Tentativa frustrada de alfabetizar Vitalina e sua predição
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Aos
vinte anos, precisei trancar a matrícula quando cursava o segundo ano de técnico
de contabilidade no Colégio Nossa Senhora do Brasil, na Penha, RJ, com bolsas
de estudos sempre fornecidas pelo diretor do colégio, Sr. Rossini Lopes da
Fonte. Eu me incorporara ao Exército,
onde, três anos depois, concluí o curso de formação de sargentos. Fui então
transferido para o 19º Batalhão de Caçadores, em Salvador, BA.
Após
ano e meio lá, transferiram-me para o 4º Batalhão de Engenharia de Construção,
situado em Barreiras, BA, que, na época, estava construindo a estrada
Barreiras, BA-Brasília, DF. Foi ali, em Barreiras, que cheguei a ser convidado
por um colega de farda a dar aula de português em cursinho que ele dirigia na
cidade. Como eu só cursara até o segundo ano incompleto do atual ensino médio,
recusei o convite.
Algum
tempo depois, conheci Vitalina, já idosa, que esteve na inauguração do centro
espírita que eu frequentava. Ela possuía o dom da vidência e sempre me
convidava a participar sem cobrar, a ninguém, um centavo sequer, como pagamento
de suas sessões mediúnicas. Colocava um pouco d’água num copo, concentrava-se
nele e passava a revelar-me o que os Espíritos lhe permitiam ver. Uma dessas
revelações, confirmada, anos após, foi a de que eu escreveria diversas obras
futuramente. Isso foi-me dito quando eu jamais imaginara ser escritor...
Vitalina,
essa alma simples e boa, era analfabeta. Então, tive a ideia de tentar
alfabetizá-la, mesmo sem eu possuir conhecimento didático para isso. Consegui
um livro com o abecedário, comprei algum material escolar e passei a tentar
ensiná-la a ler. E ela, com toda a boa vontade, mas com alguma dificuldade, lia
e ria encantada:
—
Bê a... bá; bê é... bé...
Não
demorou muito tempo, porém, conheci Lourdes, com quem me casei. E Vitalina
conheceu o senhor Antônio, com o qual passou a viver. Um dia, já transferidos
para Brasília, fomos a Barreiras nas férias e, em visita ao casal,
perguntei-lhe:
—
E as aulas de alfabetização, Vitalina, têm continuado com o Sr. Antônio? — Ao
que ela respondeu, com tristeza nos olhos e ante o sorriso dele:
—
Antônio não tem paciência em me ensinar a ler, mas também minha cabeça, nessa
idade, já não ajuda...
Nunca
mais os vimos. Anos depois, Vitalina desencarnou.
Tudo
o que a baiana Vitalina me disse concretizou-se em Brasília, onde residimos
desde 1980. O mais interessante é que os baianos parecem ser os que mais
adotam, nas escolas, nosso livro didático: Texto Acadêmico: técnicas de
redação e de pesquisa científica, cuja décima edição a Editora Vozes, de
Petrópolis, RJ, reimprimiu em 2019. Tanto é assim que, anos atrás, fui
convidado a proferir palestra num seminário sobre técnicas de pesquisa, com
base nessa obra, na faculdade situada em Paripiranga, cidade do interior
baiano.
“—
Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos?” — pergunta Allan
Kardec na questão 459 d’O Livro dos Espíritos.
“—
Muito mais do que imaginais, pois frequentemente são eles que vos dirigem”. — É
o que lhe foi respondido. E temos constatado, ano após ano, a verdade desta
resposta. Sim, os Espíritos guiam-nos. Mas há anjos encarnados que os auxiliam
e nos deixam marcas indeléveis, ainda que façamos tão pouco por estes...
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