CINCO-MARIAS
A criança precisa treinar empatia
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele. Carl Rogers
Quem ensina, ensina
pelo exemplo. Pois ninguém dá o que não tem. Não posso, como mãe ou como pai,
ensinar tolerância se eu, no meu cotidiano, mostro-me incapaz de aceitar as
diferenças – de credo, de hábitos culturais etc. Assim, pais que aspiram a
ensinar para os filhos a empatia, precisam, primeiro, aprender/treinar
empatia.
Mas o que é
empatia? De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa: empatia é a
“ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma
como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias”. É importante recordar
ainda que uma pessoa empática, mais do que se colocar no lugar do outro, tanto
se importa com o outro como está pronta para ajudar.
Digo aos pais. Não há
outro modo de ensinar empatia à criança senão da mesma forma que você a ensinou
a falar, escovar os dentes, vestir-se, pois tudo é exemplo, paciência, treino
persistente.
À medida que a
empatia promove uma conexão atenta e solidária com os outros, o aprendizado
dessa habilidade pode ser facilitado também por meio dos bons. Isso porque, ao
se deparar em uma história com um determinado personagem, é possível para a
criança (na posição de leitora) perceber diferentes emoções, diferentes situações
e, desse modo, identificar-se, aprendendo sobre medo, raiva, tristeza, saudade,
alegria etc., o que colabora com a construção da empatia.
A arte e a literatura
sempre foram campos férteis para auxiliar as pessoas a lidarem com o repertório
emocional. Envolvidas por histórias, fábulas e lendas, as crianças desenvolvem
a inteligência emocional, porque compreendem melhor as emoções, os sentimentos,
conseguindo então identificá-los em suas vidas, o que amplia e aprofunda seu
contato com a empatia.
Em prol da empatia,
vale muito a pena deixar de lado as telas e estimular as crianças a gastarem
tempo com os bons livros, pois a leitura vai além de um exercício cognitivo,
isto é, ela também é social, sensorial, emocional, cultural, espiritual. Por
isso, provoca deslocamento, dá acesso a diferentes perspectivas, estimulando o
exercício da empatia...
Toda criança que é
nutrida diariamente por exemplos positivos, que tem acesso a bons livros, está
naturalmente mais inclinada a se tornar, no futuro, um ser humano melhor, mais
empático e consciente.
Notinhas
A empatia engloba em
sua definição três aspectos: o cognitivo, o afetivo e o comportamental. Sob
esse aspecto, ela se caracteriza como a capacidade de aprender sentimentos e de
identificar-se com a perspectiva do outro, manifestando reações que expressam
essa compreensão e sentimento (Del Prette & Del Prette, 1999).
Déficit de empatia,
entre outras coisas, pode fomentar violência e agressividade. O contexto
familiar é essencial para o desenvolvimento da empatia, pois é o primeiro
contexto de interação que o ser humano conhece. A escola, por sua vez, é o
ambiente que complementa o desenvolvimento das habilidades sociais, incluindo a
aquisição e o refinamento dos comportamentos empáticos. (Cf. Del Prette, Z. A.
P. & Del Prette, A. Psicologia das habilidades sociais: terapia e
educação. Petrópolis: Vozes, 1999.)
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência
ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São
Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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