A Força da Piedade
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Em seu soneto intitulado Piedade, meu amigo Cruz e Sousa reza:
O coração de
todo o ser humano
Foi concebido
para ter piedade,
Para olhar e
sentir com caridade,
Ficar mais doce
o eterno desengano.
Para da vida, em
cada rude oceano
Arrojar, através
da imensidade,
Tábuas de
salvação, de suavidade,
De consolo e de
afeto soberano.
Sim! que não ter
um coração profundo
É os olhos
fechar à dor do mundo,
Ficar inútil nos
amargos trilhos.
É como se o meu
ser compadecido
Não tivesse um
soluço comovido
Para sentir e
para amar meus filhos.
Há poucos dias, as câmeras de vídeo de
um prédio, em Guarapuava, PR, gravaram uma sequência brutal de surra por um
jovem à sua esposa. A agressão iniciou-se antes que o casal saísse do carro e
continuou fora do automóvel, na garagem do prédio e no apartamento dos dois.
Terminou com a morte da jovem por sua queda do quarto andar do edifício.
Quando vemos a imagem do rapaz, bem
mais forte do que a esposa, agredindo-a, um só pensamento surge em nossa mente:
covarde! Se nada justifica a violência, quando ela é utilizada contra os mais
fracos, como mulheres, idosos e crianças, essa atitude demonstra perversidade e
falta de compaixão pelo próximo.
Atos assim confirmam, em geral, a cruel
influência materialista no mundo. Crendo-se que a vida termina na morte do
corpo, sentimentos nobres como caridade, fraternidade e compaixão perdem o
sentido. A pessoa opta por viver exclusivamente dos prazeres da matéria. Perdão
passa a ser uma palavra sem sentido, demonstração de fraqueza; aborto,
assassínio e corrupção são justificados como opções individuais antes do seu
mergulho no nada.
As atitudes materialistas levam-nos ao
egocentrismo impiedoso e suas consequências nefastas, enquanto as ações dos que
cremos na imortalidade da alma contribuem para nossos gestos compassivos e
altruístas.
Não há dúvida de que existem pessoas
piedosas dentre as materialistas. Mas, assim como há religiosos que descreem do
que dizem crer e agem como ateus, há também ateus que duvidam do niilismo post mortem e são compassivos com o
próximo.
Outrossim, o Espiritismo não veio
combater o materialista, mas, sim, o materialismo e suas influências nefastas
para quem vive em função da matéria, tendo ou não uma crença. Enquanto não
entendermos que toda lesão provocada por nós ao nosso semelhante, seja ela
moral ou física, é a nós mesmos que lesamos, estaremos sob o jugo da lei divina
que retribui “a cada um segundo seu comportamento”. (1)
Como diz Sousa, em seu soneto, o
coração, símbolo do sentimento, implora-nos piedade em nossas ações. Se estas
são boas, junto da compaixão, virão os sonhos bons; mas se cruéis, a piedade
tardia virá acompanhada dos pesadelos do arrependimento e de suas sanções
penais.
Façamos nossa escolha!
(1) Mateus,
16: 27. “Pois o Filho do Homem há de vir na glória do seu Pai, com os seus
anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento.” Bíblia de Jerusalém
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