Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 4
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Podemos dizer que Animismo e Espiritismo são aspectos complementares
do mesmo fenômeno?
B. Que é que Bozzano considera fenômenos telepáticos propriamente
ditos?
C. Em que periódico foi publicado o caso relatado pelo Sr. Kirchdorf
Kruitja Gorki, exemplificativo de mensagem transmitida ao médium por pessoa
imersa no sono?
Texto para leitura
Mensagens experimentais no mesmo aposento
47. Conforme a
resposta dada pelo guia espiritual “Imperator”, a ilusão dos clarividentes
adviria deste fato: eles conversam telepaticamente com a personalidade integral
da pessoa visualizada, e a sua condição de “espírito encarnado” faz com que
caiam na ilusão de conversar humanamente, isto é, de viva voz. (1ª
Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
48. É de notar
que a vidente em questão, além de ver à distância as pessoas com as quais
estava vinculada por relações afetivas, e perceber o pensamento de tais pessoas
e lhes transmitir seus próprios pensamentos e a sua vontade, distinguia também
os seus fantasmas “desdobrados”. Por outro lado, percebia os fantasmas dos
mortos, separando uns dos outros pela densidade diversa dos seus “corpos etéreos”. (1ª
Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
49. Tal visualização
simultânea de espíritos de vivos e de mortos demonstra ainda uma vez que
Animismo e Espiritismo não são mais que dois aspectos complementares do mesmo
fenômeno, graças aos quais se contempla o espírito humano nas suas duas fases,
de encarnação e desencarnação. E, portanto, fica mais que claro que o primeiro
de tais aspectos é a melhor confirmação do segundo ou, em outros termos, que o
Espiritismo não teria base sem o Animismo. (1ª Categoria: Mensagens
experimentais no mesmo aposento.)
50. O caso em
apreço demonstra também que as faculdades supranormais, graças às quais os
sensitivos percebem à distância, distinguem e conversam com entidades
espirituais de vivos e de mortos, são as mesmas faculdades espirituais que os
mesmos sensitivos exercerão normalmente depois de passarem pela crise da morte:
faculdades existentes e pré-formadas, em estado latente, nos recessos da
consciência, à espera de emergirem e se exercitarem num ambiente espiritual,
assim como as faculdades de sentido terreno existem pré-formadas, em estado
latente, no embrião humano, à espera de emergirem e se exercitarem no ambiente
terreno. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
51. O paralelismo
é perfeito. E como a Natureza procede, em cada caso, de modo idêntico, isto é,
pré-formando em cada ser e preservando, em estado latente, as faculdades e
sentidos a serem exercitados em uma futura fase da existência (como, por
exemplo, a transformação da lagarta em borboleta), daí resulta a confirmação da
interpretação exposta, que é baseada nos processos científicos da análise
comparada. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
52. Jamais me
cansarei de repetir tão claras e incontestáveis verdades, na esperança de que a
sua frequente repetição sirva para fazê-la triunfar mais rapidamente do
misoneísmo humano, tornando-se assimiláveis a algumas mentalidades eminentes
que se tornam inacessíveis por preconceitos de escola.[i] (1ª
Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância
53. Em linhas gerais, também nesta
segunda categoria pode-se afirmar que os vários casos que a compõem, no fundo,
não representam mais do que uma parte das modalidades com que os fenômenos
telepáticos se produzem ou pelo menos assim se deveria afirmar conforme o
significado atribuído aos fenômenos telepáticos pelos primeiros colecionadores
dos próprios fenômenos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância.)
54. De um certo
ponto de vista, tais conclusões podem ser aceitas também em nossos dias, embora
se deva reconhecer que uma fenomenologia telepática, com fronteiras tão
extensas, não pode deixar de mostrar-se demasiadamente genérica e
demasiadamente ampla para que não gere perplexidades e confusões em quem
empreenda a análise comparada dos fenômenos em questão. Isso porque nela se
contêm numerosas variedades de manifestações notavelmente diversas e algumas
vezes opostas entre si. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância.)
55. Existe, por exemplo, uma
diferença radical de manifestação entre os fenômenos telepáticos propriamente
ditos, em que o agente transmite ao percipiente o seu próprio pensamento sob
formas sensoriais diversas, e os fenômenos telepáticos em que o sensitivo, em
virtude de uma faculdade psicodinâmica subconsciente, entra diretamente em
comunicação com a subconsciência de pessoas afastadas, de modo a tornar-se
agente e percipiente ao mesmo tempo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância.)
56. Em atenção à
clareza, se não se quiser excluir tais episódios da categoria dos fenômenos
telepáticos, dever-se-á pelo menos considerá-los à parte e, conforme a
modalidade em que se manifestam, denominá-los “casos de clarividência
telepática”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância.)
57. O Prof.
Hyslop havia proposto uma diferenciação neste último grupo, segundo a qual a
“clarividência telepática”, ao invés de referir-se ao conhecimento do pensamento atual do
paciente distante, referia-se a casos de pesadelos, como se fosse dado ao
clarividente penetrar nos recessos da memória alheia e selecionar as
informações desejadas no acervo infinito de recordações latentes. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.)
58. Em tal caso,
o Prof. Hyslop propunha que se designassem os fatos com o nome de “casos de
telemnesia” (leitura a distância, na memória latente de terceiros), termo bem apropriado,
mas que não teve sorte e mereceria, ao contrário, ser acolhido e conservado
pela utilidade inegável que apresenta na análise comparada dos fatos. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.)
59. A propósito
dos episódios designados com tal nome, o Prof. Hyslop pergunta se, em
contingências semelhantes, se trata efetivamente de um fenômeno de
leitura selecionada nas subconsciências alheias ou se, pelo
contrário, se trata de um diálogo entre duas personalidades integrais
subconscientes. E ele responde, observando que a solução mais lógica seria
escolher esta última verdade, muito menos inverossímil do que a outra (Journal
of the American S. P. R., 1907, pág. 522). (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância.)
60. Em face
disso, e antecipando as conclusões finais, observaremos que, se tudo concorre
para demonstrar que a hipótese da “clarividência telepática” tem fundamento
(embora os fenômenos de tal natureza se realizem mais raramente do que se
pressupõe), não se pode afirmar o mesmo da hipótese da “telemnesia”, que serve
para designar unicamente uma classe de fenômenos considerados prováveis por
poucos pesquisadores, mas que na realidade não existem.[ii] (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância.)
61. Com este
preâmbulo, passo à exposição dos casos, observando que a presente categoria é
constituída de manifestações que se diferenciam notavelmente entre si, de modo
que parece indispensável dividi-las nos seguintes subgrupos:
Subgrupo
A – Mensagens inconscientes transmitidas ao médium
por pessoas imersas no sono.
Subgrupo
B – Mensagens inconscientemente transmitidas ao
médium por pessoas em estado de vigília.
Subgrupo
C – Mensagens obtidas por expressa vontade do
médium, às quais são aplicáveis as hipóteses da “clarividência telepática” e de
“telemnesia”.
Subgrupo
D – Mensagens transmitidas ao médium pela vontade
expressa do agente.
Subgrupo
E – Casos de transição em que o vivo que se
comunica mediunicamente é um moribundo.
Subgrupo F – Mensagens mediúnicas entre vivos, transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.)
62. Caso 4 -
Eis o primeiro caso de mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por
pessoas imersas no sono, que Bozzano extraiu da Rivista di Studi Psichici (1898, pág. 14). O caso foi
primeiramente publicado na autorizada revista psíquica russa Rebus,
estando plenamente documentado e confirmado. O Sr. K. Gorki escreveu nos
seguintes termos ao diretor da citada revista:
“Distinto
Senhor:
Interessando-me
vivamente pelos fenômenos mediúnicos, eu nutria, há muitos anos, o íntimo
desejo de poder realizar experiências práticas a respeito deles... Depois de
algumas tentativas inúteis, consegui afinal alcançar o meu objetivo, formando
um “grupo” com conhecidos meus. Não obtivemos manifestações físicas, mas, em
compensação, desenvolveu-se entre nós um excelente médium psicógrafo, com o
qual conseguimos manifestações interessantíssimas. E eis que, depois de um mês
de experiências, deu-se um caso muito semelhante ao narrado em seu opúsculo:
manifestou-se o espírito de um irmão ausente.
Nossa
família compõe-se de minha mãe, do abaixo-assinado, de minha irmã e de um irmão
mais velho, o qual, por força de seu emprego, achava-se em viagem numa das mais
remotas cidades da Sibéria. Como tínhamos necessidade da certidão de batismo de
minha irmã, a qual não fora localizada entre os papéis de família, dirigimos
uma carta ao nosso irmão, perguntando-lhe se, por acaso, a teria posto em algum
lugar, mas passaram-se dias sem chegar qualquer resposta. Telegrafamos-lhe
então, e o nosso telegrama ficou sem resposta. Entretanto, aproximava-se o dia
em que era de absoluta necessidade apresentar às autoridades competentes o
documento ansiosamente desejado.
À
noite fizemos a sessão de costume, mas preocupados e aflitos pela falta de
notícias de nosso irmão. O lápis do médium corria celeremente sobre o papel, e
recebemos comunicações interessantes. De repente, o lápis interrompeu
bruscamente a escrita no meio de uma palavra e, depois de um minuto mais ou
menos, recomeçou a escrever, mas com letras quase ilegíveis e de modo incerto.
Não conseguimos decifrar as últimas frases, mas quando se perguntou quem era o
espírito comunicante, o médium escreveu claramente o nome de nosso irmão. Um
espanto indizível nos invadiu a todos, pensando nós que ele tivesse morrido e
que era por essa razão que não respondera nem à carta, nem ao telegrama.
Interrompemos a sessão, mudos e angustiados. Passado certo tempo e
recuperando-nos do susto, o médium pegou novamente no lápis e logo começou a
escrever com a rapidez de costume, traçando algumas linhas nas quais só pudemos
ler claramente a frase: A certidão está guardada em um escaninho
interno, secreto, do meu cofre. Nenhum de nós pensara em procurá-la naquele
lugar; entretanto, logo que o abrimos, encontramos o documento desejado no
local indicado na mensagem.
