O Evangelho segundo o Espiritismo
Allan Kardec
Parte 9
Prosseguimos o estudo metódico de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que
compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril
de 1864.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o
texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari
passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN
e, em seguida, no verbete "O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Eis as questões de hoje:
65. Como entender a lição de Jesus sobre o amor por nossos inimigos?
Como o amor pelo próximo constitui o princípio da caridade, amar os
inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal
virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o
orgulho. É necessário, porém, entender o sentido do verbo amar quando dirigido
aos nossos inimigos. Obviamente, com esse ensinamento, não pretendeu o Mestre que
cada um de nós tenha para com o inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou a
um amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança
numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela
expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas
que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia
que existem entre as que comungam as mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir,
em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo. Amar
os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza,
visto que o contato de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso
do seu bater ao contato de um amigo.
Amar os inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de
vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos
causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o
bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes
advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por
palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente,
retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. (O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo XII, itens 1, 3 e 4.)
66. Quais são os motivos
que nos recomendam perdão, indulgência e amor para com os inimigos?
Os motivos são vários. Em primeiro lugar, sabemos que a maldade não é um
estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e
que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá
um dia os seus erros e se tornará bom. Em segundo lugar, sabemos que a morte
apenas nos livra da presença material de nosso inimigo, porque este poderá
perseguir-nos com seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; que, assim,
a vingança que tomemos falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem por
efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma existência a outra. Não
há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao
bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto
às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de
sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se
constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que
não perdoou. (Obra citada, capítulo XII, itens 5 e 6.)
67. Que quis Jesus
ensinar ao ordenar a Pedro guardar sua espada e jamais utilizá-la?
A frase "Mete a tua espada na bainha, porquanto aquele que matar com
a espada perecerá pela espada" mostra que toda ação negativa gera uma
reação igualmente negativa e comprova também que, assim falando, Jesus condenava
expressamente o duelo, o revide, o crime e toda espécie de vingança. (Obra
citada, capítulo XII, itens 12 e 13.)
68. Fazer o bem sem
ostentação é grande mérito. Mas, em qual o momento essa ação se torna ainda mais
sublime?
Jesus nos ensinou: “Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda
o que faz a vossa mão direita; a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso
Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará”. Tais palavras explicam
por si sós que o bem que praticamos não deve ser divulgado nem constituir
motivo de orgulho para aquele que o pratica. Fazer o bem sem ostentação e
ocultar a mão que dá constituem marca incontestável de grande superioridade
moral, visto que, agindo assim, a pessoa renuncia à satisfação que advém do
testemunho dos homens e espera tão somente a aprovação de Deus. E essa ação se
torna ainda mais sublime quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios
de parecer ser ele o beneficiado diante daquele a quem presta serviço. (Obra
citada, capítulo XIII, itens 1 e 3.)
69. Kardec recomenda-nos
buscar os infortúnios ocultos e nos mostra um exemplo de generosidade aplicada.
Comente o fato.
Kardec mencionou em sua obra o caso de uma mulher de ar distinto, mas de
traje simples, que entra numa casa de sórdida aparência, onde jaz uma mãe de
família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos
emagrecidos, porque ela traz os recursos de que necessitam, condimentados de
meigas e consoladoras palavras, que fazem com que seus protegidos aceitem o
benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe
não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa
senhora, aquelas pobres crianças não passarão frio nem fome. Em seguida, ao
sair dali, ela vai até o hospital levar ao pai algum reconforto e
tranquilizá-lo sobre a sorte da família. Ao descrever os pormenores do caso,
Kardec está indicando para todos nós o caminho que devemos seguir e como a
caridade material pode e deve ser praticada. (Obra citada, capítulo XIII, item
4.)
70. Qual é a caridade
mais difícil de praticar?
Embora todos possam praticá-la, porque nada custa materialmente falando,
a caridade mais difícil de praticar é a caridade moral, que consiste em nos suportarmos
uns aos outros. Grande mérito existe em um homem saber calar-se, deixando que
fale outro mais tolo do que ele; em saber ser surdo quando uma palavra
zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; em não ver o sorriso
de desdém com que nos recebem pessoas que, muitas vezes equivocadamente, se
supõem acima de nós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro,
muito abaixo. Todas essas condutas são também expressões da caridade moral.
(Obra citada, capítulo XIII, item 9.)
71. Aprendemos que podemos
praticar a caridade de várias maneiras. De que modo?
De mil modos. Podemos fazê-la por pensamentos, por palavras e por ações.
Por pensamentos, orando pelas pessoas, pelos doentes, pelos pobres
abandonados que, em muitos casos, morreram sem se acharem sequer em condições
de ver a luz. Uma prece feita de coração os alivia.
Por palavras, dando aos nossos companheiros de todos os dias alguns bons
conselhos, dizendo aos que o desespero e as privações azedaram o ânimo e levaram
a blasfemar do nome do Altíssimo: "Eu era como sois; sofria, sentia-me
desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora, sou feliz". Aos
velhos que nos disserem: "É inútil; estou no fim da minha jornada;
morrerei como vivi", digamos: "Deus usa de justiça igual para com
todos nós; lembrai-vos dos obreiros da última hora". Às crianças já
viciadas pelas companhias de que se cercaram e que vão pelo mundo, prestes a
sucumbir às más tentações, digamos: "Deus vos vê, meus caros
pequenos", e não nos cansemos de lhes repetir essas brandas palavras. Elas
acabarão por lhes germinar nas inteligências infantis e, em vez de vagabundos,
faremos deles homens. Também isso é caridade.
A caridade liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de muitos modos.
Pode-se ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns
indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando
para não ferir o amor-próprio de ninguém.
Nós, espíritas, podemos sê-lo na nossa maneira de proceder para com os que
não pensam como nós, induzindo os menos esclarecidos a crer, mas sem os chocar,
sem investir contra as suas convicções e, sim, atraindo-os amavelmente às
nossas reuniões, onde poderão ouvir-nos e onde os Benfeitores Espirituais
saberão descobrir nos seus corações a brecha para neles penetrarem. (Obra
citada, capítulo XIII, itens 9, 10 e 14.)
72. Como o Espiritismo
analisa a beneficência?
A beneficência, dizem os Benfeitores Espirituais, nos dará neste mundo os
mais puros e suaves deleites, as alegrias do coração, que nem o remorso, nem a
indiferença perturbam. Todos nós podemos dar algo a favor de quem precisa.
Qualquer que seja a classe a que pertençamos, de alguma coisa dispomos que
podemos dividir. Seja o que for que Deus nos haja outorgado, uma parte do que
ele nos deu devemos àquele que carece do necessário, porquanto, em seu lugar,
gostaríamos que os outros também a dividissem conosco. Nossos tesouros da Terra
serão um pouco menores; contudo, os nossos tesouros do céu ficarão acrescidos.
“Lá colhereis pelo cêntuplo o que houverdes semeado em benefícios neste mundo”,
disse o Espírito de João em mensagem transmitida na cidade de Bordéus, em 1861.
(Obra citada, capítulo XIII, itens 11 e 16.)
Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/01/o-evangelho-segundo-o-espiritismo-allan.html
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Sou a Luciane de Oliveira, gostei e aprendi muito com esses ensinamentos.Mas tenho uma dúvida, a caridade é um ato de vontade ou de sentimento. Beijos, pai.
ResponderExcluirA caridade é, das virtudes teologais, a mais excelente. Paulo de Tarso, o São Paulo dos católicos, é quem disse isso. As outras duas são a fé e a esperança. É, evidentemente, o sentimento do amor que está por trás da prática da caridade. O sentimento induz à ação. Sem a ação, é claro que ocorre o que Tiago escreveu em sua epístola: A fé sem obras é morta.
ResponderExcluirObrigada por me responder. Estou aprendendo muito com esses estudos.
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