O Céu e o Inferno
Allan Kardec
Parte 5
Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.
Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.
Eis as questões de hoje:
33. Há incoerências na
doutrina da Igreja acerca dos demônios?
Sim, incoerências há e são inúmeras.
Eis algumas delas:
1ª - Se Satã e os demônios eram anjos, eles eram perfeitos; como, sendo
perfeitos, puderam falir a ponto de desconhecer a autoridade desse Deus, em
cuja presença se encontravam? A conclusão é óbvia: Deus quis criar seres
perfeitos, porquanto os favorecera com todos os dons, mas enganou-se; logo,
segundo a Igreja, Deus não é infalível.
2ª - Pois que nem a Igreja nem os sagrados anais explicam a causa da
rebelião dos anjos para com Deus e apenas dão como problemática a relutância
deles no reconhecimento da futura missão do Cristo, que valor pode ter o quadro
tão preciso e detalhado da cena então ocorrente? A que fonte recorreram, para
inferir se de fato foram pronunciadas palavras tão claras e até simples
colóquios?
3ª - As palavras que a Igreja atribui a Lúcifer revelam uma ignorância
admirável num arcanjo. Com efeito, como poderia Lúcifer ter dito que fixaria
residência acima dos astros, dominando as mais elevadas nuvens? (O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap.
IX, itens 9 a 19.)
34. Segundo o
Espiritismo, há demônios?
No sentido que a Igreja dá a essa palavra, não há demônios. Melhor
dizendo: os anjos e os demônios não são entidades distintas. Trata-se tão
somente de Espíritos que, quando unidos a corpos materiais, constituem a
Humanidade que povoa a Terra e outras esferas habitadas, e que, libertos do
corpo material, constituem o mundo espiritual e assim povoam os Espaços. Deus
criou-os perfectíveis e deu-lhes por meta a perfeição, com a felicidade que
dela decorre. Em todos os graus existem, portanto, ignorância e saber, bondade
e maldade. Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda profundamente
propensos ao mal e que se comprazem com o mal. A estes pode-se denominar
demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos atribuídos. O Espiritismo
não lhes dá tal nome por se prender ele à ideia de uma criação distinta do
gênero humano, como seres de natureza essencialmente perversa, votados ao mal
eternamente e incapazes de qualquer progresso para o bem. Aqueles a quem
chamamos anjos conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela
rota comum pela qual todos haveremos de passar. (Obra citada, Primeira Parte,
cap. IX, itens 20 e 21.)
35. Os Espíritos
realizam alguma missão na obra da Natureza?
Sim. Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas
ao seu progresso; preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de
diferentes categorias. (Obra citada, Primeira Parte, cap. IX, item 22.)
36. As manifestações
espíritas são atribuídas pela Igreja a qual agente?
A Igreja as atribui à intervenção dos demônios. (Obra citada, Primeira
Parte, cap. X, itens 4 a 6.)
37. Como foi que a
Igreja deduziu que as manifestações espíritas são provocadas não por Espíritos,
mas por demônios?
A Igreja entende que são os demônios que se manifestam porque, segundo o
dogma católico, as almas dos mortos demoram no lugar que lhes designa a sua
justiça, e não podem colocar-se às ordens dos vivos. Assim, os seres
misteriosos que acodem ao primeiro apelo do herege, do ímpio ou do crente não
são enviados de Deus, nem apóstolos da verdade e da salvação, porém fatores do
erro e agentes do inferno. Trata-se, como se vê, de uma conclusão baseada numa
premissa jamais comprovada pelos fatos e desmentida pelos inúmeros fenômenos
registrados na própria Bíblia. (Obra citada, Primeira Parte, cap. X, itens 4 e
5.)
38. Como a Doutrina
Espírita responde à tese da Igreja de que as manifestações espíritas são
provocadas por demônios?
A melhor resposta a tais ideias é o exame das mensagens espíritas, que
recomendam invariavelmente aos homens rogar a Deus, submeter-se à vontade do
Pai, renunciar ao mal e praticar o bem. Ora, que espécie de demônio é esse que
labora contrariamente aos seus próprios interesses? Como compreender que exalte
ele, nas mensagens, a vida deliciosa dos bons Espíritos e pinte a horrorosa
posição dos maus? Jamais se viu negociante realçar aos seus fregueses a
mercadoria do vizinho em detrimento da sua, aconselhando-os a ir à casa dele.
Nunca se viu um arrebanhador de soldados depreciar a vida militar, decantando o
repouso da vida doméstica!
Dessa forma, atribuir ao demônio tão benéfica propaganda e salutar
resultado é conferir-lhe diploma de tolo. E, como não se trata de simples
suposição, mas de fato experimental contra o qual não há argumento, havemos de
concluir que o demônio ou é um desazado de primeira ordem, ou não é tão astuto
e mau como se pretende e, conseguintemente, tão temível quanto dizem, ou,
então, que as manifestações espíritas não partem dele. (Obra citada, Primeira
Parte, cap. X, itens 7 a 9.)
39. Para evocar os
Espíritos, quais as condições necessárias?
Não há fórmulas sacramentais para evocar Espíritos. Quem quer que
pretendesse estabelecer uma fórmula poderia ser tachado de usar de
charlatanismo, visto que para os Espíritos puros a fórmula nada vale. A
evocação deve ser feita sempre em nome de Deus. A mais essencial de todas as
disposições para evocar é o recolhimento, quando desejarmos tratar com
Espíritos sérios. Com a fé e o desejo do bem, mais aptos nos tornamos para
evocar Espíritos superiores. Elevando nossa alma por alguns instantes de
concentração no momento de evocá-los, identificamo-nos com os bons Espíritos,
predispondo a sua vinda. (Obra citada, Primeira Parte, cap. X, item 10.)
40. Como se pode saber
qual a categoria de um Espírito comunicante se não podemos vê-lo nem tirar
informações a seu respeito?
A categoria do Espírito se reconhece por sua linguagem: os
verdadeiramente bons e superiores têm-na sempre digna, nobre, lógica, imune de
qualquer contradição. Sua linguagem revela sabedoria, modéstia, benevolência e
a mais pura moral. Além disso, é concisa, clara e sem redundâncias inúteis.
(Obra citada, Primeira Parte, cap. X, item 13.)
Observação: Para
acessar a Parte 4 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/04/blog-post_22.html
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