o fato de dever excluí-los em bloco
desta classificação prejudica o estudo desta categoria de fenômenos, uma vez
que a autenticidade de alguns dentre eles sobressai nitidamente da concordância
dos detalhes secundários. Trata-se de episódios que teriam considerável valor
teórico se se pudesse utilizá-los para a pesquisa das causas, mas, como não se
poderia cientificamente fazê-lo, preciso é resignar-se ao inelutável.
248. De qualquer modo, observa-se que os nove casos
apresentados nesta obra, todos eles suficientemente documentados, concordam
inteiramente entre si, em certas particularidades de manifestação, que não
podiam, certamente, surgir identicamente na mente de pretensos mistificadores,
pois estes ignoravam certamente a existência de manifestações semelhantes.
249. Parecendo-lhe que são bastantes para demonstrar a
existência real dos fenômenos das "impressões de mãos de fogo",
Bozzano passou a investigar a origem provável dessa categoria de manifestações,
ou melhor dito, a natureza dos elementos psicofísicos que os determinam.
250. Ora, se se põe de lado a lenda teológica das almas que
ardem nas chamas do Purgatório ou do Inferno, só resta uma hipótese
rigorosamente possível e da qual ele já falara, isto é, a hipótese
"vibratória", graças à qual assistimos, espantados, aos milagres do Rádio
e da Televisão.
251. Se se pensa que o que chamamos "calor" e
"frio" constitui um fenômeno único, que difere enormemente para os
nossos sentidos, em consequência da intensidade maior ou menor com que se
produz, mister se faz deduzir daí que, se a tonalidade vibratória dos fluidos,
de que se revestem os Espíritos dos mortos para se tornarem visíveis e
tangíveis, fosse consideravelmente mais intensa do que a inerente à substância
viva ou aos tecidos vegetais, deverá inevitavelmente seguir-se que as vibrações
muito intensas da substância espiritual, encontrando-se com as relativamente
fracas dos tecidos vivos e vegetais, devam destruir estes últimos como o faria
o fogo, o que determinaria os fenômenos das "impressões de mãos de
fogo".
252. Com esta explicação, o enigma referente à natureza do
elemento psicofísico que determina os fenômenos em questão pode ser considerado
como teoricamente resolvido, em perfeita concordância com as últimas
generalizações científicas. Esta interpretação dos fatos está, aliás,
inteiramente conforme com o que afirmam as personalidades mediúnicas a respeito
das sensações de calor e frio que sentem os vivos ao contato das mãos dos
fantasmas.
253. Bozzano relata, em seguida, o que disse uma mensagem mediúnica
sobre o assunto. A revista espírita americana The Progressive Thinker, de Chicago, em seu número de 7 de abril de
1923, publicou uma narração das experiências mediúnicas do doutor em medicina
George B. Kline, no decurso das quais foi dirigida a uma personalidade
mediúnica a seguinte pergunta: "Por que as materializações de fantasmas,
com raras exceções, não se produzem nunca em plena luz?"
254. A explicação dada pela entidade comunicante é de
natureza "vibratória" e reveste certo interesse teórico, entretanto
Bozzano não a cita porque sai do tema de que nos ocupamos e dela se limitou a
extrair a seguinte passagem, na qual se toca nas sensações de calor e frio,
sentidas pelos vivos ao contato dos fantasmas: "Quando um Espírito toca um
dos assistentes e esse experimenta uma sensação de frio, isto significa que as
moléculas fluídicas que o tornaram substancial vibram com uma tonalidade muito
inferior à das moléculas que constituem o corpo do experimentador. Ao
contrário, como sucede na maior parte das vezes, quando ao contato da mão do
Espírito, o experimentador sente uma impressão de calor causticante, isto
significa que as moléculas fluídicas, que constituem essa mão, vibram com uma
intensidade extraordinária. Essas variações são invisíveis para os vivos, mas
não são imperceptíveis para nós."
