Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 16
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Que
benefício decorreu da destruição dos aborígines do México por parte dos
espanhóis?
B. O
progresso pode, então, por vezes, necessitar da destruição?
C. Qual é
o principal mérito de um médium?
Texto
para leitura
186. A
consulta, considerando a natureza supostamente pacífica dos povos indígenas
dizimados pelos espanhóis, indagava que benefício moral teria sido colhido de
tanto sangue derramado e se não teria sido melhor que a velha Europa tivesse
ignorado o Novo Mundo. Erasto respondeu dizendo que os costumes daqueles povos
eram mais doces que virtuosos e que eles viviam despreocupadamente, sem
progredir nem se elevar. Faltava-lhes a luta capaz de retemperar suas fontes
vitais, o que seria viabilizado com o cruzamento dos aborígines com os
europeus. Surgiu então dessa raça cruzada uma nação nova e vivaz que, por um
vigoroso impulso, não tardaria a atingir o nível evolutivo dos povos europeus.
(PP. 241 e 242)
187.
Comentando os esclarecimentos de Erasto, Kardec asseverou: I) Do ponto de vista
antropológico, a extinção dos grupos étnicos é um fato positivo. II) Com
efeito, os grupos étnicos que se extinguem são sempre grupos étnicos inferiores
aos que os sucedem. III) Na extinção dos grupos étnicos geralmente não se leva
em conta senão o ser material, que se destrói, enquanto se esquece o ser
espiritual, que é indestrutível e apenas muda de vestimenta, visto que a
primeira não estava mais em relação com o seu desenvolvimento moral e
intelectual. IV) Assim, não se deve perder de vista que a extinção dos grupos
étnicos só atinge o corpo e em nada afeta o Espírito. V) Longe de sofrer com
isto, ganha o Espírito um instrumento mais aperfeiçoado, provido de cordas
cerebrais e respondendo a um maior número de faculdades. (P. 242)
188.
Depois de asseverar que a raça branca caucásica é a que ocupa o primeiro lugar
na Terra, embora esteja ainda muito longe da perfeição possível, Kardec diz que
o desaparecimento dos grupos étnicos se opera de duas maneiras: uns
extinguem-se naturalmente, em consequência de condições climatéricas e do
abastardamento, quando ficam isolados; outros, pelas conquistas e pela
dispersão, que determinam cruzamentos. A fusão do sangue traz depois a aliança
dos Espíritos, em que os mais avançados ajudam o progresso dos outros, mas são
necessários séculos para a educação dos povos, o que se opera apenas pela
transformação de seus elementos constitutivos. (P. 243)
189. A
França - pergunta Kardec - seria o que é hoje sem a conquista dos romanos? E os
bárbaros ter-se-iam civilizado se não tivessem invadido a Gália? “A sabedoria
gaulesa e a civilização romana, unidas ao vigor dos povos do Norte, fizeram o
povo francês atual.” (P. 243)
190.
Concluindo, observa o Codificador: “Sem dúvida, é penoso pensar que o progresso
por vezes precisa da destruição. Mas é preciso destruir as velhas cabanas,
substituindo-as por casas novas, mais belas e cômodas”. “Aliás, é preciso levar
em conta o estado atrasado do globo, onde a Humanidade está apenas no progresso
material e intelectual. Quando entrar no rumo do progresso moral e espiritual,
as necessidades morais ultrapassarão as necessidades materiais. Os homens serão
governados segundo a justiça e não mais terão que reivindicar seu lugar à
força. Então a guerra e a destruição não mais terão razão de ser.” (P. 244)
191. A Revista
publica carta do confrade E. Edoux, diretor do jornal La Vérité, o qual,
contestando as críticas proferidas pelo padre Barricand, deão da Faculdade de
Teologia de Lyon, reafirma o conteúdo da reportagem feita a respeito dos cursos
de Espiritismo ministrados pelo aludido padre na cidade de Lyon. (PP. 244 e
245)
192.
Juliana-Maria, uma pobre enferma que vivia da caridade pública, comunicou-se em
Paris, ocasião em que informou que sua vida de miséria fora a consequência de
um vão orgulho que a fizera repelir, em existência passada, quem fosse pobre e
miserável. Dotada agora de certa elevação, Juliana-Maria transmitiu em sua
mensagem, dirigida a um médium que muito a ajudou na existência ora finda,
lições valiosas acerca do exercício da mediunidade, que adiante resumimos: I)
Tem confiança em Deus; inspira aos teus doentes uma fé sincera, e triunfarás
quase sempre. II) Não te ocupes jamais com a recompensa que disso virá: ela
ultrapassará a tua expectativa. III) Deus sabe recompensar o mérito de quem se
dedica ao alívio de seus semelhantes e exerce suas ações com um completo
desinteresse. IV) Fizeste bem em não desprezar os humildes: a voz do que sofreu
e suportou com resignação as misérias deste mundo é sempre escutada. (PP. 245 a
247)
193.
