Fé não
se prescreve nem se impõe; fé se adquire
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Examinando
a questão da fé, Allan Kardec escreveu as seguintes palavras:
Diz-se
vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não
lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo
entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de
tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que
cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de
achá-la.
Tende,
pois, como certo que os que dizem: "Nada de melhor desejamos do que crer,
mas não o podemos", apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto,
ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto, chovem-lhes ao
derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de uns, há descaso; da de
outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos; da parte da maioria, há o
orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque
teria de curvar-se diante dela.
Em
certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para
desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal
evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente
de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem,
a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de
aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta
existência, ficará em outra. (O Evangelho
segundo Espiritismo, cap. XIX, item 7.)
Algumas
palavras no texto acima foram por nós grafadas
I
- Fé não se prescreve nem se impõe; fé se adquire.
II
- Em algumas pessoas, as verdades espirituais dificilmente penetram.
III
- Um dia, porém, elas penetrarão.
IV
- Se isso não ocorrer na presente existência, ocorrerá em outra.
Reportamo-nos
ao texto kardequiano para oferecer resposta a uma mãe que nos escreveu, tempos
atrás, e nos disse que seu filho, pré-adolescente, se recusava a ir à Casa
Espírita, que ele frequentara por algum tempo. Como estudava em um colégio
confessional mantido por uma instituição católica, o jovem tomou contato com os
ritos católicos e preferia, em face disso, professar a igreja católica.
Que
fazer?
Dissemos
então à mãe do jovem em questão que o principal é respeitar a preferência do
filho e não tentar impor-lhe pela força a aceitação da doutrina que ela
professava. Tal imposição é um erro que nos faz recordar os absurdos e os
crimes que, em nome da fé, foram cometidos no passado pelos homens que dirigiam
na época os destinos da Igreja.
Como
a fé não se impõe, a solução é confiar e esperar, certos de que o tempo e o
amadurecimento das pessoas conseguem obter coisas que jamais sonharíamos.
Em seu livro O
que é o Espiritismo, Kardec escreveu:
Àquele que diz: “Eu creio na autoridade da Igreja
e não me afasto dos seus ensinos, sem nada buscar além dos seus limites”, o
Espiritismo responde que não se impõe a pessoa alguma e que não vem
forçar nenhuma convicção. A liberdade de consciência é consequência da
liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a
respeitasse, estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e
tolerância. A seus olhos, toda crença, quando sincera e não permita ao homem
fazer mal ao próximo, é respeitável, mesmo que seja errônea. (O que é o Espiritismo, 3º diálogo – o
Padre.)
[Negritamos]
Esperamos
que as considerações acima tenham contribuído para a consulente resolver em
clima de paz e de respeito a questão que nos foi apresentada, bem como auxiliem
todos quantos enfrentam no próprio lar questões semelhantes, que podem surgir,
às vezes, quando os nubentes, antes de casar, adotam convicções religiosas
diferentes.
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