domingo, 11 de fevereiro de 2024

 



Fé não se prescreve nem se impõe; fé se adquire

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Examinando a questão da fé, Allan Kardec escreveu as seguintes palavras:

 

Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la.

Tende, pois, como certo que os que dizem: "Nada de melhor desejamos do que crer, mas não o podemos", apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto, chovem-lhes ao derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de uns, há descaso; da de outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos; da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante dela.

Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra. (O Evangelho segundo Espiritismo, cap. XIX, item 7.)

 

Algumas palavras no texto acima foram por nós grafadas em negrito. Não foi sem propósito. O objetivo é enfatizar, de forma clara mas resumida, o que o codificador da doutrina espírita escreveu a propósito da fé:

 

I - Fé não se prescreve nem se impõe; fé se adquire.

II - Em algumas pessoas, as verdades espirituais dificilmente penetram.

III - Um dia, porém, elas penetrarão.

IV - Se isso não ocorrer na presente existência, ocorrerá em outra.

 

Reportamo-nos ao texto kardequiano para oferecer resposta a uma mãe que nos escreveu, tempos atrás, e nos disse que seu filho, pré-adolescente, se recusava a ir à Casa Espírita, que ele frequentara por algum tempo. Como estudava em um colégio confessional mantido por uma instituição católica, o jovem tomou contato com os ritos católicos e preferia, em face disso, professar a igreja católica.

Que fazer?

Dissemos então à mãe do jovem em questão que o principal é respeitar a preferência do filho e não tentar impor-lhe pela força a aceitação da doutrina que ela professava. Tal imposição é um erro que nos faz recordar os absurdos e os crimes que, em nome da fé, foram cometidos no passado pelos homens que dirigiam na época os destinos da Igreja.

Como a fé não se impõe, a solução é confiar e esperar, certos de que o tempo e o amadurecimento das pessoas conseguem obter coisas que jamais sonharíamos.

Em seu livro O que é o Espiritismo, Kardec escreveu:

 

Àquele que diz: “Eu creio na autoridade da Igreja e não me afasto dos seus ensinos, sem nada buscar além dos seus limites”, o Espiritismo responde que não se impõe a pessoa alguma e que não vem forçar nenhuma convicção. A liberdade de consciência é consequência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a respeitasse, estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e tolerância. A seus olhos, toda crença, quando sincera e não permita ao homem fazer mal ao próximo, é respeitável, mesmo que seja errônea. (O que é o Espiritismo, 3º diálogo – o Padre.) [Negritamos]

 

Esperamos que as considerações acima tenham contribuído para a consulente resolver em clima de paz e de respeito a questão que nos foi apresentada, bem como auxiliem todos quantos enfrentam no próprio lar questões semelhantes, que podem surgir, às vezes, quando os nubentes, antes de casar, adotam convicções religiosas diferentes.

 

 

 

 

 

 

 

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