Revista Espírita de 1864
Allan Kardec
Parte 11
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Como a
reencarnação, na época de Kardec, era vista nos Estados Unidos?
B. Que é que
Xenofonte registrou sobre a convicção de Ciro a respeito da imortalidade?
C. Que disse Kardec a
respeito do livro de Renan sobre a vida de Jesus?
Texto para leitura
126. Nos Estados
Unidos o dogma da reencarnação teria vindo chocar-se contra os preconceitos de
cor, profundamente arraigados no país. O essencial era fazer aceitar o
princípio fundamental da comunicação dos Espíritos. Ressalve-se, porém, que, se
a ideia da reencarnação ainda não é aceita nos Estados Unidos de maneira geral,
ela o é individualmente por alguns, se não como um princípio absoluto, ao menos
com certas restrições, o que já é alguma coisa. (P. 147)
127. Para comprovar
sua assertiva, Kardec transcreve em seguida um artigo publicado no jornal Union,
de São Francisco, que lhe foi enviado pela confreira Pauline Boulay. O artigo
versa sobre a reencarnação e afirma que a alma necessita reencarnar-se para se
aperfeiçoar, porque não pode numa única vida material aprender tudo quanto deve
saber para compreender a obra de Deus. (PP. 148 a 150)
128. A Revista
publica nota sobre uma série de lições públicas que o padre Barricand,
professor da Faculdade de Teologia de Lyon, ministrava contra o magnetismo e o
Espiritismo no Petit-Collège, de Lyon. De acordo com reportagem publicada pelo
jornal Vérité, o padre Barricand valia-se de suas aulas para denegrir a
imagem do Espiritismo, além de acusá-lo de estagnação e mesmo redução do número
de seus adeptos. (PP. 150 a 153)
129. Bordeaux - diz a
Revista - também tem seu curso público de Espiritismo, isto é, contra o
Espiritismo, ministrado pelo padre Delaporte, professor da Faculdade de
Teologia da cidade. Comentando o assunto, diz Kardec: “Que sairá daí? Um primeiro
resultado inevitável: o exame mais aprofundado da questão em todo o mundo; os
que não leram, quererão ler; os que não viram, quererão ver. Um segundo
resultado será o de fazê-lo tomar a sério por aqueles que nele ainda não veem
senão mistificação, pois que os ilustres teólogos o julgam assunto de séria
discussão pública”. Um terceiro resultado, segundo Kardec, seria calar o medo
do ridículo que ainda segura tanta gente. “Quando uma coisa é discutida
publicamente por homens de valor, pró e contra, não se tem mais receio de dela
falar.” (PP. 153 e 154)
130. Os rumores que
tinham emocionado a cidade de Poitiers haviam cessado, mas parece que os
Espíritos barulhentos transportaram o teatro de suas ações para as cercanias
daquela cidade. Eis o que o jornal Pays registrou em fevereiro: “Há
alguns dias nossa região está preocupada com a presença, em Bois-de-Doeuil, de
Espíritos batedores, que espalham o terror em nossos vilarejos. A casa do Sr.
Perroche é seu ponto de encontro: todas as noites, entre onze e meia noite, o
Espírito se manifesta por nove, onze ou treze pancadas, marcadas por duas e uma
e às seis da manhã, pelo mesmo barulho”. A notícia acrescenta que os golpes
eram dados à cabeceira de uma cama onde se deitava uma senhora, semimorta de
pavor, que pretendia receber as comunicações de um tio do marido, morto havia
um mês. (PP. 154 e 155)
131. Um leitor de São
Petersburgo escreve relatando um caso relacionado com a vida de Tasso, referido
pelo Sr. Suard e inserto na tradução de Jerusalém Libertada, publicada
em 1803. Tasso estava persuadido de que era objeto das perseguições de um
Espírito que derramava tudo nele, roubava-lhe o dinheiro e retirava de sobre
sua mesa tudo quanto lhe servia. O leitor transcreve um texto em que o próprio
Tasso conta as peripécias de seu obsessor. (PP. 156 e 157)
132. A Revista
publica breve resumo das instruções que Ciro deu a seus filhos no momento de
sua morte, conforme é relatado na Ciropedia, de Xenofonte. No documento,
Ciro mostra-se convencido da imortalidade da alma e afirma que é durante o sono
que a alma mais se aproxima da Divindade e pode, nesse estado, muitas vezes
prever o futuro, porque, sem dúvida, encontra-se nesse momento inteiramente
livre. (PP. 157 e 158)
133. Na seção de
livros novos, a Revista reporta-se a duas obras recentes: “Cartas aos
Ignorantes”, de V. Tournier, que reproduz em versos os princípios fundamentais
da doutrina espírita, e “A Guerra ao Diabo e ao Inferno”, de Jean de la Veuze,
que examina o argumento clerical de que o Espiritismo é uma concepção do diabo.
