Comunicações mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 5
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Nas comunicações mediúnicas pode ocorrer interrupção e, em seguida,
a intromissão na comunicação de outra personalidade espiritual?
B. Qual seria o motivo de tais incidentes durante a comunicação
mediúnica?
C. No caso relatado pela escritora Annete Boneschi-Coccoli e publicado
na revista Luce e Ombra, a entidade comunicante estava viva?
Texto para leitura
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância
64. No episódio descrito, Bozzano destaca o fato de ter o
médium interrompido bruscamente, no meio de uma palavra, a mensagem espírita
que estava recebendo, para começar outra, de uma entidade viva. Segundo ele,
nas comunicações mediúnicas com os mortos, encontram-se frequentemente
interrupções análogas com intromissão de outras personalidades espirituais.
Também nas experiências com a médium Piper encontram-se numerosos e notáveis
exemplos, que, contudo, diferem de certo modo do precedente, na modalidade com
que se apresentam, o que, porém, não muda os termos utilizáveis do confronto
para a análise comparada dos fatos. (Comunicações mediúnicas entre
vivos - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo A)
65. Com a mediunidade da Sra. Piper, os incidentes de tal
natureza têm quase sempre a seguinte origem: Quando os “espíritos-guias” da
médium verificam que a personalidade comunicante está perdendo o controle sobre
a mesma e, em consequência, divaga, então intervêm para ratificar as palavras
ou para dar explicações aos experimentadores ou, ainda, para anunciar-lhes que
a personalidade deve retirar-se porque precisa de repouso. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
66. Eis um exemplo desse gênero, que o autor extraiu da
relação do Prof. Oliver Lodge nas sessões com a médium em questão (Proceedings
of S. P. R. – Vol. XXIII, pág. 168):
O comunicante era um tal Isaac Thompson, falecido há pouco
e, embora as suas manifestações constituam um dos melhores casos de
identificação espírita obtidos com a Sra. Piper, no princípio ele parecia um
tanto confuso, circunstância esta que não deve surpreender e que constitui a
regra em semelhantes experiências. Tal é devido à dificuldade, muitas vezes
invencível, de pensar com um cérebro alheio, de sintonizar as vibrações
psíquicas especializadas de uma individualidade pensante desencarnada com as
vibrações psíquicas também especializadas e, em consequência, diversas, de um
cérebro a ela estranho. Em dado momento, a personalidade mediúnica de Isaac Thompson
respondeu, nos seguintes termos, a uma pergunta que lhe foi dirigida pelo Dr.
Hodgson:
– Sim, compreendo. Eu exercia uma profissão que se chama...
não sei... havia drogas (ele fora farmacêutico).
Neste ponto foi a mensagem interrompida bruscamente, sendo
ditada a seguinte frase pelo espírito-guia “Rector”:
– Estou fazendo os meus melhores esforços para ajudá-lo.
À qual se seguiu esta outra observação, já do espírito
“Imperator”:
– Ele tem necessidade de repouso.
No entanto, o Dr. Hodgson, dirigindo-se novamente ao
comunicante Isaac Thompson, pediu:
– Estimaria muito se quisesses dar-me uma mensagem para eu
encaminhar à tua família.
Em lugar do comunicante, respondeu “Rector”, que observou:
– Ele voltará daqui a pouco, pois no momento mandei que se
retirasse.
