Petições
– Irmã Corina, sou Angélica de Seixas... Ainda não sou espírita,
mas venho até aqui em grandes necessidades. Ampare-me, por amor de Deus!...
– Diga, filha – respondeu a entidade benevolente.
A visitante prosseguiu quase em lágrimas:
– Tantos e tamanhos são os meus problemas, que fiz uma lista de
minhas petições. Posso lê-la?
– Como não?...
E dona Angélica,
desdobrando larga folha de papel, passou a falar, atenta às notas escritas. Eis
o que desejo:
Cura de minha velha
nevralgia.
Remédio para meus olhos.
Liquidação da angústia que
me persegue.
Esquecimento da tristeza e
do tédio que me acompanham.
Medicação para a insônia.
Sossego íntimo.
Dizem que sofro de
obsessão e quero livrar-me.
Desaparecimento dos vultos
e das vozes que me atormentam.
Recuperação do meu esposo,
atacado de hepatite.
Restabelecimento do meu
filho Damião, internado em repouso.
Casamento feliz para minha
filha Ariléia.
Melhoria do temperamento
de meu filho Avelino, que já consumiu dois automóveis, em menos de seis meses.
Solução dos papéis
relativos ao recebimento da herança que nos foi legada por meu tio João de
Seixas, que morreu no ano passado.
Calma e revigoramento para
meu futuro genro, que anda extremamente nervoso desde a noite em que se
embriagou, quebrando o braço numa queda de lambreta.
Bênçãos para a nossa
fazenda, onde o gado há muito tempo está doente e mofino, sem que o veterinário
descubra a causa.
Paciência e harmonia para
as minhas quatro empregadas, que vivem reclamando contra mim.
Mudança pacífica do
vizinho da esquerda, cuja casa é uma fábrica de barulho constante.
Compradores corretos para
os seis apartamentos que acabamos de construir.
Concessão de cinco
telefones.
Encontro do meu anel de
brilhantes, perdido há dois meses.
Despacho favorável num
processo de despejo que movi contra dois inquilinos relapsos.
Dona Angélica terminou em
pranto, mas a venerada Corina, compreendendo-lhe o desajuste psíquico,
abraçou-a com afeto e ponderou gentil:
– Sim, minha irmã,
confiemos na Divina Providência. Examinaremos todas as solicitações formuladas;
no entanto, é preciso começar pelo tratamento adequado de sua própria saúde.
Rogo-lhe apenas vir à nossa instituição durante meia hora por semana, a fim de
que lhe seja administrado o tratamento magnético necessário, em nossos minutos
consagrados à prece.
Ante a pausa que se fizera
natural, tornou a Benfeitora com a ternura de quem afaga um doente:
– Poderemos aguardá-la,
amanhã?
Dona Angélica, entretanto,
abanou a cabeça, em sinal negativo, e alegou a multiplicidade dos compromissos
que a reteriam no lar. Tropeços, dificuldades, trabalhos, obrigações...
A abnegada interlocutora,
porém, observou prestimosa:
– Bem, a irmã não pode vir
ao nosso encontro; contudo, não nos será difícil prestar-lhe a devida
cooperação em sua própria casa. Bastará que se mantenha em recolhimento, por
vinte minutos, de sete em sete dias, no horário e local a combinar.
Logo após, com
assentimento da interessada, marcou-se a primeira etapa socorrista para a noite
seguinte, e lá fomos, alguns companheiros em equipe de assistência, para a
tarefa a realizar-se, no entanto a irmã Corina esperou, debalde, no aposento
indicado aos breves momentos de silêncio e oração.
Dona Angélica de Seixas
não conseguiu atender-nos, por estar mentalmente ocupada, em meio de alegres
amigas, numa longa e agitada sessão de baralho no jogo de pif-paf.
Do livro Histórias
e Anotações, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
😢😂
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