Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 26
e final
Concluímos hoje o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo foi baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que foi apresentado sempre às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Pode a
mediunidade ser objeto de exploração pecuniária?
B. Qual
é, segundo Kardec, a causa primeira de todas as desordens, a verdadeira chaga
da sociedade?
C. Que
disse o Espírito de Verdade a propósito do surgimento d´O Evangelho segundo o
Espiritismo?
Texto
para leitura
305.
Tendo sido divulgado por determinada sonâmbula que o Espírito de Jobard lhe
havia dado uma comunicação recomendando aos médiuns cobrar as consultas dos
ricos e dá-las gratuitamente aos pobres e aos operários, Kardec resolveu, sem
contar a ninguém, fazer a seguinte experiência: pediu a seis médiuns que
perguntassem a Jobard se ele havia ditado referida mensagem, tendo, porém, o
cuidado de não contar a nenhum deles que a mesma pergunta fora proposta aos
outros médiuns. (P. 368)
306.
Recolhidas as comunicações obtidas pelos médiuns Sr. Leymarie, sra. Costel, Sr.
Rul, Sr. Vézy, sra. Delanne e Sr. d’Ambel, em todas o Espírito de Jobard
desmentiu a propalada comunicação e reiterou sua convicção de que a mediunidade
não pode, em nenhuma hipótese, ser objeto de exploração pecuniária. (PP. 368 a
374)
307.
Comentando o resultado da experiência, Kardec reafirmou sua conhecida postura
contrária à exploração da mediunidade, lembrando que Jesus e seus apóstolos não
marcavam preço às suas palavras nem aos seus cuidados, conquanto não tivessem
renda com que viver. “Nossos esforços - diz Kardec - tenderão sempre a
preservar o Espiritismo da invasão da venalidade. O momento presente é o mais
difícil, mas, à medida que a doutrina for melhor compreendida, essa invasão
será menos de temer.” (PP. 374 a 377)
308. Numa
horrível água-furtada, em Clichy, vivia um homem chamado Luís-Henrique, de 64
anos, que mais pareciam noventa. Era trapeiro, mas tão trêmulo, tão fraco
estava nos seus últimos dias, que não recolhia quase nada. Quando morreu,
encontraram-no já roído pelos ratos, deitado no seu leito, que era formado dos
trapos e das imundícies que recolhia. Foi o odor infecto, a exalar de seu
alojamento, que atraiu a atenção dos vizinhos. (PP. 377 e 378)
309.
Evocado na Sociedade Espírita de Paris, o Espírito de Luís-Henrique resumiu a
sua história. Ele não cometera nenhum dos crimes punidos pelas leis dos homens,
mas vivera em meio aos vícios e excessos que a sociedade tolera e, contudo, não
ficam impunes pela justiça de Deus. Jamais ele recuara ante nenhuma falta para
satisfazer suas paixões e, certa vez, num duelo de sangue, exterminou seu próprio
filho, que ele abandonara e não pudera então reconhecer. De rico e belo que
fora, os excessos o levaram ao último degrau da miséria, do aviltamento e do
desprezo. (PP. 378 a 382)
310.
Comentando o caso, Kardec examina o papel da sociedade nessa e noutras
circunstâncias, lembrando que a verdadeira chaga da sociedade, a causa primeira
de todas as desordens, é a incredulidade. A negação do princípio espiritual, a
crença no nada após a morte, as ideias materialistas se infiltram na juventude,
que as suga, por assim dizer, com o leite. Daí a querer gozar a vida a todo o
preço, a distância é curta. (P. 383)
311.
Quantas desordens, quantas misérias, quantos crimes têm sua fonte nesta maneira
de encarar a vida! E quem são os culpados? Os primeiros culpados são os que a
erigem em dogma, em crença, troçando e tratando como loucos os que acreditam
que nem tudo está na matéria e na vida visível. Luís-Henrique não foi bastante
forte para resistir a essa corrente de ideias e sucumbiu, vítima de suas
paixões, que encontravam justificação nas ideias materialistas, ao passo que
uma fé sólida e raciocinada lhe teria posto um freio mais poderoso que todas as
leis repressivas. (P. 383)
312. Na
seção de passamentos, a Revista noticia a morte do Sr. Bruneau, antigo aluno da
Escola Politécnica e ex-coronel de artilharia que fundou no Egito a escola de
cavalaria. Membro da Sociedade Espírita de Paris, o Sr. Bruneau comunicou-se na
Sociedade poucos dias após a sua morte e deu prova da elevação de seu Espírito,
pela justeza e profundidade de suas apreciações. (P. 385)
313.