Note-se que as duas primeiras frases, proferidas pelos
espíritos “Rector” e “Imperator”, absolutamente não se dirigiam ao Dr. Hodgson
e sim representam um diálogo no Além entre esses dois espíritos, diálogos que,
por interferência provocada pela perda de controle do espírito comunicante, foi
interceptada e reproduzida automaticamente pela mão do médium. Só a última
resposta (representando a decisão tomada pelo espírito-guia em seguida às
observações trocadas no breve diálogo referido) é endereçada ao Dr. Hodgson.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
67. Tais formas sugestivas de diálogos no Além, por
interferência telepática, pela mão do médium, são numerosíssimas nas sessões
com a Sra. Piper, bem como nas sessões com a Sra. Thompson, Sra. Holland e com
a Sra. Verall, e a espontaneidade dramática com que surgem e se desenvolvem
confere-lhes uma evidência probante irresistível no sentido de sua origem
espírita. Entretanto, pela sua própria natureza, não é cientificamente possível
demonstrar-lhe a origem e é por isso que, quando análogas interrupções e
diálogos se verificam pela intervenção de personalidades de vivos, fornecem
boas provas indiretas em favor da genuinidade espírita. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
68. Quando se trata de comunicantes ainda vivos, podem-se
fazer indagações, adquirindo-se certeza sobre a natureza positivamente verídica
de tais bruscas mudanças de interlocutores mediúnicos. Daí a inevitável
inferência que, se assim é quanto às manifestações dos vivos, dever-se-ia
concluir no mesmo sentido, também para a manifestação de mortos. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
69. Quer isto dizer que, em circunstâncias análogas de
intervenções bruscas de entidades espirituais estranhas à comunicação em curso,
dever-se-ia presumir que tais entidades, por sua vez, sejam genuinamente
espíritas, e isso toda vez que haja provas colaterais adequadas em favor da
identidade pessoal do morto comunicante naquele momento. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
70. Assim, por exemplo, deveriam ser consideradas
genuinamente espíritas as personalidades mediúnicas que, no episódio exposto,
se manifestaram de permeio com o espírito comunicante de Isaac Thompson, pois
que, se este último chegou a provar a sua própria identidade pessoal,
fornecendo grande cópia de informações a respeito de sua existência terrena,
tal fato deveria converter-se em uma boa prova colateral, prova que atesta a
pureza também espírita das personalidades mediúnicas que se manifestaram com o
espírito comunicante a fim de ajudá-lo na difícil tarefa de comunicar-se com os
vivos. E, ao contrário, segundo a opinião de alguns eminentes psiquistas, tais
personalidades deveriam ser consideradas puramente sonambúlicas e efêmeras. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
71. Ocorre que, se assim fosse, então as formas de diálogo
ficariam inexplicáveis. De fato, por que, no meio de uma comunicação mediúnica,
deveriam inserir-se trechos de diálogos que indubitavelmente representam uma
conversa entre personalidades estranhas à comunicação em curso, embora notadamente
interessadas no desenvolvimento das mensagens? Nada semelhante a isto jamais
ocorre em experiências de personificação hipnótica. E, por outro lado, os
diálogos de tal natureza são explicáveis pela hipótese espírita e até se
convertem em admirável e inesperada prova da própria hipótese. De qualquer
forma, o argumento é complexo e reclamaria longo desenvolvimento do tema para
esclarecer tal ponto de vista, mas não é aqui o lugar próprio para
empreendê-lo, de sorte que as observações expostas devem ser consideradas como
uma simples nota de passagem, a fim de ilustrar os fatos e as possibilidades de
interpretá-los. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo A)
Caso 5
72. Extraído da revista Luce e Ombra (1916, pág. 40),
à qual a distinta escritora Annete Boneschi-Coccoli escreveu nos seguintes
termos:
“Já decorreram vários anos desde o tempo em que
realizávamos pequenas sessões espíritas, íntimas e familiares, em casa de nosso
amigo, contador Enrico F., com um restrito grupo de amigos e os membros
componentes daquela boa e simpática família. Foi naquelas reuniões que pude me
iniciar na mediunidade, depois desenvolvida com indizível prazer e bom
resultado para mim.