Disse ainda Juliana-Maria a seu amigo: “Quando pedires a Deus que permita que
os bons Espíritos derramem sobre ti seus fluidos benéficos, se o pedido não te
fizer sentir um arrepio involuntário, é que tua prece não foi bastante
fervorosa para ser escutada”. (P. 246)
194. A Revista
noticia o surgimento em Paris de um novo periódico espírita: Avenir -
Monitor do Espiritismo, que contava entre seus colaboradores o Sr. d’Ambel,
redator-chefe. E, na seção de livros novos, anuncia ainda o lançamento de uma
brochura de autoria da sra. J.B., intitulada Cartas sobre o Espiritismo,
escritas a padres diversos. A autora, além de médium e membro da Sociedade
Espírita de Paris, era uma católica muito esclarecida, o que diz tudo, segundo
Kardec. (PP. 250 e 251)
195. Na
mesma seção, é divulgado também o lançamento de Os Milagres de Nossos Dias,
de autoria do Sr. Aug. Bez, de Bordeaux, sobre o notável médium Jean Hillaire,
cujas faculdades lembram, sob muitos aspectos, as do Sr. Home e mesmo as
ultrapassam em certos pontos. Ao contrário de Home, que havia penetrado a alta
aristocracia, Jean Hillaire era um simples cultivador da Charente-Inférieure,
pouco letrado, que vivia do próprio trabalho. Crivado de pedidos e de convites
de toda a sorte, Hillaire jamais aceitou as ofertas de dinheiro que recebia de
todos os lados. (PP. 251 a 254)
196. Com
múltiplas faculdades, Jean Hillaire era vidente, audiente, falante, extático e
escrevente, além de médium de efeitos físicos. Obteve a escrita direta e
transportes admiráveis, e várias vezes transpôs o espaço sem tocar o solo. Era
no estado de sono sonambúlico que se produziam por seu intermédio, os mais
extraordinários fenômenos. (P. 254)
197.
Felicitando Jean Hillaire por seu devotamento à causa, Kardec assevera que o
principal mérito de um médium não é a transcendência de suas faculdades, que podem
ser retiradas de um momento a outro, mas o bom uso que delas faz. Desse uso
depende a continuação da assistência dos bons Espíritos, porque há uma grande
diferença entre um médium bem dotado e o que é bem assistido. O primeiro não
excita senão a curiosidade; o segundo reage moralmente sobre os outros, em
razão de suas qualidades pessoais.
Respostas
às questões propostas
A. Que
benefício decorreu da destruição dos aborígines do México por parte dos
espanhóis?
A dúvida
proposta a Erasto era se não teria sido melhor, para o progresso do planeta,
que a velha Europa tivesse ignorado o Novo Mundo. Erasto respondeu dizendo que
não, visto que os costumes daqueles povos eram mais doces que virtuosos e que
eles viviam despreocupadamente, sem progredir nem se elevar. Faltava-lhes a
luta capaz de retemperar suas fontes vitais, o que seria viabilizado com o
cruzamento dos aborígines com os europeus. Surgiu então dessa raça cruzada uma
nação nova e vivaz que, por um vigoroso impulso, não tardaria a atingir o nível
evolutivo dos povos europeus. (Revista Espírita de 1864, pp. 241
e 242.)
B. O
progresso pode, então, por vezes, necessitar da destruição?
Sim. Que
seria hoje a França – pergunta Kardec – sem a conquista dos romanos? E os
bárbaros ter-se-iam civilizado se não tivessem invadido a Gália? “A sabedoria
gaulesa e a civilização romana, unidas ao vigor dos povos do Norte, fizeram o
povo francês atual.” Após dizer tais palavras, o Codificador escreveu: “Sem
dúvida, é penoso pensar que o progresso por vezes precisa da destruição. Mas é
preciso destruir as velhas cabanas, substituindo-as por casas novas, mais belas
e cômodas”. (Obra citada, pp. 243 e 244.)
C. Qual é o principal mérito de um médium?
Logo após haver felicitado o médium Jean
Hillaire – vidente, audiente, falante, extático e escrevente, além de médium de
efeitos físicos – por seu devotamento à causa, Kardec disse que o principal
mérito de um médium não é a transcendência de suas faculdades, que podem ser
retiradas de um momento a outro, mas o bom uso que delas faz. Desse uso depende
a continuação da assistência dos bons Espíritos, porque há uma grande diferença
entre um médium bem dotado e o que é bem assistido. O primeiro não excita senão
a curiosidade; o segundo reage moralmente sobre os outros, em razão de suas
qualidades pessoais. (Obra citada, pág. 254.)
Observação:
Para acessar a Parte 15
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/11/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_0464077372.html
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