Revisor não é coautor
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Encontrei-me,
noite passada, com o Bruxo do Cosme Velho, que, na juventude, exerceu o
ofício de revisor. Ele saiu duma nave fluídica, que atravessou a dimensão
espacial e se materializou em meu escritório. Feliz por revê-lo, saudei-o
amigavelmente. Machado retribuiu meu cumprimento e perguntou-me sobre o que
tanto me inquieta ultimamente.
Ocupado
com trabalhos revisionais, perguntei-lhe se ele, que na juventude trabalhara
como revisor de textos dos periódicos Marmota Fluminense e Correio Mercantil,
tinha algumas dicas aos revisores de obras espíritas. Ele, então, propôs-me dez
mandamentos:
I
- Respeitarás o autor do texto sobre todas as tuas ciências, com todo o teu
entendimento e de todo o teu coração;
II
– Não substituirás termos doutrem, inda que sejam sinônimos, pelos do teu agrado,
principalmente, se o escritor já estiver no Além;
III
- Não corrigirás destaques, palavras repetidas, em versos e, muito menos,
juntarás estrofes de poemas alheios;
IV
– Uma cousa é uma coisa; outra coisa é uma cousa;
se optei por cousa, não te cabe trocar por coisa; além disso, a
obra que revisas pode ir além-mar, após o acordo ortográfico entre países lusófonos,
onde cousa é a mesma coisa;
V
– Não mudarás o sentido direto pelo indireto, e vice-versa, da frase que não é
tua, ou seja, da frase que não é tua, não mudarás o sentido direto pelo
indireto;
VI
– Lembra-te de que adjuntos adverbiais dispensam vírgula no fim da frase;
VII
– Honra o teu editor e a autoria do texto, mas, se discordares dalgo grave que
ambos exigem manter no trabalho sob tua revisão, pede-lhes para excluir teu
nome da citação dos créditos na obra;
VIII
– Não faças qualquer alteração de frases obscuras à revelia do autor;
IX
- Não atualizes nem mudes referências citadas pelo autor, salvo se tiveres
certeza de que estão erradas;
X
– Não ambiciones ser coautor da obra, inda que contribuas, com a anuência do
autor, na correção de datas, concordância, regência, ortografia, coerência, vírgulas,
acréscimos autorizados por ele, ponto final.
Dito
isso, Machado de Assis deu-me um abraço, desejou-me saúde, neste mundo em
transição, retornou à nave e acenou-me adeus.
Disse-lhe
muito obrigado e passei a refletir...
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