Comunicações mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 6
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Nas comunicações mediúnicas entre pessoas vivas há necessidade de um
requisito essencial. Qual é ele?
B. Como se pode comprovar nas manifestações entre pessoas vivas que os
fatos realmente ocorreram?
C. Nas manifestações mediúnicas entre pessoas vivas, é possível manter
diálogos idênticos às conversações que se dão nas sessões espíritas?
Texto para leitura
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância
73. No caso descrito no item anterior, observa-se a
particularidade de um espírito de vivo que se manifesta, no sono, a uma pessoa
que não conhece, particularidade bem rara nas manifestações mediúnicas desse
gênero e, especialmente, entre pessoas vivas, pois é notório que as
manifestações se realizam unicamente quando entre os protagonistas existem
relações afetivas ou, pelo menos, relações de qualquer grau de parentesco, de
amizade ou de simples conhecimento. (Comunicações mediúnicas entre vivos
- 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
74. Na ausência de tais condições, não se poderia
estabelecer, entre as duas pessoas, a “relação psíquica”, que é condição
indispensável para a realização de toda manifestação telepático-mediúnica. Ora,
como se observa no caso em questão, em que o agente não conhecia a pessoa a
quem se manifestou mediunicamente, ele é excepcional, conquanto se trate de uma
exceção que confirma a regra. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância. Subgrupo A)
75. Leve-se em conta que, pelas informações fornecidas
sobre os protagonistas, é notório que a “relação psíquica” entre eles pôde se
estabelecer em virtude do grande interesse que no indivíduo-agente havia suscitado
a leitura de um trabalho literário da médium-percipiente, interesse tão
acentuado e sentimental, que inspirou ao agente uma poesia em homenagem à jovem
desconhecida, como também o levou a iniciar relações epistolares com ela. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
76. Compreende-se, pois, que tal estado de alma (indicando
a existência de uma grande afinidade no temperamento literário dos dois
escritores) tenha sido suficiente para provocar, espontaneamente, durante o
sono, a “relação psíquica” entre o admirador e a admirada. Em outros termos, se
os protagonistas não se conheciam, eram, porém, duas almas que vibravam em
uníssono. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo A)
77. Como dissemos, tais episódios são raríssimos nas
comunicações mediúnicas entre vivos, conquanto se realizem com maior frequência
nas comunicações mediúnicas com os mortos, e isso devido a condições que não se
verificam nas comunicações com os vivos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo A)
78. Além de tudo, há entidades espirituais conhecidas pelo
nome de “espíritos-guias” que levam intencionalmente às sessões espíritas
personalidades de mortos desconhecidos de todos os presentes a fim de que eles
transmitam aos vivos informações verificáveis de suas existências terrenas e,
com isso, fornecem provas incontestáveis de identificação espírita. Em tais
circunstâncias, a “afinidade psíquica” entre o espírito desconhecido e o médium
realizar-se-ia de forma indireta, isto é, por intermédio do “espírito-guia”.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
79. É isso que acontecia nas célebres experiências do Rev.
William Stainton Moses, nas quais o “espírito-guia” “Imperator” levava às
sessões numerosas entidades desconhecidas do médium e dos presentes, a fim de
confirmar indiretamente a gênese transcendental dos ensinos ministrados por
meio de uma longa série de provas de identificação espírita. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
80. A outra circunstância que torna possíveis as
comunicações mediúnicas com entidades desencarnadas desconhecidas consistiria
no fato de que os médiuns, no ato de exercerem as suas faculdades supranormais,
serem circundados de uma aura luminosa perceptível a qualquer graduação de
espíritos desencarnados, dos quais, mesmo os inferiores, não deixariam de se
aproveitar para satisfazer o vivo desejo de se comunicarem com o mundo dos
vivos, empresa difícil, porém algumas vezes realizável, porque, no complexo das
qualidades, dos defeitos, das tendências particulares ao temperamento do
médium, muitas vezes os espíritos encontram o elemento de afinidade psíquica
necessário ao estabelecimento de uma relação ainda que imperfeita com o médium.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
81. Observe-se, finalmente, que a relatora explica o
incidente referido, tomando-o por um fenômeno de “bilocação”, isto é, que o
“duplo” do agente ter-se-ia transportado de Palermo a Florença. Penso que não
será necessário recorrer a tal hipótese, em contingências semelhantes, que
podem ser esclarecidas com a transmissão telepática do pensamento, ou melhor,
pela comunicação a distância entre duas personalidades integrais
subconscientes, o que não deveria causar muito espanto quando se reflete que o
tempo e o espaço não existem no ambiente espiritual. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
Caso 6
82. Este caso foi extraído do volume XXX, pág. 230, dos Proceedings
of the S.P.R., e foi relatado pelo Prof. William Barrett. Trata-se de um
episódio rigorosamente documentado. Ambos os protagonistas haviam guardado as
cartas trocadas por ocasião do caso, cartas essas que foram entregues ao Prof.
