Comunicações mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 7
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. São raros os casos de transmissão de mensagem feita ao médium por
pessoas em estado de vigília, isto é, perfeitamente acordadas?
B. Uma pessoa tomada de grave crise de neurastenia consegue manter-se
integralmente em estado de vigília?
C. Que fato se dá quando é o médium que pensa fortemente numa pessoa
distante com quem deseja comunicar-se?
Texto para leitura
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância
90. Analisando ainda o Caso 6, Bozzano observa que entre os
protagonistas não existiam relações pessoais, indispensáveis para justificar o
fato de estabelecer-se a “relação psíquica” entre o agente adormecido e os
experimentadores. (Comunicações mediúnicas entre vivos - 2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
91. Muito curioso e sugestivo é também o incidente em que o
Espírito se melindra porque um dos experimentadores não leva muito a sério as
suas afirmativas, o que lembra as suscetibilidades em tudo idênticas às das
personalidades de mortos, em semelhantes circunstâncias. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
92. Nota-se ainda que neste caso, como em tantos outros, o
agente se recorda de ter tido um sonho correspondente à manifestação ocorrida.
Tal circunstância é muito instrutiva, porque demonstra, em tais casos, que não
se trata precisamente de um sonho, mas sim de uma recordação mais ou menos
vaga, mais ou menos fragmentária, de uma ação real produzida durante o sono,
pela personalidade integral do agente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo A)
93. Finalmente não será inútil salientar que a última
frase: “Acha-se aqui comigo um espírito silencioso”, tenderia a confirmar o que
anteriormente observamos, isto é, que muitas vezes as manifestações dos vivos
se realizam por intervenção de entidades desencarnadas. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
94. Estas últimas afirmam levar espíritos de vivos às
sessões mediúnicas a fim de demonstrar aos homens, pela maneira mais acessível
aos seus intelectos, que no fundo de sua subconsciência existe efetivamente um
espírito capaz de afastar-se temporariamente do corpo e pensar e conversar
independentemente do cérebro, o que representa a demonstração da existência e
sobrevivência da alma. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo A)
95. Mensagens transmitidas inconscientemente ao médium por
pessoas em estado de vigília – É de presumir a priori que os casos pertencentes
a este subgrupo sejam bem raros. No seu arquivo de manifestações metapsíquicas,
diz Bozzano que há 154 casos pertencentes ao grupo das comunicações mediúnicas
entre vivos e neles só figuram cinco exemplos dessa natureza, mas,
submetendo-os a uma análise posterior, pareceu-lhe que três deles não poderiam
ser incluídos nesse subgrupo, levando-se em consideração que, na ocasião em que
se verificou a transmissão telepático-mediúnica, dois dos agentes estavam
enfermos, acamados, circunstância esta que torna impossível afirmar se, no
momento da manifestação a distância, não tivessem adormecido por um instante,
tanto mais que os próprios agentes, embora afirmem que se achavam acordados,
não estavam em estado de poderem afirmar isto com segurança. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
96. No terceiro
caso, trata-se de uma senhora inesperadamente atacada de grave crise de
neurastenia, durante a qual o filho, em lugar afastado, sentiu certo impulso
para escrever automaticamente: “Estou muito doente, meu filho!” Como se vê,
também neste caso não é possível afirmar com segurança que se trata de
manifestação de um vivo, transmitida inconscientemente em estado de vigília.
Primeiramente, porque é muito provável que, no período da crise, tenha ela
pensado no filho ausente, desejando ardentemente tê-lo junto de si; depois,
porque é bem difícil decidir se uma pessoa, tomada de grave crise de
neurastenia, permaneça em condições normais de vigília, sem intervalos fugazes
de “ausência psíquica” ou de “vigília aparente”; portanto, ficam à nossa
disposição só dois exemplos: o primeiro manifesta-se pela mediunidade vidente e
o segundo pela tiptologia, ambos susceptíveis de serem explicados de modo diferente.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
97. De qualquer forma, esses relatos servem para demonstrar
que por via de regra as mensagens mediúnicas entre vivos não se podem verificar
quando o agente se acha em estado de vigília e não está pensando no percipiente
a distância, salvo sempre em circunstâncias especiais que, em nosso caso, são
bastante discutíveis, mas de qualquer modo não infirmam a regra. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
98. Muito provavelmente, uma condição de sono, notório ou
disfarçado, mesmo que seja muito fugaz, é também necessária nas manifestações
opostas, isto é, quando o sensitivo-agente, pensando fortemente numa pessoa
distante, no momento, em estado de vigília, consegue igualmente comunicar-se
com ela. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo B)
99 No subgrupo C, em que são consideradas tais condições de
manifestação, notam-se episódios em que a pessoa, influenciada pelo pensamento
do sensitivo, é tomada efetivamente por um instante de sono, mas há,
entretanto, outros casos em que tal não se dá, o que, porém, não implica que um
breve momento de sonambulismo em vigília não se tenha igualmente produzido. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
Caso 7
100. Este caso foi transcrito do vol. XVIII, pág. 102, dos Proceedings
of the S. P. R. O incidente tem o seu valor especial pela circunstância de
se ter verificado com a conhecidíssima médium Sra. Thompson, cuja mediunidade
valeu, mais que qualquer outra, para convencer o Prof. Myers da realidade das
comunicações com os mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo B)
101. Na longa relação de Piddington a respeito de suas
próprias experiências com ela, nota-se o seguinte episódio de comunicação
mediúnica entre vivos, em que o agente inconsciente foi o próprio Piddington,
que escreve:
“Em 24 de maio de 1900 houve uma sessão com a Sra. Thompson
em minha casa, tomando Fredrich Myers nota das manifestações. Eu não estava
presente, pois desde 19 de abril que não assistia às reuniões. Terminada a
sessão, subiu a Sra. Thompson ao andar superior para tomar chá conosco. Assim
que ela me avistou, contou-me o que segue e que eu reproduzo fielmente, pela
relação que ela mesma escreveu, salvo alterações para ocultar o nome de uma
pessoa mencionada por essa senhora.
Conta ela o seguinte: – Segunda feira, 7 de maio de 1900,
cerca de 19:30 horas, estava sentada sozinha na sala de jantar, pensando na
possibilidade de comunicar-me subconscientemente, de longe, mas não tinha em
mente pessoa alguma em particular. Posso asseverar que não perdi a consciência
um só momento. De súbito, tive a impressão de que alguém se achava ao meu lado.
Abri imediatamente os olhos e com surpresa me vi diante do Sr. Piddington.
Tratava-se, naturalmente, de visão clarividente. Achava-me muito desejosa de
tentar a experiência que tinha em mente e por isso dirigi a palavra ao
fantasma, o qual me parecia absolutamente vivo e natural, razão pela qual não
me sentia de modo algum impressionada. Pedi-lhe:
– Quer ter a bondade de informar-me de algum pormenor que
eu possa verificar para me dar a certeza de que esteja realmente falando
comigo?
– Recentemente tive uma discussão violenta com... (citou o
nome).
– Por que motivo? (nenhuma resposta).
Ele se desculpou, dizendo que não tivera intenção de ofender-me
e eu lhe repliquei que me havia ofendido muito, tivesse ou não intenção de o
fazer.
Isto dito, ele desapareceu, e eu me perguntava, pasmada, se
no fantasma visto por mim e no incidente pelo mesmo narrado haveria algo de
verdadeiro, Na dúvida, não me pareceu necessário escrever ao Sr. Piddington
para lhe contar o sucedido, visto que esperava fazê-lo na primeira ocasião,
oportunidade que se me ofereceu no dia 24 do mesmo mês, ficando muito surpresa
ao saber que realmente se dera o incidente que me fora narrado pelo seu
fantasma. Além disso, eu relatei ao Sr. Piddington que adivinhara o motivo da
violenta disputa, e a minha informação era bem fundada. a) Rosalie Thompson
P.S.: Muitas vezes me perguntam de que modo eu falo a
“Nelly”, meu espírito-guia. Pois bem, eu lhe falo do mesmo modo como falei com
o fantasma do Sr. Piddington. Parece-me vê-lo e ter a percepção do que eles
dizem. Vejo seus lábios se agitarem, mas não ouço a articulação das palavras;
contudo, se eu não me expressar de viva voz, parece-me que não compreendem.
Tenho experimentado dirigir perguntas mentais a “Nelly”, porém ela não as
percebe e sou obrigada a repeti-las de viva voz.” (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
102. Com referência ao caso, diz o Sr. Piddington:
“No dia 30 de maio, escrevi ao Sr. Myers, referindo-me ao
incidente ocorrido e expressando-me como segue:
– Confirmo plenamente o relato da Sra. Thompson. Antes de
informá-lo de que era verdadeiro o incidente, esperei que ela chegasse até o
fim da narrativa. Acentuo que, em seu relato, a Sra. Thompson omitiu uma
particularidade interessante que eu friso porque sinto a necessidade de afirmar
com segurança que ela havia observado ter a brutal discussão ocorrido em
correspondência e não de viva voz.
Tal correspondência havia sido trocada entre 28 de abril e
1º de maio. Não me recordo, nem tenho pontos de referência que me ajudem a
recordar o que eu estava fazendo às 19:30 horas, mas provavelmente estava me
vestindo para o jantar.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo B)
103. Dos comentários que Piddington faz seguir ao caso,
merecem destaque os seguintes pontos:
“Deve-se ter notado que a Sra. Thompson adivinhou
exatamente o motivo da disputa quando a visão se dissipou. Se ela não houvesse
ido além do incidente da discussão e do motivo que a provocou, eu não
atribuiria grande importância à comunicação. Acrescento que teria até
considerado um feliz acaso e nada mais, quanto à revelação do nome da pessoa
com quem tivera a disputa. Sem dúvida eu ficaria surpreso, mas não impressionado.
O que produziu o efeito de deixar-me pasmo e muito impressionado foram os
outros dois informes fornecidos: o de haver o meu contraditor tentado
desculpar-se, afirmando que não tivera a intenção de ofender-me, e a minha
resposta a tal pedido de escusas. Tenho a certeza de que a Sra. Thompson não
poderia tê-lo adivinhado e ainda muito menos sabido por intermédio de alguém;
todavia, o caso se ressente, devido às reticências a que me forçam as
circunstâncias. Mesmo, porém, que eu o tivesse podido narrar sem ofender as
suscetibilidades de terceiros, não esperaria que o caso produzisse em outros a
grande impressão que me causou...” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo B)
104. No caso
exposto, fica-se em dúvida sobre se teria havido efetivamente ação inconsciente
telepático-mediúnica por parte do Sr. Piddington, uma vez que, considerando-se
o fato de que a Sra. Thompson é uma poderosa médium para toda sorte de
manifestações inteligentes, e naquele momento estava pensando na possibilidade
de comunicar-se a distância com a subconsciência de pessoas vivas, somos
levados a conjeturar, com maior verossimilhança, que esse seu estado de alma
preparasse o fenômeno em que ela estava pensando. Neste caso, dever-se-ia dizer
que, pelo dinamismo peculiar às faculdades espirituais subconscientes, a médium
teria entrado em relação e em conversação com a personalidade integral ou
espiritual de Piddington. Acima já nos referimos a tal sorte de manifestações,
que serão examinadas, de modo particular, no subgrupo C. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
105. Quanto ao incidente da visão clarividente do fantasma
de Piddington, localizado na mesma sala em que se achava a médium, isto não
constitui obstáculo para tal interpretação dos fatos. Tudo se explica
facilmente, considerando-o uma projeção, a pequena distância, da visão que
naquele momento ocupava a subconsciência da médium, erro de localização no
espaço, muito frequente nos fenômenos de clarividência telepática e de
telestesia. Esse erro se explica, considerando que, para as faculdades
espirituais subconscientes, não existem as limitações efêmeras de espaço e
tempo, tais como nós as conhecemos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo B) (Continua
no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. São raros os casos de transmissão de mensagem feita ao
médium por pessoas em estado de vigília, isto é, perfeitamente acordadas?
Sim. Segundo Bozzano, os casos pertencentes a este subgrupo
são bem raros. No seu arquivo de manifestações metapsíquicas, diz ele que havia
154 casos pertencentes ao grupo das comunicações mediúnicas entre vivos e neles
só figuravam cinco exemplos dessa natureza; contudo, submetendo-os a uma
análise posterior, pareceu-lhe que três deles não poderiam, a rigor, ser
incluídos nesse subgrupo, levando-se em consideração que, na ocasião em que se
verificou a transmissão telepático-mediúnica, dois dos agentes estavam
enfermos, acamados, circunstância esta que torna impossível afirmar se, no
momento da manifestação a distância, não tivessem adormecido por um instante. (Comunicações
mediúnicas entre vivos - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo B)
B. Uma pessoa tomada de grave crise de neurastenia consegue
manter-se integralmente em estado de vigília?
Bozzano entende que não. Uma pessoa nas condições
mencionadas dificilmente se mantém em estado de perfeita vigília, sem
intervalos fugazes de “ausência psíquica” ou de “vigília aparente”. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)
C. Que fato se dá quando é o médium que pensa fortemente
numa pessoa distante com quem deseja comunicar-se?
Muito provavelmente, verifica-se aí uma condição de sono,
notório ou disfarçado, mesmo que seja muito fugaz, quando o sensitivo-agente,
pensando fortemente numa pessoa distante, no momento em estado de vigília,
consegue igualmente comunicar-se com ela. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo B)
Observação:
Para acessar a Parte 6 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/02/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01836219200.html
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