As crianças e seus amigos invisíveis
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Tema
central do filme O Amigo Oculto,
estrelado por Robert De Niro, as crianças realmente se entretêm com amigos
imaginários?
Segundo
diversos psicólogos, a resposta é sim, e o percentual dos casos apurados em
todo o mundo revela que o fato é mais comum do que se pensa, ou seja, não é uma
ou outra criança que diz conversar com amigos que ninguém vê. O seu número
seria muito grande.
A
questão que se impõe é, portanto, outra: – Os amigos supostamente imaginários
são fruto da imaginação infantil ou seres reais que os adultos não veem mas que
as crianças veem e que com elas conversam, como fazem os amiguinhos encarnados?
A
vidência mediúnica, que Allan Kardec estudou em minúcias nos itens 100 e 190 de
O Livro dos Médiuns, é assunto
pacífico no campo da fenomenologia espírita.
Essa
faculdade, que depende da organização física do médium, permite a este ver os
Espíritos em estado de vigília, ou seja, estando o sensitivo perfeitamente
acordado. Como os fenômenos mediúnicos não ocorrem à revelia das autoridades
espirituais superiores, é claro que há Espíritos que se deixam ver e há outros
que não são vistos, o que não significa que estejamos sós, porquanto os
desencarnados habitualmente nos rodeiam.
A
propósito de um estudo feito pelo Dr. H. Bouley sobre a evolução da raiva nos
cães, que experimentam nas intermitências dos acessos uma espécie de delírio,
Kardec examinou o fenômeno das visões de seres desencarnados que ocorre com as
criancinhas e com certos animais, sobretudo o cão e o cavalo, concluindo que,
no tocante às crianças, a vidência mediúnica parece ser frequente e mesmo
geral. (Leia sobre o assunto a Revista
Espírita de 1865, pp. 260 a 264.)
A
existência da mediunidade de vidência, informam os Espíritos, foi a primeira de
todas as faculdades dadas ao homem para se corresponder com o mundo invisível.
Em todos os tempos e em todos os povos, as crenças religiosas se estabeleceram
sobre revelações de visionários ou médiuns videntes. A Revista Espírita de 1866, págs. 120 a 123, trata do assunto.
Um
caso de vidência numa criança de quatro anos, verificado em Caen (França),
levou Kardec a reconhecer que a mediunidade de vidência não apenas parecia mas
era, efetivamente, muito comum nas crianças, e isso, segundo o Codificador, não
deixava de ser providencial. “Ao sair da vida espiritual, explicou Kardec, os
guias da criança acabam de a conduzir ao porto de desembarque para o mundo
terreno, como vêm buscá-la em seu retorno. A elas se mostram nos primeiros
tempos, para que não haja transição muito brusca; depois se apagam pouco a
pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de seu livre
arbítrio.” (Cf. Revista Espírita de
1866, pp. 286 e 287.)
Ninguém,
pois, se assuste quando vir que seu filho anda a conversar com “amigos” que ele
diz ver e que, no entanto, não vemos.
Até
os sete anos de idade, o Espírito da criança encontra-se em fase de adaptação
para a nova existência e ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a
matéria orgânica, fato que lhe permite emancipar-se e, eventualmente, ver
vultos desencarnados que lhe fazem companhia, o que nos permite deduzir que os
amigos imaginários das nossas crianças só o são na aparência. Eles não são
imaginários, mas tão somente invisíveis.
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