Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 18
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Os
bons Espíritos vieram até nós com o objetivo de destruir o Cristianismo?
B. Nos
mundos superiores ao nosso, os princípios espíritas constituem crença geral?
C. A
ignorância a respeito da própria desencarnação pode ocorrer dar com uma
espírita fervorosa?
Texto
para leitura
210. Ainda
se reportando às críticas feitas ao Espiritismo pelo Monsenhor Pantaleón
Monserra y Navarro, bispo de Barcelona, Kardec afirma que a manifestação dos
Espíritos não é apenas uma crença, mas um fato. Ocorre que diante de um fato a
negação não tem valor. Uma crença só é ridícula quando falsa; desde que repouse
sobre uma coisa positiva, não o é mais. “O ridículo - afirma Kardec - é para o
que se obstina em negar a evidência.” (P. 268)
211. O
Espiritismo também diz que aos Espíritos não é dado revelar o futuro, e condena
formalmente o emprego de comunicações de além-túmulo como meio de adivinhação.
Os Espíritos vêm para nos instruir e nos melhorar, e não para nos ler a buena-dicha.
Dito isto, acrescenta Kardec: “É desnaturar maldosamente o seu objetivo
pretender que ele faça a necromancia”. (P. 269)
212. A ordenação
assinada pelo Monsenhor Pantaleón culmina, no seu último parágrafo, por
condenar a leitura e a posse de “O Livro dos Espíritos”, ordenando aos seus
diocesanos, sem exceção, que entreguem a seus Curas os exemplares que lhes
caírem nas mãos. (P. 273)
213.
Transcrito o documento inteiro, Kardec observa, de forma um tanto jocosa: “Toda
a argumentação do Sr. bispo de Barcelona assim se resume: As manifestações dos
Espíritos são fábulas, imaginadas pelos incrédulos para destruir a religião. Só
se deve crer no que dizemos, porque somente nós estamos de posse da verdade.
Não examineis nada além, receando não serdes seduzidos”. (P. 273)
214.
Complementando o assunto, Kardec observa que é de admirar ver que a Igreja ainda
utiliza certos costumes próprios da Idade Média no combate às ideias espíritas.
E cita como exemplo esta fórmula canônica publicada pela Correspondência de
Madri em junho de 1864: “Maldito seja Auguste Vincent; malditas as roupas que o
cobrem, a terra em que pisa, a cama onde dorme, a mesa em que come; malditos
sejam o pão e todos os outros alimentos de que se nutre, a fonte onde bebe e
todos os líquidos que toma. Que a terra se abra e ele seja enterrado nesse
momento; que Lúcifer esteja à sua direita”. É possível - indaga Kardec - que
isso tenha sido pronunciado dentro de uma igreja cristã? Foi um ministro do
Evangelho quem a pronunciou? Ora, Jesus jamais usou de semelhante linguagem e
mandou até que perdoássemos aos nossos inimigos e orássemos por eles. (PP. 274
e 275)
215. À
vista de tais absurdos, não admira que a incredulidade haja crescido tanto no
mundo. Se aqueles que estão encarregados de ensinar a religião do Cristo agem
dessa forma, não existe nenhuma surpresa no fato de haver Deus enviado os bons
Espíritos para lembrar o sentido verdadeiro de sua lei. “Eles não vêm - adverte
o Codificador - para destruir o cristianismo, mas desligá-lo das falsas
interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens.” (P. 275)
216.
Reportando-se a uma comunicação obtida em Barcelona e assinada por Júlio, o
mesmo Espírito que perseguira a jovem obsidiada de Marmande, Kardec rememora
aquele episódio e lembra que, graças à ação dos espíritas, a jovem foi curada e
o Espírito conduzido ao bem. Indaga então o Codificador: - Que há nisso de
ridículo e de imundo? (P. 277)
217. Com
a certeza de que o Monsenhor Pantaleón, quando morrer, verá as coisas de outro
modo, Kardec reproduz a primeira comunicação dada à Sociedade Espírita de Paris
pelo bispo que determinou em 1861 o chamado auto-de-fé de Barcelona. (N.R.: A
comunicação já havia sido publicada pela Revista em agosto de 1862.) (P. 278)
218. Em
Múrcia, Espanha, um Espírito protetor dissertou sobre o estado das almas
encarnadas em mundos superiores ao nosso. Eis, em síntese, o que o Espírito
revelou:
I) Em
tais mundos, a crença em Deus, na imortalidade e na reencarnação é admitida por
todos os que ali vivem, e a comunicação com os Espíritos é, por isso mesmo,
muito fácil.