Mas então o médium consciencioso, e direi também ingênuo,
era o próprio chefe da família, auxiliado pela sua filha, Srta. Giulia, uma
intelectual no sentido mais honroso da palavra. Havia ela publicado um livro
premiado pelo Ministério, escrevia novelas para as revistas e fazia desenhos em
que a argúcia fina e socialmente crítica se casava com o brilho da fala
toscana, mas o seu interesse pelas sessões mediúnicas era pelo processo cômodo
da tiptologia e, também, quando o grupo não estava reunido, fazia ela escrever
o seu fácil instrumento com a progenitora ou outra pessoa que acaso estivesse
presente.
Certo dia, às primeiras horas da tarde, quando na boa
estação se costuma repousar, a Srta. Giulia sentou-se à mesa com sua mãe e uma
prima, hóspede eventual que, a falar a verdade, pouco acreditava naquilo;
porém, quando o aparelho, com a linguagem convencionada, começou a escrever e a
médium lhe perguntou quem era o espírito presente, recebeu esta resposta:
– Sou um teu prisioneiro... enamorado!
– Olá. – respondeu a Srta. Giulia, rindo de tal declaração
inesperada – Não quero namorados do outro mundo.
– Eu não morri. Sou um homem de carne e osso.
– Sendo assim, dize-me quem és e onde moras.
Então o gentil comunicante disse que seu nome era Gio...
Aí foi interrompido por Giulia, que lhe disse:
– Está bem, Giovanni. Qual é a tua profissão?
– Sou engenheiro, nascido e residente na Sicília. Li uma
novela tua na bela revista florentina La Scena Illustrata e admirei-lhe
tanto o conteúdo, que tenho vontade de conhecer-te. Enquanto espero, já te
dediquei alguns versos. Ei-los.
E nesse ponto o longínquo comunicante recitou uns versos
amorosos e concluiu:
– Dentro de alguns dias receberás uma carta minha.
Este curioso caso me foi narrado na mesma tarde pela
protagonista e eu presumo que tenha despertado alegres comentários, como por
exemplo: “Bravo, noivinha! Noivo engenheiro invisível e, além de tudo, poeta!”
E assim divertia-se meio-mundo com aquele espírito
zombeteiro, como tantos outros que se manifestam em comunicações pouco sérias.
Depois não se falou mais no caso. Certa vez, decorridos não me recordo quantos
dias, Giulia F. apareceu em minha casa. Sempre muito corada, pareceu-me
congestionada naquele dia.
– Que houve? – perguntei-lhe.
– Olhe. – respondeu-me, ao mesmo tempo em que me mostrava
uma folha de papel que trazia na mão. – Esta carta me foi enviada pela redação
da Scena Illustrata, porque a pessoa que me escreveu não conhecia
o meu endereço e a mandou para lá, pedindo com insistência que me fosse
encaminhada.
– Mas, de quem é?
– Dele. Do espírito do siciliano.
Compreende-se que fiquei petrificado. Na carta estava
repetido tudo o que antes havíamos sabido pela tiptologia e finalizava, não
pela assinatura de Giovanni, mas de Giovacchino G. F. Se a médium não tivesse
interrompido as pancadas, estaria certo o prenome. Lá se achava a poesia,
idêntica em todas as particularidades e, por fim, a idade de 36 anos.
Devíamos, pois, saber se realmente ele morava onde dizia e
se todos os dados fornecidos eram verdadeiros. Por felicidade, Giulia tinha uma
parente naquela cidade e dirigiu-se a ela para obter esclarecimentos.
Tudo combinava: somente uma ducha fria diminuiu o
entusiasmo, pois o engenheiro poeta era... casado, mas separado da mulher. O
estranho caso não podia terminar assim. Devia-se ir até o fim, para sua
documentação científica, e a jovem resolveu responder a carta do seu ardente
admirador, revelando-lhe a maneira estranha pela qual tivera conhecimento
antecipado dos seus sentimentos e da poesia a ela dedicada.
