O Espiritismo perante a Ciência
Gabriel Delanne
Parte 42
Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de
Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa
servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do
Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Em que consistem os fenômenos de
transporte?
B. O fluido vital, que é fornecido
pelos médiuns, é essencial à produção do fenômeno de transporte?
C. Os fatos são realmente úteis para
convencer os incrédulos?
Texto para leitura
931. Vejamos agora algo sobre os
fenômenos de transporte (apport), quando um objeto qualquer é conduzido pelos
Espíritos de um lugar para outro. Nessas experiências, convém operar com
pessoas absolutamente idôneas e em locais conhecidos pelos experimentadores.
Tais recomendações têm por fim acautelar os espíritas contra as fraudes, que
nunca faltam, quando se trata de fatos extraordinários.
932. Sobre o assunto tenhamos em mente
o conselho do Espírito de Erasto, que assim se manifestou sobre os transportes:
“É preciso, necessariamente, para se obterem fenômenos dessa ordem, contar com
médiuns, a que chamarei sensitivos, ou seja, dotados no mais alto grau das
faculdades medianímicas de expansão e penetrabilidade, porque o sistema nervoso
desses médiuns, facilmente excitável, lhes permite, por meio de certas
vibrações, projetar em torno, com profusão, fluido animalizado”.
933. Segundo Erasto, as naturezas
impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram ao menor sentimento, à mais
leve sensação, que qualquer influência moral ou física, interna ou externa,
sensibiliza, são indivíduos muito aptos a se tornarem excelentes médiuns para
os efeitos físicos de tangibilidade e transporte. Com efeito, seu sistema
nervoso, quase inteiramente desprovido do invólucro refratário, que isola esse
sistema na maior parte dos encarnados, torna-os próprios ao desenvolvimento
desses diversos fenômenos.
934. Em consequência, com um sensitivo
dessa natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à entrada no estado
mediúnico (ou a mediunização), obter-se-ão mais facilmente os fenômenos de
tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes
e mesmo a suspensão no espaço da mais pesada matéria inerte.
935. Ocorre que da produção desses
fenômenos à obtenção dos transportes há uma grande distância, porque no
fenômeno de transporte não somente o trabalho do Espírito é mais complexo, mais
difícil, mas muito mais que isso: o Espírito só pode operar por intermédio de
um único aparelho mediúnico, isto é, vários médiuns não podem concorrer
simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno.
936. Acontece também que, ao
contrário, a presença de certas pessoas antipáticas ao Espírito que opera pode
entravar radicalmente sua operação. A esses motivos, acrescente-se que os
transportes necessitam sempre uma maior concentração e ao mesmo tempo maior
difusão de certos fluidos e que, enfim, eles só podem obter-se com os mais bem
dotados médiuns, aqueles, numa palavra, cujo aparelho electromediúnico seja
mais bem condicionado.
937. Em face do exposto, os
transportes são e permanecerão excessivamente raros. Ademais, esses fenômenos
se revestem de tal natureza que, nem só todos os médiuns não são próprios a sua
produção, como os próprios Espíritos não os podem, todos, produzir.
938. É preciso que entre o Espírito e
o médium influenciado haja certa afinidade, certa analogia, em uma palavra,
certa semelhança, que permita à parte expansível do fluido perispirítico do
encarnado unir-se, combinar-se com a do Espírito que quer fazer um transporte.
Essa fusão deve ser tal que a força resultante se torne, por assim dizer, uma –
como acontece com as duas porções de uma corrente elétrica, agindo sobre o
carvão, que produzem um só foco, uma claridade única.
939. Por que essa união? Por que essa
fusão, perguntareis? É que, para a produção desses fenômenos é preciso que as
qualidades essenciais do Espírito motor sejam aumentadas com algumas das do
mediunizado, já que o fluido vital, necessário à produção de todos os fenômenos
medianímicos, é apanágio exclusivo do encarnado e, por consequência, o Espírito
operador é obrigado a impregnar-se dele. Só então ele pode, com o auxílio de
certas propriedades do meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer
moverem-se certos objetos materiais e os próprios encarnados.
940. Além das dificuldades inerentes a
esse classe de fenômenos, Erasto diz que os Espíritos a eles se prestam muito
pouco, pois que motivam da parte deles um trabalho quase material, o que lhes
constitui um aborrecimento e uma fadiga. Por outro lado, acontece ainda isto: é
que muito frequentemente, apesar de sua energia e de sua vontade, o estado do
próprio médium lhes opõe uma barreira intransponível.
941. Se os fatos tangíveis que
consistem na produção de pancadas, movimentos e suspensão, são fenômenos
simples, que se operam pela concentração e dilatação de certos fluidos, e podem
ser obtidos pela vontade e o trabalho dos médiuns que sejam aptos a
produzi-los, quando estes são secundados por Espíritos amigos e benévolos, os
fenômenos de transporte são múltiplos, complexos, exigem o concurso de
circunstâncias especiais, não podem operar-se senão por um único Espírito, um
só médium, e necessitam, afora as condições da tangibilidade, uma combinação
toda particular para isolar e tornar invisível o objeto ou os objetos que
constituem o motivo do transporte.
