Esmola e
julgamento
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Assisti,
no último domingo, à palestra on-line de Carlos Campetti, que teve a
iniciativa de interagir com o público assistente, como vem ocorrendo nas
palestras do seu irmão e nosso amigo Geraldo. As perguntas populares nem sempre
foram feitas com base no tema que estava sendo desenvolvido, mas nosso confrade
espírita a todas respondeu com grande sabedoria e no tempo previsto.
Um
assunto muito bem explanado pelo expositor foi o da esmola. Ele disse que não
devemos julgar o que o pedinte vai fazer das moedas que lhe dermos. Deixemos
isso por conta de Deus.
Em
seguida, explicou-nos que o ideal seria que ninguém precisasse esmolar para
sobreviver. Se pudéssemos oferecer oportunidade de emprego com remuneração
razoável, isso seria o ideal. Infelizmente, porém, não é o que, em geral,
acontece.
Passou
então a contar um caso ocorrido com Cecília Rocha, então vice-presidente da
Federação Espírita Brasileira (FEB), desencarnada há poucos anos, aos 93 anos
de idade. Numa de suas viagens de ônibus, com alguns confrades, a serviço da
Doutrina Espírita, por um bom tempo, a conversa entre eles versou sobre o tema
esmola. Era consenso entre os confrades que não se deveria dar esmola e, sim,
trabalho remunerado às pessoas. Pois há quem faça do pedido uma forma de
alimentar seu vício...
Quando
chegaram ao fim da viagem e desembarcaram, depararam-se com um menino
pobremente vestido que lhes estendia as mãos e pedia dinheiro para comprar
alimento. Cecília não teve dúvida, abriu sua bolsa, retirou dali alguns
trocados e os deu à criança, que se retirou feliz e agradecida. Ante o espanto
de todos, explicou:
—
Devemos atender quem pede ajuda sem nosso pré-julgamento. Pois uma coisa é
oferecermos trabalho remunerado a um necessitado que estamos sempre
encontrando; outra coisa é socorrermos quem nos pede esmola na rua que,
provavelmente, nunca mais veremos. Não nos cabe julgar ninguém. Auxiliar
sempre.
A
lição estava dada. Ajudar primeiro. Deixar a Deus o julgamento.
N'O
Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 16, intitulado "Não se pode
servir a Deus e a Mamom", o Espírito Fénelon termina com esta frase:
"A todos os que podem dar, pouco ou muito, direi: dai esmola quando for
preciso, mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que
aquele que a receba não se envergonhe dela".
Infelizmente,
em nosso egoísmo, esquecemos a primeira parte da recomendação do elevado
Espírito Fénelon e, presos às conveniências, por vezes, alegamos que não devemos
dar esmolas a ninguém, sob as mais descaridosas alegações:
—
Estou vendo que o pedinte é um "bebum". Se eu lhe der uns trocados,
ele vai para o bar se embriagar.
—
Soube que muita gente faz da esmola uma profissão, então não vou alimentar a
preguiça.
—
Os Espíritos superiores nos aconselham a dar trabalho, não esmola. Não quero
humilhar ninguém...
—
Jesus recomendou-nos não dar esmolas diante de outras pessoas, por isso, outra
hora, quando ninguém estiver vendo... — E nunca mais socorre o necessitado.
Tudo
isso não passa de pretexto para tentar justificar nossa omissão de socorro aos
nossos irmãos que nos rogam auxílio. Pior ainda é quando, tendo a palavra, numa
reunião pública, utilizamos essas tristes deduções para aconselhar os ouvintes
a não darem esmolas.
Em
primeiro lugar, se sabemos que a pessoa é alcoólatra, por que então não
tentamos libertá-la do vício? Depois, o que a pessoa faz do auxílio recebido é
entre ela e Deus e não entre nós e ela. Quanto ao oferecimento de emprego, quem
de nós tem essa condição? Pouquíssimos. Sobre a recomendação do Cristo, o que
Ele condena é o exibicionismo e a hipocrisia...
Em
Santo Antônio do Descoberto, GO, levávamos, mensalmente, uma cesta básica a um
rapaz, ainda jovem, chamado Daniel, que, segundo soubemos, vendia a cesta
básica para comprar cachaça. Tempos depois, deitou-se sobre mesa de bar e não
mais se levantou. Entretanto, já estava frequentando
e participando de nossas orações.
Era
doente da alma e, como tal, o grupo o socorria sem prejulgamentos. Lembro-me de que, ao fim da última reunião em
que participou conosco, na atual existência, pedimos a alguém que encerrasse o encontro com uma
oração. E o Daniel, em prece comovida do Pai Nosso, acompanhada por
todos, em voz alta, elevou seus pensamentos a Deus e nos emocionou.
Nos
casos citados, lembramos o conselho de Jesus: "Não julgueis, porque com a
mesma medida que julgardes sereis julgados". Se pudermos, ofereçamos a oportunidade de
trabalho remunerado a quem nos pede auxílio. Mas como isso ainda é utópico, na
sociedade atual, auxiliemos primeiro e jamais julguemos.
Concluímos
com a frase abaixo, atribuída a Chico Xavier:
— "Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o
sofrimento: Não julgar, definitivamente, não julgar a quem quer que seja".
Como consultar
as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique
neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário