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Umbral e o Inferno são nomes diferentes de uma mesma coisa?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@gmail.com
Umbral é uma coisa e Inferno, algo inteiramente diferente.
Conforme as informações contidas no livro Nosso Lar, obra do
autor espiritual André Luiz, psicografada por Chico Xavier, o chamado Umbral
nada mais é que uma região espiritual de transição.
Debatem-se na zona umbralina Espíritos desesperados, infelizes,
malfeitores e ociosos de várias categorias, mas cada Espírito permanece ali pelo
tempo que se faça necessário ao esgotamento dos seus resíduos mentais negativos,
e não a título permanente. Do inferno, como sabemos, ensina a teologia católica
que ninguém se evade.
Silêncio implacável, cortado às vezes por gargalhadas sinistras e
uma paisagem, quando não totalmente escura, banhada de luz alvacenta, como que
amortalhada em neblina espessa, assim foi descrita por André Luiz a região em
que ele próprio viveu por vários anos, assediado por seres monstruosos e vultos
negros que o acordavam irônicos e lhe dirigiam acusações impensáveis.
No meio espírita algumas pessoas ainda relutam em aceitar tais
informações argumentando que Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita,
jamais se valeu do termo Umbral com o sentido que André Luiz lhe deu.
É oportuno, porém, lembrar que vários aspectos característicos da
chamada zona umbralina foram destacados por Allan Kardec em textos que ele publicou
na Revista Espírita e em sua obra O Céu e o Inferno.
Eis na sequência uma pequena amostra do que escreveu Kardec:
1. No Espaço existem Espíritos mergulhados em densa treva,
enquanto outros se encontram em absoluto insulamento, atormentados pela
ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados
padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo. Alguns
são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com
intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem
ocasionaram. (O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. VII, tópico 25º.)
2. O Espírito de Claire, em mensagem mediúnica, refere-se ao marido,
que muito a martirizara, e à posição em que ele se encontrava no mundo
espiritual. Eis o trecho: “Queres saber qual a situação do pobre Félix? Erra
nas trevas entregue à profunda nudez de sua alma. Superficial e leviano,
aviltado pelo sensualismo, nunca soube o que eram o amor e a amizade. Nem mesmo
a paixão esclareceu suas sombrias luzes. Seu estado presente é comparável ao da
criança inapta para as funções da vida e privada de todo o amparo. Félix vaga
aterrorizado nesse mundo estranho onde tudo fulgura ao brilho desse Deus por
ele negado.” (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. IV.)
3. Georges (Espírito) descreve o castigo infligido aos maus
Espíritos. Enquanto dão vazão à sua raiva, eles são quase felizes; no entanto,
passam os séculos e eles sentem-se de súbito invadidos pelas trevas, advindo
daí o remorso e o arrependimento, seguidos de gemidos e expiações. (Revista
Espírita de 1860, pp. 331 e 332.)
4. Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra, mas
em mais alto grau, porque suas faculdades não são amortecidas pela matéria.
Para eles não existe escuridão, salvo para aqueles cuja punição é ficarem
temporariamente nas trevas. (Revista Espírita de 1864, pp. 106 a 112.)
5. Comentando uma comunicação espontânea obtida na Sociedade
Espírita de Paris, sendo médium a Sra. Costel, diz Kardec que, enquanto uns
Espíritos são mergulhados nas trevas, outros são imersos em ondas de luz, que
os ofuscam e penetram, como setas agudas. (Revista Espírita de 1864, p.
218.)
6. No dia 3 de fevereiro de 1865 ocorreu o falecimento da Sra.
Foulon, que, três dias depois, se manifestou na Sociedade Espírita de Paris.
Informando ter estado lúcida desde o trespasse, a Sra. Foulon não conheceu a
perturbação pós-morte. “Só os que têm medo – explicou ela – são envolvidos por
suas espessas trevas.” (Revista Espírita de 1865, pp. 73 a 75.)
7. Num dos grupos espíritas existentes em Marselha, a Sra. T...
recebeu psicograficamente uma comunicação de um operário que dias antes havia
desencarnado no desmoronamento de uma ponte. O operário fora materialista na
Terra. Na mensagem, o comunicante dizia estar em trevas, mas havia conseguido
seguir um raio luminoso de um Espírito (pelo menos foi o que lhe disseram,
embora ele não acreditasse em Espíritos). (Revista Espírita de 1867, p.
242.)
Dito isso, é bom lembrar que Ernesto Bozzano, um dos mais
destacados pesquisadores do chamado Espiritismo Científico, confirma o que
Kardec e André Luiz escreveram a respeito do assunto, como podemos comprovar à
vista do seguinte texto extraído de sua obra A Crise da Morte:
Os Espíritos se encontram novamente, na vida espiritual, com a
forma humana.
Todos se acham num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso
de mortos moralmente normais) e num meio tenebroso e opressivo (no caso de
mortos moralmente depravados).
Todos reconhecem que o meio espiritual é um novo mundo objetivo,
real, análogo ao meio terrestre espiritualizado. Eles aprendem que isso se deve
ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamento constitui uma força criadora,
por meio da qual o Espírito existente no “plano astral” pode reproduzir em
torno de si o meio de suas recordações.
Os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para
a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da “lei de afinidade”. (A
Crise da Morte, pp. 164 a 166.)
Assim, quando alguém lhe disser que o Umbral é o Inferno
inventado pelos espíritas, peça-lhe que estude melhor o assunto antes de opinar
sobre algo que não conhece ou não entende.
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