II) Menos
materiais do que os que vivem na Terra, eles não estão sujeitos a todas as
necessidades que nos pesam.
III) Não
existem ali barreiras a separar os povos, nem guerras, pois todos vivem em paz
praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade.
IV) Muito
mais adiantados do que os terrenos, eles estão, todavia, longe ainda da
perfeição.
V) Nossos
maiores sábios ali seriam os últimos ignorantes.
VI) As
produções da natureza nada têm ali em comum com as da Terra. Não é pelo suor do
rosto e pelo trabalho material que tiram o alimento: o solo produz naturalmente
o que lhes é necessário.
VII) A
morte é considerada ali um benefício: o dia em que a alma deixa o seu invólucro
é um dia feliz. (PP. 278 e 279)
219.
Amiga da Sra. Delanne e fervorosa espírita, nem por isso a Sra. Gaspard, vítima
de uma morte súbita, livrou-se da ilusão de que continuava a viver. Como podia
agora ver os Espíritos que lhe eram caros, ela julgou ter desenvolvido a
vidência. A ilusão foi, porém, de curta duração. No dia seguinte, completamente
desprendida, a Sra. Gaspard ditou uma mensagem dirigida ao marido e aos amigos,
felicitando-se por haver conhecido em vida o Espiritismo. (PP. 280 e 281)
220. O
jornal Pays publicou uma notícia que chocou seus leitores: uma camponesa
dos arredores de Lutter tinha acabado de dar à luz uma criança com todas as
aparências de um macaco. Casada havia doze anos, ela não tivera até então um só
filho que não fosse atingido por enfermidades mais ou menos horríveis: a filha
mais velha era completamente corcunda; o segundo filho, aleijado; o terceiro,
surdo-mudo e idiota; o quarto, cego. (PP. 281 e 282)
221.
Explicando o fato, Kardec assevera que duas forças partilham o mundo: o
espírito e a matéria, cada um com leis próprias. As monstruosidades têm, sem
dúvida, uma causa fisiológica, que pertence ao campo da ciência material. Mas
sua causa primária e a conciliação do fato com a justiça divina fogem à
competência dessa ciência e, para a religião, constituem um mistério
impenetrável. (PP. 282 e 283)
Respostas
às questões propostas
A. Os
bons Espíritos vieram até nós com o objetivo de destruir o Cristianismo?
Não. Deus
enviou os bons Espíritos para lembrar o sentido verdadeiro de sua lei. “Eles
não vêm - adverte o Codificador - para destruir o Cristianismo, mas desligá-lo
das falsas interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens.” (Revista
Espírita de 1864, pág. 275.)
B. Nos
mundos superiores ao nosso, os princípios espíritas constituem crença geral?
Sim.
Segundo uma comunicação dada em Múrcia, Espanha, nos mundos superiores ao
nosso, a crença em Deus, na imortalidade e na reencarnação é admitida por todos
os que ali vivem, e a comunicação com os Espíritos é, por isso mesmo, muito
fácil. Ali não existem barreiras a separar os povos, nem guerras, pois todos
vivem em paz praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade. (Obra
citada, pp. 278 e 279.)
C. A ignorância a respeito da própria desencarnação pode ocorrer
com uma espírita fervorosa?
Sim. Foi o que ocorreu com a Sra. Gaspard,
amiga da Sra. Delanne e fervorosa espírita. Vítima de uma morte súbita,
acreditou por algum tempo que continuava a viver. Como podia agora ver os
Espíritos que lhe eram caros, julgou ter desenvolvido a vidência. A ilusão
foi, porém, de curta duração. No dia seguinte, completamente desprendida, a
Sra. Gaspard ditou uma mensagem dirigida ao marido e aos amigos, felicitando-se
por haver conhecido em vida o Espiritismo. (Obra citada, pp. 280 e 281.)
Observação:
Para acessar a Parte 17
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/12/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_0120754899.html
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
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