Traçando um rápido esboço do Espiritismo, desde as manifestações da América, o
autor mostra que o diabo errou os cálculos, pois salva as almas perdidas e
deixa escaparem as que eram suas. O livro, como se vê, é uma crítica
espirituosa e alegre do papel que fazem o diabo representar nos últimos tempos,
mas contém também pensamentos sérios e profundos. (P. 159)
134. Uma análise do
livro do Sr. Renan sobre a vida de Jesus abre a edição de junho. Sem refutar a
obra, tarefa que só seria possível através de um outro livro, Kardec observa:
“Admitamos (...) que o Sr. Renan não se tenha em nada afastado da verdade
histórica. Isto não implica a justeza de sua apresentação, porque ele fez esse
trabalho em vista de uma opinião e com ideias preconcebidas”. (PP. 161 e 162)
135. Percorrendo a
Judeia com o Evangelho na mão, o Sr. Renan concluiu que o Cristo tinha
existido, mas não viu o Cristo de outra maneira pela qual o via antes. A obra
do Cristo era toda espiritual, mas, como o Sr. Renan não crê na espiritualização
do ser, nem num mundo espiritual, naturalmente deveria julgar suas palavras do
ponto de vista exclusivamente material e, por isso, enganou-se quanto às suas
intenções e o seu caráter. (PP. 162 e 163)
136. A mais evidente
prova disto se encontra nesta estranha passagem de seu livro: “Jesus não é um
espiritualista, desde que tudo para ele conduz a uma realização palpável; ele
não tem a menor noção de uma alma separada do corpo. Mas é um idealista
completo, pois para ele a matéria não passa de signo da ideia e o real a
expressão viva do que não aparece”. (PP. 163 e 164)
137. Vê-se assim que
todas as suas apreciações decorrem da ideia de que o Cristo só tinha em vista
as coisas terrestres. Várias mulheres – diz o Sr. Renan – proviam as suas
necessidades. E ele e os apóstolos eram vivedores, que não desdenhavam as boas
mesas. “Joana, a mulher de Cusa, um dos intendentes de Antipas, Suzana e
outras, que ficaram desconhecidas, o seguiam sem cessar e o serviam”, afirma o
Sr. Renan. “Algumas eram ricas e punham, por sua fortuna, o jovem profeta em
posição de viver sem exercer o ofício que tinha exercido até então.” (PP. 164 e
165)
Respostas às questões propostas
A. Como a reencarnação, na época de Kardec, era vista nos
Estados Unidos?
A ideia da reencarnação não era ainda aceita nos Estados
Unidos de maneira geral, embora o fosse individualmente por alguns, se não como
um princípio absoluto, ao menos com certas restrições. Exemplo disso é um
artigo publicado no jornal Union, de São Francisco, que foi enviado a Kardec
pela confreira Pauline Boulay. O artigo versa sobre a reencarnação e afirma que
a alma necessita reencarnar para se aperfeiçoar, porque não pode numa única
vida material aprender tudo quanto deve saber para compreender a obra de Deus.
(Revista Espírita de 1864, pp. 147 a 150.)
B. Que é que
Xenofonte registrou sobre a convicção de Ciro a respeito da imortalidade?
Está dito na Ciropedia,
de Xenofonte, que nas instruções que Ciro deu a seus filhos, no momento de sua
morte, ele mostrou-se convencido da imortalidade da alma e disse até que é
durante o sono que a alma mais se aproxima da Divindade e pode muitas vezes
prever o futuro, porque, sem dúvida, encontra-se nesse momento inteiramente
livre. (Obra citada, pp. 157 e 158.)
C. Que disse Kardec a
respeito do livro de Renan sobre a vida de Jesus?
Sem refutar a obra,
tarefa que só seria possível através de um outro livro, Kardec observa:
“Admitamos (...) que o Sr. Renan não se tenha em nada afastado da verdade
histórica. Isto não implica a justeza de sua apresentação, porque ele fez esse
trabalho em vista de uma opinião e com ideias preconcebidas”. Percorrendo a
Judeia com o Evangelho na mão, o Sr. Renan concluiu que o Cristo tinha
existido, mas não viu o Cristo de outra maneira pela qual o via antes. A obra
do Cristo era toda espiritual, mas, como o Sr. Renan não crê na
espiritualização do ser, nem num mundo espiritual, naturalmente deveria julgar
suas palavras do ponto de vista exclusivamente material e, por isso, enganou-se
quanto às suas intenções e o seu caráter. (Obra citada, pp. 161 a 163.)
Observação:
Para
acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/10/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_0268119634.html
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
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