Barrett juntamente com os envelopes em que foram expedidas. Os protagonistas
foram o Sr. Arundell Mackenzie-Ashton e o Cel. E. H. Nicholson. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
83. Eis como os fatos se deram:
“O episódio se deu no Walesby Vicarage, em Nottinghamshire,
no ano de 1882. Eis a primeira carta que o Cel. Nicholson enviou ao Sr.
Mackenzie Ashton:
Newark-on-Trent, 11 de setembro de 1882.
Distinto Senhor
Passei algum tempo no Walesby Vicarage e lá, à noite, nos
divertíamos fazendo mover mediunicamente a mesinha. Quando se verificaram os
primeiros movimentos, perguntamos:
– Quem é o espírito presente?
– Arundell Mackenzie.
– Onde se encontra?
– Aqui presente, em espírito.
– O que está fazendo ou em que condições se acha
presentemente o seu corpo?
Ora, como a esta nossa pergunta foi dada uma resposta
fornecendo indicações precisas e minuciosas, nós lhe pedimos a fineza de
informar o que estava fazendo na noite anterior (quinta-feira), das 10:30 às
11:30 horas, e em companhia de quem se achava. Rogamos-lhe ainda o obséquio de
nos dizer de que modo empregara o dia. Espero que V. Sa. me releve a liberdade
que tomo em lhe dirigir um interrogatório tão impertinente, tanto mais que não
tenho a honra de conhecê-lo pessoalmente. Permita-me fazê-lo, porque estou
ansioso por me assegurar se a “manifestação” que obtivemos foi verdadeira ou
falsa.
Com todo o respeito firmo-me
a) E. H. Nicholson
O Sr. Mackenzie-Ashton respondeu gentilmente o questionário
que lhe foi remetido, e o Cel. Nicholson replicou com esta missiva, datada de
16 de setembro:
Distinto Senhor:
Ainda um favor. Estimaria que V. Sa. tivesse a bondade de
assegurar-me, sob sua palavra de honra, que não soube o que me relata, por
alguém que houvesse estado no Walesby Vicarage na quinta-feira à noite.
Tendo o Sr. Mackenzie-Ashton garantido, sob palavra de
honra, nada ter ouvido com relação ao caso, recebeu do Cel. Nicholson a
seguinte carta em que descreve o ocorrido:
Newark, 19 de setembro de 1822.
Distinto Senhor:
Quando lhe pedi a sua palavra de honra, estava certo de que
tal era supérfluo, mas a experiência por nós feita me parece tão
extraordinária, que achei necessário pedi-la.
As pessoas sentadas ao redor da mesa, além do signatário
desta e sua esposa, eram as seguintes: (dá-lhes os nomes, aqui não
reproduzidas). A mesa se pôs em movimento quase imediatamente e lhe pedimos que
desse três pancadas se algum espírito estivesse presente. Tendo batido três
pancadas, perguntamos-lhe o nome do espírito presente e recebemos o nome
Arundell Mackenzie, depois do que os seus movimentos pararam.
Perguntamos-lhe em que ponto da sala se achava e o que
estava fazendo. Respondeu: “Estou aqui, em espírito.”
Perguntamos-lhe então onde se achava o seu corpo naquele
momento e, por algum tempo, não recebemos resposta, de sorte que ficamos
perplexos e não sabíamos como proceder, pressupondo que V. Sa. estaria imerso
no sono. Afinal decidimos repetir a pergunta e recebemos logo a resposta:
“Joguei bilhar”.
Naquele momento eram 11:15. Perguntamos-lhe então quem
havia jogado com ele. Respondeu: “Meu pai”.
“Quem ganhou a partida?” – “O filho”.
“Quantas partidas jogaram?” – “Duas”.
“O que fez durante o dia?” – “Estive caçando”.
Em vista desta resposta deu-se uma exclamação unânime entre
nós: “Impossível!” E, de fato, assim nos parecia, devido ao mau tempo que
reinara. Então o Sr. H. perguntou zombeteiramente ao suposto espírito: “Caçou
faisões ou perdizes?”, mas não obteve resposta.
Pedimos então ao sr. H. que se afastasse um pouco da mesa e
perguntamos ao comunicante por que não respondera. Foi logo ditado: “Ele levou
a coisa em brincadeira.”
Iniciou-se então uma comunicação com as palavras: “Um
espírito silencioso está aqui comigo...” mas nesse ponto a mensagem foi
interrompida, não tendo mais seguimento.
Eis a narração exata do que houve. Contavam-se as palavras
do alfabeto pelas batidas da mesa. Antes que se chegasse à letra desejada, a
mesa entrava em vibração, que crescia de intensidade até que chegasse à letra,
que era designada com um movimento rápido e uma pancada forte. A sala estava
normalmente iluminada. Confesso-lhe que tal experiência me encheu de pasmo,
etc. a) E. H. Nicholson." (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo A)
84. O pasmo do Cel. Nicholson era mais do que justificado,
porque os detalhes fornecidos pelo espírito comunicante em tudo estavam de
acordo com a verdade, como se vê do seguinte trecho de uma carta do sr.