942. Para resumir: se os fatos de
tangibilidade são frequentes, os de transporte são muito raros, porque as
condições são muito difíceis; por consequência, nenhum médium pode dizer “a tal
hora e em tal momento, obterei um transporte”, porque, muitas vezes, o próprio
Espírito se vê impedido de o fazer.
943. Acrescente-se ainda que tais
fatos são muito difíceis em público, visto que aí se encontram, quase sempre,
elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e,
com mais forte razão, os do médium.
944. É certo, porém, que esses
fenômenos se produzem espontaneamente e, muitas vezes, sem a vontade dos
médiuns, sem premeditação, quase sempre em particular, e raramente quando eles
estão prevenidos; donde se deve concluir que há motivo legítimo de suspeição,
quando um médium se gaba de os obter à vontade, ou de dar ordens aos Espíritos,
como a servidores, o que é simplesmente absurdo.
945. Tenhamos, ainda, como regras
gerais que os fenômenos espíritas não foram feitos para serem dados em
espetáculos e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos a tal se prestam,
só o fazem para os fenômenos simples e não para os que, como os de transporte,
exigem condições excepcionais.
946. É preciso lembrar-nos também que,
se é absurdo repelir, sistematicamente, todos os fenômenos de além-túmulo, não
o é menos aceitá-los todos cegamente. Quando um fenômeno de tangibilidade, de
aparição, de visibilidade ou de transporte se manifesta espontaneamente ou de
maneira instantânea, aceitemo-lo; mas não o aceitemos às cegas; que cada fato
sofra um exame minucioso, aprofundado, severo.
O Espiritismo, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem a
ganhar com essas pequenas manifestações que hábeis prestidigitadores podem
imitar.
947. Alguns poderão argumentar que os
fenômenos são úteis para convencer os incrédulos; mas, ninguém ignore, se não
houvesse outros meios de convicção, o Espiritismo não teria hoje a centésima
parte dos adeptos que tem.
948. Fechando suas considerações, Erasto
propõe-nos: “Falai ao coração; é por aí que fareis as mais sérias conversões.
Se acreditais seja útil, para certas pessoas, agir pelos fatos materiais,
apresentai-os, ao menos, em circunstâncias tais que não possam dar lugar a
falsas interpretações; é preciso, sobretudo, que não vos afasteis das condições
normais dos fatos, porque os fatos apresentados em más condições fornecem
argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los”.
949. Deve-se notar com que sabedoria
esse Espírito nos premune contra o entusiasmo errôneo dos fanáticos. Essas
prescrições são adotadas por todos os espíritas sérios, e nesse número podemos
contar o Sr. Vincent, que publicou, sobre os transportes, uma interessante
brochura em 1882.
950. Digamos desde logo que se acham
excluídas as hipóteses de fraude e embuste, visto que as precauções tomadas por
Vincent apagam esses receios. Além disso, sendo notória a honestidade do
narrador, podemos, sem hesitação, admitir-lhe o testemunho. Aliás, o que ele
conta tem sido obtido muitas vezes, e as revistas espíritas estão cheias de
exemplos semelhantes; damos, porém, preferência a esse escritor, não só pela
maneira científica por que conduziu suas experiências, como também pela notável
coincidência que existe entre as condições por ele observadas e as descritas
pelo Espírito Erasto, como sendo indispensáveis.
Respostas às questões preliminares
A. Em que consistem os fenômenos de transporte?
Dá-se esse nome aos fenômenos pelos
quais um objeto qualquer é conduzido pelos Espíritos de um lugar para outro.
Para se obterem fenômenos dessa ordem, é preciso contar com médiuns que Erasto
chamava de sensitivos, ou seja, dotados no mais alto grau das faculdades
medianímicas de expansão e penetrabilidade, porque o sistema nervoso desses
médiuns, facilmente excitável, lhes permite, por meio de certas vibrações,
projetar em torno, com profusão, o fluido animalizado. (O Espiritismo perante a ciência, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns
videntes e médiuns auditivos.)
B. O fluido vital, que é fornecido pelos médiuns, é
essencial à produção do fenômeno de transporte?
Sim. O fluido vital é, segundo Erasto,
necessário à produção de todos os fenômenos medianímicos. (Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)
C. Os fatos são realmente úteis para convencer os
incrédulos?
São úteis, mas, se não houvesse outros
meios de convicção, o Espiritismo não teria hoje a centésima parte dos adeptos
que tem. Por causa disso, Erasto propõe-nos: “Falai ao coração; é por aí que
fareis as mais sérias conversões. Se acreditais seja útil, para certas pessoas,
agir pelos fatos materiais, apresentai-os, ao menos, em circunstâncias tais que
não possam dar lugar a falsas interpretações; é preciso, sobretudo, que não vos
afasteis das condições normais dos fatos, porque os fatos apresentados em más
condições fornecem argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los”. (Obra
citada, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)
Observação:
Para acessar a parte 41 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/12/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_25.html
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