Pertencente à religião evangélica, pois era filho de pai
anglo-saxão, ele absolutamente não acreditava nas comunicações espíritas, nem na
possibilidade do desdobramento espiritual. Contudo, deve ter ficado um tanto
abalado, pois o rapaz anunciou a sua breve chegada a Florença. Daí o espanto, a
curiosidade e um pouco de desânimo também.
– Que vou fazer com esse casado? – gracejava a brilhante
escritora.
Mas o pior é que a família não o quis receber e foi
necessário que uma amiga piedosa... e curiosa por saber até que ponto chegaria
a audácia desse espírito vivo, acolhesse o pedido da médium em ser-lhe
apresentada. E assim as coisas correram do melhor modo possível (se bem que não
em perfeita regra), em vista dessa circunstância especialíssima.
Era um moreno simpático, um tanto baixo e gracioso, com
grandes olhos meridionais e magnífica voz de barítono, educado e eloquente.
Aplaudido conferencista, falava sempre nos comícios agrários, tinha modos
distintos e era insinuante, de modo que recomendei a Giulia que tivesse
cuidado, pois era um homem fascinante.
Certamente, interessado como estava, ele se havia
manifestado um tanto lisonjeiro para com a escritora. Narrou as suas
desventuras domésticas, as consequências de uma infeliz ligação, os seus afetos
de família, a adoração que tinha por sua querida mãe e uma irmãzinha única. Em
suma, dentro de poucos dias eram bons e cordiais amigos, mas ele não queria
acreditar em coisas que encontrava dificuldade em conceber. Era muito mais
cético do que São Tomé, que pelo menos acreditou com uma prova tangível.
Regressou à sua cidade e voltou nos anos seguintes.
Escrevia-nos frequentemente sobre assuntos de arte para publicações poéticas e
a autora deste relato sempre achou nele um perfeito cavalheiro, de temperamento
expansivo e gracioso, preocupado com tudo, menos com a Psicologia. Sensitivo e
nervoso, talvez nevropata devido aos dissabores sofridos, teria sido e talvez
venha a ser um bom médium.
Ficamos sabendo que, na hora de sua manifestação à
escritora, estava mergulhado no sono habitual, depois da refeição em família.
Assim, o seu “duplo” viajou de Palermo a Florença. Em suas relações com Giulia
teve de contentar-se com alguns passeiozinhos: um simples flerte peripatético,
continuando ambos a corresponder-se de vez em quando, sem mais galanteria ou
madrigais, como dois bons camaradas nos domínios da Arte.” (Ass. Annete
Boneschi-Coccoli). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo A) (Continua no
próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
Pode. Segundo
Bozzano, nas comunicações mediúnicas com os mortos, encontram-se frequentemente
interrupções análogas com intromissão de outras personalidades espirituais. Nas
experiências com a famosa médium Sra. Piper encontram-se numerosos e notáveis
exemplos disso. (Comunicações mediúnicas
entre vivos - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo A)
B. Qual seria o motivo de tais incidentes durante a
comunicação mediúnica?
Bozzano trata disso citando apenas o que ocorria com a
mediunidade da Sra. Piper, em que os incidentes de tal natureza tinham quase
sempre a seguinte origem: Quando os “espíritos-guias” da médium verificavam que
a personalidade comunicante estava perdendo o controle sobre a comunicação e,
em consequência, passava a divagar, eles intervinham para ratificar as palavras
ou para dar explicações aos experimentadores ou, ainda, para anunciar-lhes que
a personalidade devia retirar-se porque precisava de repouso. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
C. No caso relatado pela escritora Annete Boneschi-Coccoli
e publicado na revista Luce e Ombra, a entidade comunicante estava
viva?
Sim. Era um rapaz de 36 anos que na hora de sua
manifestação estava mergulhado no sono habitual, depois da refeição em família.
Seu “duplo” viajou de Palermo a Florença, onde ocorreu a comunicação descrita
por Bozzano neste livro. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo A)
Observação:
Para acessar a Parte 4 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/02/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo
Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
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