255. Tais são as explicações concordantes das
personalidades mediúnicas. Elas devem ser olhadas como decisivas, não porque
venham de entidades espirituais, mas porque suas explicações concordam
perfeitamente com as conclusões a que chegou a ciência, estudando a natureza do
que os nossos sentidos percebem sob a forma de impressões térmicas chamadas
"calor" e "frio".
256. Resta, por fim, resolver uma última questão,
teoricamente muito importante. Se é verdade - e isto não pode dar lugar à menor
dúvida - que o fenômeno das "impressões das mãos de fogo" depende da
elevadíssima tonalidade vibratória dos fluidos que se acham no fantasma, então,
do ponto de vista naturalista, como considerar a extraordinária intensidade na tonalidade
vibratória da substância de que se reveste o fantasma, comparada com a
tonalidade vibratória da substância de que se compõem os organismos?
257. É evidente que, se se acolhesse a hipótese
naturalista, segundo a qual a substância ectoplásmica, a inteligência e a
vontade que caracterizam o fantasma provêm do médium, a tonalidade vibratória
da substância de que o fantasma é formado deveria ser idêntica à da substância
somática do organismo humano. Como, porém, assim não é, como a tonalidade vibratória
no fantasma é muito mais intensa que a do organismo humano, lógico é deduzir-se
daí que a origem dessa tonalidade vibratória é estranha ao médium.
258. Nesse caso, ela só pode depender da natureza
espiritual da entidade que se manifesta, isto é, de um ser independente do
médium. Eis-nos, deste modo, chegados, muito naturalmente, à interpretação
espírita dos fenômenos das "impressões de mãos de fogo",
interpretação que é a única a fornecer uma solução racional dos fenômenos de
que tratamos. Diz Bozzano haver meditado longamente sobre esta questão, com a
intenção de achar uma outra solução, conforme a interpretação naturalista, mas
não conseguiu concebê-la.
Respostas às
questões preliminares
A. Que outro
fato pôde ser observado nas manifestações em que atuou a médium Elisabeth
Eslinger, a vidente de Prevorst?
Segundo se comprovou, quando o Espírito tocava uma pessoa,
esta sentia ao mesmo tempo uma sensação de queimadura, que era logo seguida de
uma marca azulada ou de uma bolha. Fatos como esse, embora de natureza menos
sensacional do que as "impressões de mãos de fogo", poderiam bastar,
por si mesmos, para provar a existência real dos fenômenos em questão. (A morte e os seus mistérios, 2ª
Monografia – Marcas e impressões supranormais de mãos de fogo, Caso IX.)
B. No caso
Elisabeth Eslinger, verificou-se algum fato que nos autorize excluir em
definitivo a hipótese dos “estigmas por sugestão emotiva”?
Sim. Numa das manifestações, o fantasma apertou uma mão
protegida por um lenço, deixando na fazenda a impressão em fogo de cinco dedos.
O fato ocorreu em plena luz do dia, na presença de várias pessoas que viram o
fantasma mais ou menos nitidamente. Essa manifestação se reúne, eficazmente, às
outras anteriormente vistas, nas quais as impressões ficaram gravadas em
tecidos e objetos, o que serve para excluir, definitivamente, a hipótese dos
"estigmas por sugestão emotiva", destinada a explicar, em bloco, os
fenômenos de mãos de fogo. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso IX.)
C. Segundo
Bozzano, o enigma referente à natureza do elemento psicofísico que determina
tais fenômenos está suficientemente resolvido?
Sim. Esse enigma pode ser considerado como teoricamente
resolvido, porque sua explicação está em perfeita concordância com as últimas
generalizações científicas e também com as explicações dadas pelas personalidades
mediúnicas a respeito das sensações de calor e frio que sentem os vivos ao
contato das mãos dos fantasmas. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso IX.)
Observação:
Para acessar a Parte 15 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/01/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto_10.html
Como consultar as matérias deste
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