Mackenzie-Ashton:
“Durante o dia eu estive caçando, e à noite joguei duas
partidas de bilhar com meu pai, ambas ganhas por mim. Depois disso estendi-me
no divã na sala de jantar e adormeci. Durante o sono, sonhei que me achava em
Walesby Vicarage. Noto um detalhe curioso: Eu (ou melhor, o meu espírito) dei o
meu nome antigo de Arundell Mackenzie, omitindo o de Ashton, que passei a usar
mais tarde, embora já o usasse enquanto se realizou a sessão de que se trata.”
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
85. É importante acrescentar que a distância entre as
residências dos protagonistas era de 130 milhas. A propósito, observa o Prof.
Barrett:
“Não pode haver dúvida alguma quanto à autenticidade do
caso exposto, que apresenta notável valor psicológico. Baseando-se nele,
fica-se sabendo que um impulso telepático por parte de uma pessoa viva
transmite-se e é transmitido pelo automatismo motor da mesa mediúnica, como
também que se pode, de tal modo, manter diálogos idênticos às conversações com
que nos achamos familiarizados nas comunicações espíritas. Como o Cel.
Nicholson me informou que obtivera outras comunicações análogas à precedente,
isto me faz supor que, em tais circunstâncias, o médium seja ele.” (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
86. Assim se expressa o Prof. Barret e observa-se, com
razão, que o significado teórico mais notável do caso referido consiste na
demonstração de se poderem desenvolver, mediunicamente, verdadeiros diálogos, a
grande distância, entre pessoas vivas. Ora, tais diálogos fazem presumir que,
em semelhantes circunstâncias, não se trata mais de simples casos de
transmissão telepática do pensamento, mas de verdadeira e precisa conversação
entre duas personalidades integrais ou espirituais. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
87. É quase supérfluo observar que tais considerações
projetam nova luz sobre as comunicações mediúnicas com os mortos, porque os
casos de comunicação entre os vivos, provando de maneira decisiva que se podem
dar manifestações de tal natureza entre espíritos encarnados, concorrem para
remover um dos maiores obstáculos teóricos para se poder admitir a
possibilidade de comunicações mediúnicas com os mortos. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
88. Acrescente-se que, demonstradas as provas de
identificação pessoal fornecidas mediunicamente por personalidades de vivos,
tendo positivamente origem nas personalidades dos próprios vivos, não há mais
razão para dúvidas quanto à origem das provas de identidade pessoal dos mortos.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
89. Firmadas na análise comparada das duas ordens de
manifestações, vemos que entre elas existe absoluta identidade de produção.
Deve-se inferir, pois, que se a conclusão em apreço é válida e incontestável
para as primeiras, deve sê-lo também para as segundas; isto, bem entendido,
toda vez que os pormenores da identificação pessoal fornecidos pela entidade
morta se demonstrarem verdadeiros e, em sua maior parte, sejam ignorados de
todos os presentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo A) (Continua no
próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Nas comunicações mediúnicas entre pessoas vivas há
necessidade de um requisito essencial. Qual é ele?
Segundo Bozzano, as manifestações deste tipo se realizam
unicamente quando entre os protagonistas existem relações afetivas ou, pelo
menos, relações de qualquer grau de parentesco, de amizade ou de simples
conhecimento. Na ausência de tais condições, não se poderia estabelecer, entre
as duas pessoas, a “relação psíquica”, que é condição indispensável para a
realização de toda manifestação telepático-mediúnica. (Comunicações
mediúnicas entre vivos - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo A.)
B. Como se pode comprovar nas manifestações entre pessoas
vivas que os fatos realmente ocorreram?
O episódio incluído nesta obra sob o título Caso 6, extraído
do volume XXX, pág. 230, dos Proceedings of the S.P.R., constitui um
exemplo de como os investigadores deveriam proceder. Relatado pelo Prof.
William Barrett, o episódio foi rigorosamente documentado. Ambos os
protagonistas haviam guardado as cartas trocadas por ocasião do caso, cartas
essas que foram entregues ao Prof. Barrett juntamente com os envelopes em que
foram expedidas. Os protagonistas foram o Sr. Arundell Mackenzie-Ashton e o
Cel. E. H. Nicholson. (Obra citada - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo A)
C. Nas manifestações mediúnicas entre pessoas vivas, é
possível manter diálogos idênticos às conversações que se dão nas sessões
espíritas?
Sim. O caso relatado pelo Prof. Barrett, a que nos
referimos na questão anterior, é uma prova disso. Tais diálogos fazem presumir
que, em semelhantes circunstâncias, não se trata mais de simples casos de
transmissão telepática do pensamento, mas de verdadeira e precisa conversação
entre duas personalidades integrais ou espirituais. (Obra citada - 2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
Observação:
Para acessar a Parte 5 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/02/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0843825642.html
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