Liberdade não é libertinagem nem licenciosidade: por uma
educação integral
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Na
definição dos Espíritos, o ser humano é composto de alma (Espírito encarnado),
perispírito e corpo físico. Possui, portanto, a natureza animal, pelo corpo; e
a natureza espiritual, pela alma. O primeiro é mortal; a segunda é imortal.
Criado
simples e ignorante, o ser humano necessita de muitas encarnações para alcançar
a perfeição relativa. A perfeição absoluta é atributo exclusivo de Deus, que
Jesus Cristo nos ensinou a adorar como Pai de infinitas perfeições. Algumas
delas são a eternidade, a imutabilidade, a onisciência, a onipotência, a
bondade e a justiça soberanas.
Precisamos
passar um tempo pela matéria, um dos dois elementos do universo, além do
elemento supremo, que é Deus. Esse estágio, entretanto, nos é concedido por
nosso Pai com o objetivo de superarmos os instintos animalizados, haja vista
que a evolução se processa desde o átomo ao anjo.
Por
ser amor, quando, num dos seus mandamentos, o Senhor nos recomenda amar o
próximo, está referindo-se ao amor transcendente e não à paixão degradante.
Essa fase está restrita aos animais mais primitivos. Infelizmente, porém, muita
gente ainda confunde paixão da carne com amor espiritual.
Até
mesmo a alimentação do ser espiritualizado é frugal. Quem deseje libertar-se da
influência material deve começar pela abstenção da carne animal. Atualmente, já
existem várias alternativas para nossa nutrição, como a carne de soja e outros
alimentos proteicos em substituição à carne.
Como
Pai amoroso, Deus concede a todos nós, seus filhos, o livre-arbítrio. Ou seja,
a liberdade para escolhermos o que consideramos melhor para nós e agir, reagir
ou não, conforme nossa vontade.
A
liberdade é, portanto, a faculdade que nos permite decidir ou agir de acordo
com o que determinamos. Não se confunde, porém, com a libertinagem, que é o
desregramento, a devassidão, próprios de quem perdeu o controle sobre a sua
vontade de ser bom, como nos diz o Aurélio.
Outra
palavra também muito parecida com liberdade e libertinagem é licenciosidade, de
licencioso, ou seja, “que usa de excessiva licença, indisciplinado, desregrado”
ou “sensual, libidinoso, libertino”, de acordo com o Dicionário Aurélio. A educação, que tem por base o lar, deve
voltar-se para a disciplina do ser desde tenra idade. Isso porque, sendo eterno
e já tendo vivido muitas experiências na carne, o Espírito traz consigo
diversas tendências negativas ao lado das boas.
Em
sua sabedoria, Deus quis que, na Terra, a reencarnação humana só se complete
aos sete anos. Nessa idade, a autoridade dos pais ou responsáveis deve ser
exercida com amor, mas também com energia, quando necessário. O que não pode
haver são maus-tratos à criança. Nem físicos, nem psicológicos.
Infelizmente,
porém, por não entender muito bem a imensa responsabilidade que lhes cabe em
desenvolver, principalmente, nos primeiros anos da infância, hábitos saudáveis,
respeito e obediência, a sociedade hodierna passa por grandes conflitos de
gerações. Se antes as crianças tinham respeito até certo ponto exagerado pelos
adultos, atualmente, com base em falsas teorias, o jovem é entregue a si mesmo,
ao próprio senso ainda não desenvolvido do seu livre-arbítrio...
Vemos,
assim, até mesmo crianças que chegam à escola sem ter o mínimo respeito aos
seus colegas e aos próprios professores, que ameaçam e agridem. Tudo isso é
consequência de ideologias materialistas.
Grave
erro de pais e responsáveis é trocar seus cuidados afetivos por brinquedos e
satisfação de todos os caprichos de suas crianças. Quando saem às ruas, compram
quase tudo que seus filhos desejam. E ai desses pais e responsáveis se não
atenderem às exigências infantis. Desse modo, os jovens crescem exigentes,
egocêntricos e, por vezes, chegam a matar os próprios pais, como casos já
divulgados na mídia, para se apoderarem, mais cedo, de seus bens materiais.
A
criança necessita, desde cedo, aprender a ser grata e obediente aos seus pais.
Não pode considerar os próprios responsáveis como seus vassalos, que sejam
obrigados a tudo lhe cederem. Tem de respeitar os irmãos, coleguinhas e
adultos. Necessita ter senso de responsabilidade, aprender, desde pequenina, a
cuidar bem de seus brinquedos, a fazer bem sua higiene, a saber o valor das
coisas, a colaborar com a família e a ter gosto pela leitura e estudo. Sem
isso, o menino e a menina vão pensar que o mundo é seu, que os pais são seus
vassalos e que todas as pessoas, inclusive os próprios professores, devem estar
sempre ao seu dispor para servi-los.
Quando
uma criança mal-educada faz birra por não lhe atenderem à vontade é preciso que
se converse com ela com carinho, mas sem transigir com seus caprichos. A
educação começa dentro do lar de cada um de nós. Por isso, é muito importante
que não confundamos liberdade com libertinagem ou licenciosidade.
Sem
que nos mortifiquemos voluntariamente, precisamos, desde jovens, domar nossas
más inclinações espirituais e físicas. Podemos estar no mundo sem ser do mundo.
Isso significa que necessitamos ser responsáveis no uso de nossa liberdade,
para que não nos percamos por ignorar a linha tênue, por vezes, entre esta, a
libertinagem e a licenciosidade.
A
verdadeira finalidade da vida é esta: dominar a matéria com todo o seu séquito
de imperfeições: orgulho, inveja, avareza, maledicência, crueldade e egoísmo.
As virtudes que se opõem a isso foram ensinadas pelo Espírito da Verdade n’O Evangelho
Segundo o Espiritismo: a abnegação, o devotamento.
Na
prática dessas virtudes, estaremos a caminho do Reino dos Céus, que o Cristo
prometeu aos que fazem a Vontade do Pai. Somente com o seu exercício diário,
aliado à oração e à humildade, faremos a revolução da educação: a dos bons
exemplos, que nos proporcionam a verdadeira liberdade, pois só é
verdadeiramente livre quem vive bem. E só vive bem quem vive para o bem.
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