Mais
do que nunca amargurados e abatidos, pois achávamos que a comunicação viera
mesmo de nosso irmão e que este não se achava mais entre os vivos,
interrompemos a sessão e nos dirigimos para o nosso quarto, tristíssimos, com
os soluços na garganta. No dia seguinte, porém, o telégrafo nos trouxe uma
notícia muito alegre, era o nosso irmão que nos telegrafava o seguinte: A
certidão está guardada em um escaninho interno, secreto, do meu cofre.
Alguns
dias após recebemos uma carta que nos esclarecia tudo. Tendo ele voltado para
casa certa noite (justamente na noite da famosa sessão), fatigado e aflito por
não nos ter podido escrever, chamou um criado, mandou-o passar o telegrama
mencionado e depois, vencido pela fadiga, deitou-se e caiu em profundo sono. As
preocupações da vigília o acompanharam no sono e ele sonhou que viera
pessoalmente nos dar a desejada resposta, o que serviu para acalmá-lo. Tal
sonho lhe ficara tão fortemente impresso na memória, que no dia seguinte tinha
quase firme a convicção de que havíamos obtido, naquela mesma noite, a preciosa
notícia.
Ao
ter a honra de levar ao seu conhecimento o presente caso, certamente notável,
de comunicação mediúnica da parte de um vivo, faço-me fiador da veracidade do
que exponho e o ratifico com a minha assinatura, à qual junto as assinaturas de
outros que a testemunharam.” (Ass. Kirchdorf Kruitja Gorki – Governo de
Saratov – M. Jaroslawzeff, Sra. E. Jaroslawzeff, N. Jaroslawzeff, K.
Martinoff, S. Polatiloff). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo A)
63. Para
explicação do caso exposto, a única hipótese que se poderia contrapor a que
seja considerado um genuíno caso de comunicação mediúnica entre vivos seria
pressupor que as faculdades supranormais do médium tivessem descoberto, pela
clarividência direta (telemnesia), o documento escondido no escaninho secreto,
porém tal hipótese fica excluída pela circunstância de ser a frase, pela qual
foi mediunicamente indicado o lugar em que se achava o documento, idêntica à
outra frase telegrafada pelo irmão, o que demonstra que o autor do telegrama
foi também o agente no caso telepático-mediúnico, conclusão resolutiva que fica
ulteriormente demonstrada pela circunstância de ter-se o irmão deitado
apreensivo por não ter podido escrever para casa, estado de alma que
indubitavelmente serviu para determinar o fenômeno de transmissão
telepático-mediúnica durante o sono, o que também ficou provado pela outra
circunstância de ter o dito irmão sonhado que fora em pessoa dar a informação
tão ansiosamente esperada. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo A) (Continua
no próximo número.)
[i]
Bozzano oferece aqui a solução da controvérsia parapsicológica entre a Escola
de Rhine (Estados Unidos) de um lado, e a de Robert Amadou, católico (França) e
J. Vassiliev, materialista (Rússia), sobre a natureza das funções psi ou
paranormais. Para Rhine, trata-se de funções em desenvolvimento, e para Amadou
e Vassiliev de funções arcaicas, em fase de extinção. Faltou a ambos os lados a
explicação espírita.
[ii]
Hipótese formulada arbitrariamente, como tantas ainda hoje propostas na
Parapsicologia, para negar a existência do espírito e de sua intervenção nos
fenômenos paranormais.
Respostas às
questões preliminares
A. Podemos dizer que Animismo e
Espiritismo são aspectos complementares do mesmo fenômeno?
Sim. Essa é, por
sinal, a conclusão a que chegou Ernesto Bozzano. Segundo ele, o primeiro de
tais aspectos é a melhor confirmação do segundo ou, em outros termos, que o
Espiritismo não teria base sem o Animismo. (Comunicações mediúnicas entre
vivos - 1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)
B. Que é que
Bozzano considera fenômenos telepáticos propriamente ditos?
Ele assim
considera os fenômenos de telepatia em que o agente transmite ao percipiente o
seu próprio pensamento sob formas sensoriais diversas, distinguindo-os dos
fenômenos telepáticos em que o sensitivo, em virtude de uma faculdade
psicodinâmica subconsciente, entra diretamente em comunicação com a
subconsciência de pessoas afastadas, de modo a tornar-se agente e percipiente
ao mesmo tempo. (Obra citada - 2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância.)
C. Em que
periódico foi publicado o caso relatado pelo Sr. Kirchdorf Kruitja Gorki,
exemplificativo de mensagem transmitida ao médium por pessoa imersa no sono?
Esse caso, o primeiro dessa natureza relatado nesta obra,
Bozzano o extraiu da Rivista di Studi Psichici (1898, pág. 14), mas ele
havia sido inicialmente publicado pela revista psíquica russa Rebus e
plenamente documentado e confirmado. (Obra citada - 2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)
Observação:
Para acessar a 3ª Parte deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0886491483.html
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo
Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário