O Homem Reformador
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Encontrei, dia desses, à noite, um
senhor com uma máquina fotográfica antiga nas mãos, que me perguntou se eu não
gostaria de ser fotografado por ele. Respondi-lhe que, atualmente, qualquer
celular moderno é capaz de tirar fotos incríveis. Por esse motivo, agradeci-lhe
a proposta e já me afastava sorrindo,
quando ele me pediu mais um minuto de atenção. Estávamos em frente à Federação
Espírita Brasileira.
Como não gosto de ser mal-educado com
ninguém, prontamente, voltei-me
e disse-lhe que ficasse à vontade para dizer-me algo mais que desejasse. Ele se
apresentou dizendo simplesmente chamar-se Augusto e quis saber meu nome. Tão
logo me identifiquei, ele cumprimentou-me pelo meu esforço em divulgar o
Espiritismo, à luz dos ensinamentos do Cristo, mas que eu tivesse prudência,
pois não faltam aqueles que se dizem espíritas, porém não têm qualquer
escrúpulo em atacar seus irmãos de ideal e a Casa de Ismael, fundada há
137 anos.
— É verdade, respondi-lhe, mas se os
ataques forem pessoais, não me incomodo. Devo satisfação à minha consciência
apenas, pois é nela que está inscrita a Lei de Deus. Só não admito que ataquem
uma instituição que há tantos anos divulga o Consolador prometido por Jesus.
Mas... como me conhece? perguntei-lhe.
— Leio, toda a semana, suas crônicas e
todos os seus artigos publicados na revista Reformador, respondeu-me
ele. Em seguida, contou-me sua história.
— Eu — disse-me o até então estranho
homem da máquina fotográfica — era totalmente indiferente às questões
religiosas. Ateu, não acreditava no que diziam as religiões, que, para mim, não passavam de criações humanas que
tinham o objetivo de explorar a ignorância do povo. Até o dia em que fui
convidado a assistir a uma palestra espírita, na Sociedade Acadêmica
Deus, Cristo e Caridade, situada na rua da Alfândega, nº 120, no Rio de Janeiro.
O que ouvi do expositor deixou-me curioso. Então, o amigo que me levara lá
aconselhou-me a ler as obras de Allan Kardec, cujo estudo despertou-me a
curiosidade de experimentar as teorias, que me deslumbraram. Passei a
frequentar todas as reuniões, li sofregamente as obras da codificação, então
traduzidas, assisti às sessões mediúnicas, e
comprovei as grandes verdades que ignorava: a imortalidade da alma, sua
manifestação após a morte do corpo físico, o corpo espiritual, chamado
perispírito, a existência de Deus e a felicidade como meta de cada ser humano,
criado para o aperfeiçoamento eterno.
Algum tempo depois, com os próprios
recursos, no dia 21 de janeiro de 1883, lancei o primeiro número de uma das
mais antigas revistas espíritas do mundo, à qual dei o nome de Reformador.
Tornei-me membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus,
Cristo e Caridade e, em 2 de janeiro de 1884, com o apoio e incentivo de minha
sogra, dona Maria Baldina da Conceição Batista, e minha esposa, dona Matilde
Elias da Silva, também espíritas, reunimo-nos com os Srs. Francisco Raimundo
Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Figueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro,
João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Vitório, Pedro da Nóbrega,
José Agostinho Marques Porto e inauguramos, definitivamente, a Federação
Espírita Brasileira, que, nos primeiros anos, tanto quanto o periódico Reformador,
tinham por endereço minha residência e local de trabalho, situada no segundo
andar da rua da Carioca nº 120, no Rio de Janeiro.
Então, percebi que falava com o
Espírito Augusto Elias da Silva, nascido em Portugal e desencarnado no Brasil,
na então capital do país. E, tanto quanto aquelas pessoas abnegadas que a ele
se uniram, para dar início à monumental obra de difusão do Espiritismo, sofreria
calado os mais fanáticos ataques que a nova Revelação prometida por
Jesus teria de suportar.
Foi ele que buscou Bezerra de Menezes
para exercer sua missão de união dos espíritas, segundo o Espírito Humberto de
Campos (cap. 23 de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho). Foi
ele que, com os recursos modestos de sua profissão de fotógrafo, sem ambições
de destaque, sem títulos acadêmicos, mas profundo estudioso do Espiritismo, pôs
em prática a máxima "Fora da caridade, não há salvação", proposta por
Allan Kardec no cap. 15 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Antes que Augusto Elias da Silva se
despedisse de mim, deixou-me este recado:
— Jorge, não se preocupe com os que
atacam a FEB, muitas das vezes escrevendo meia dúzia de laudas com mais erros
do que em quaisquer das obras com centenas de páginas, publicadas pela casa que
tem por divisa: "Deus, Cristo e Caridade". Eles passarão, como tantos
outros já se foram, mas a Federação Espírita Brasileira, cuja direção suprema
está nas mãos do Cristo, continuará sua missão sem revidar aos ataques daqueles que não sabem o que fazem, como disse
Jesus em relação aos seus algozes. Oremos também por eles.
Agradeci-lhe o conselho e prometi-lhe
que continuarei firme e humilde em meu posto, até quando Deus e Jesus o
permitirem. E, a mim mesmo, fiz a promessa de jamais responder a qualquer ofensa
pessoal e muito menos à nossa Casa querida, pois sua direção está muito acima
de nós, os seus pequeninos colaboradores.
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
Como consultar
as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique
neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário