CINCO-MARIAS
Notinha sobre
alfabetização infantil
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Ajude-me a crescer,
mas deixe-me ser eu mesmo. Maria Montessori
Fala-se muito em escolarização precoce, isto é, a
criança passar pelo processo de alfabetização infantil antes dos 6 anos de
idade, saindo da Educação Infantil já alfabetizada. Isso é adequado? Depende.
Contudo, para a maioria das crianças, embora isso possa parecer positivo
inicialmente, também faz com que a criança tenha menos tempo livre para o
brincar ou para realizar atividades livres, em contato com a natureza, e que
auxiliam no seu desenvolvimento físico, no amadurecimento do cérebro, na
socialização afetiva, na autorregulação emocional, no próprio processo de
aprendizagem.
Entre especialistas, óbvio, não há um consenso
sobre o período ideal para a alfabetização infantil ter início. Sou adepta da
postura que defende que, durante a primeira infância, a criança precisa ser
criança – e, por isso, tenha possibilidade de preencher seu tempo com
brincadeiras e atividades ao ar livre, que beneficiam, sem dúvida, também o
processo cognitivo. Além disso, confio muito em uma abordagem que estimule no
começo da vida a curiosidade através de atividades lúdicas e sensoriais (em
contato com a natureza, portanto) em vez de uma preocupação com a
alfabetização.
O que é fundamental na primeira infância? O
brincar, e que pode envolver, por exemplo, formas distintas de preparar a
criança para o momento efetivo da alfabetização, como, por exemplo, em casa e
na escola:
1) contação de histórias: a leitura mediada é
essencial na primeira infância, pois oferece à criança, além de outras coisas,
contextos imaginários e ilimitados de palavras;
2) ouvir e cantar: a infância é repleta de
repertórios musicais e que podem estimular a criança desde a barriga da mãe.
Inserir cantigas e músicas infantis, de tradição/folclore, no cotidiano da
família e da escola auxilia, por exemplo, a assimilação de palavras, além de
cadência e musicalidade; e
3) apresentar diversos tipos de leitura à criança
(claro que respeitando sempre a idade!), como por exemplo receitas, jornais,
revistas, além de livros infantis variados, pois isso faz com que a criança
conheça e familiarize com tipos de texto literário distintos: prosa, conto de
fadas, aventura, poesia, mistério, elementos da cultura – o bolo de fubá,
receita antiga de família etc. – e tudo isso tem valor para formar o futuro
leitor.
Aos cinco anos eu já lia. Foi um processo
tranquilo, natural. Minha escola era pequena, eu tinha uma inclinação para as
palavras. Já minha irmã foi alfabetizada um pouco mais tarde, tendo uma
professora sensível e atenta às suas necessidades e ritmo. Hoje, infelizmente,
vejo alguns pais e mães tomados de pressa e correndo para alfabetizar os filhos
que ainda são crianças. Correndo tanto para quê?
Antes de mais nada, é preciso respeitar a primeira
infância. Em uma sociedade acelerada, tomada cada vez mais por casos de depressão
ou ansiedade infantil, para citar alguns dos sofrimentos contemporâneos,
considero que é muito inteligente, para quem tem filho pequeno, fiar-se no
pedido que Rubem Alves fez aos professores anos atrás, mas perfeitamente atual,
e que, a meu ver, também pode ser estendido aos pais ou a quem cuida
diariamente do meninozinho ou da meninazinha: “lembrem-se de que vocês são
pastores da alegria, e que a sua responsabilidade primeira é definida por um
rosto que lhe faz um pedido: ‘por favor, me ajude a ser feliz’.”
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da
consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de
São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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