Comentando os princípios da escola são-simoniana, de que o Sr. Bruneau
participara antes de tornar-se espírita, Kardec assevera que em todas as
religiões, sem excetuar o Cristianismo, o elemento divino é imperecível, mas o
elemento humano cairá se não estiver em harmonia com a lei do progresso. Como o
progresso é incessante, deduz-se que nas religiões o elemento humano deve
modificar-se, sob pena de perecer. (P. 387)
314. O
erro de quase todas as doutrinas sociais, apresentadas como a panaceia dos
males da Humanidade, é o de apoiar-se exclusivamente nos interesses materiais.
Disso resulta que a solidariedade que buscam estabelecer entre os homens
torna-se frágil como a vida corporal. (P. 388)
315. Com
o Espiritismo dá-se o contrário, porque, respondendo a todas as aspirações da
alma, satisfaz ao mesmo tempo ao espírito, à razão e ao coração e assenta em
base sólida o princípio de igualdade, liberdade e fraternidade. Ele é, assim, o
pivô sobre o qual poderão apoiar-se todas as reformas sociais sérias. (PP. 388
e 389)
316. Na
seção de notas bibliográficas, a Revista faz dois registros: o lançamento do
livro Como e porque me tornei espírita, escrito pelo grande magnetizador J. B.
Borreau, de Niort, e o surgimento do semanário O Mundo Musical, de
Bruxelas, que constituía, segundo Kardec, um primeiro passo da imprensa independente
na via do Espiritismo. (PP. 390 a 395)
317. O
número de dezembro se encerra com uma nota a respeito da arrecadação feita pela
Sociedade Espírita de Paris em favor das vítimas do incêndio de Limòges e uma
comunicação recebida no mês de maio em Bordeaux, a propósito do livro Imitação
do Evangelho segundo o Espiritismo, de Kardec. Assinada pelo Espírito de
Verdade, a mensagem diz que um novo livro acaba de aparecer: “é uma luz mais
brilhante que vem clarear a vossa marcha”. “Pelos frutos - diz a mensagem - se
reconhece a árvore. Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a
discórdia tinha substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens
que sucumbiam ao peso de suas aflições, despertados aos acentos melodiosos das
vozes de além-túmulo, compreenderam que seguiam caminho errado e, corando de
suas fraquezas, arrependeram-se e pediram ao Senhor a força para suportar suas
provações.” (PP. 395 a 397)
Respostas
às questões propostas
A. Pode a
mediunidade ser objeto de exploração pecuniária?
Não. A
mediunidade não pode, em nenhuma hipótese, ser objeto de exploração pecuniária.
Em várias oportunidades Kardec reafirmou sua conhecida postura contrária à
exploração da mediunidade, lembrando que Jesus e seus apóstolos não marcavam
preço às suas palavras nem aos seus cuidados, conquanto não tivessem renda com
que viver. (Revista Espírita de 1864, pp. 368 a 377.)
B. Qual é, segundo Kardec, a causa primeira de todas as
desordens, a verdadeira chaga da sociedade?
É a incredulidade. A negação do princípio
espiritual, a crença no nada após a morte, as ideias materialistas se infiltram
na juventude, que as suga, por assim dizer, com o leite. Daí a querer gozar a
vida a todo o preço, a distância é curta. Quantas desordens, quantas
misérias, quantos crimes têm sua fonte nesta maneira de encarar a vida! (Obra
citada, pág. 383.)
C. Que
disse o Espírito de Verdade a propósito do surgimento d´O Evangelho segundo o
Espiritismo?
No mês de
maio de 1864, referindo-se em Bordeaux à obra referida, o Espírito de Verdade
disse que um novo livro acabava de aparecer: “uma luz mais brilhante que vem
clarear a vossa marcha”. “Pelos frutos – disse ele – se reconhece a árvore.
Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a discórdia tinha
substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens que sucumbiam ao
peso de suas aflições, despertados aos acentos melodiosos das vozes de
além-túmulo, compreenderam que seguiam caminho errado e, corando de suas
fraquezas, arrependeram-se e pediram ao Senhor a força para suportar suas
provações.” (Obra citada, pp. 395 a 397.)
Observação:
Para acessar a Parte 25
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/02/revista-espirita-de-1864-allan-kardec.html
Como consultar as matérias deste
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