sexta-feira, 21 de maio de 2021

 



O Além e a Sobrevivência do Ser

 

Léon Denis

 

Parte 18 e final

 

Concluímos nesta data o estudo do clássico O Além e a Sobrevivência do Ser, de autoria de Léon Denis, com base na 8ª edição publicada em português pela Federação Espírita Brasileira.

Nosso propósito é que este estudo tenha servido para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Por que é normal entre nós, encarnados, o esquecimento das existências anteriores? 

B. A crença na reencarnação é comum a todas as grandes religiões?

C. Por que o Catolicismo, que é a religião cristã mais conhecida, não ensina a lei das vidas sucessivas? 

 

Texto para leitura

 

226. A esses casos acrescentarei um, citado pelo Sr. H. Varigny, no folhetim científico do Journal des Débats, de 11 de abril de 1912:

“Segundo um autor que muito conviveu com os Birmans e os estimulou, consagrando-lhes um livro de grande interesse, o Sr. Fielding Hall relatou o fato seguinte, que não é mais do que unum et pluribus. Entre os Birmans, encontrar-se-iam frequentemente crianças que se recordavam de vidas anteriores. Infelizmente essa lembrança se apaga e desaparece com a idade.

Cinquenta anos antes, duas crianças, um menino e uma menina, nasceram no mesmo dia e na mesma aldeia. Para abreviar: casaram-se e morreram na mesma data, depois de terem fundado uma família e praticado todas as virtudes. Sobrevieram dias agitados, diz a história, cuja lembrança, entretanto, pouca utilidade tem para esta narrativa. Basta dizer-se que dois jovens de sexos diferentes foram obrigados a fugir da aldeia, onde o primeiro episódio se passara, e foram estabelecer-se alhures. Tiveram dois filhos gêmeos.

Aqui começa o segundo episódio. Os dois gêmeos, em lugar de se tratarem pelos respectivos nomes, se designavam pelos nomes (muito semelhantes) do casal virtuoso que morrera; por conseguinte, uma das crianças dava a outra um nome feminino.

Os pais se admiraram disso um pouco, porém logo compreenderam o que havia. Para eles o casal virtuoso se reencarnara nos meninos. Quiseram tirar a prova. Levaram ambos à aldeia onde tinham nascido. Reconheceram tudo: estradas, casas, pessoas, até as roupas do casal, conservadas sem que se saiba por que razão. Um se lembrou de haver emprestado certa soma a determinada pessoa, que ainda vivia e confirmou o fato. Ao Sr. Fielding Hall, que viu os dois meninos quando tinham seis anos, parecia que um apresentava aspecto um tanto feminil: era o que abrigava a alma da mulher defunta.

Antes da reencarnação, viveram, dizem os dois, algum tempo sem corpo, nos galhos das árvores, mas suas reminiscências se vão tornando cada vez menos nítidas e se apagam: as da vida anterior, naturalmente.”

227. Conforme o demonstramos em O Problema do Ser, capítulo XV – Os meninos-prodígio e a hereditariedade –, o caráter individual não se pode explicar unicamente pelas leis do atavismo e da hereditariedade. Se se encontram nos filhos, às vezes fortemente acentuadas, as qualidades ou os defeitos dos ascendentes, verificam-se também traços distintivos, que não podem provir senão de aquisições pessoais, anteriores ao nascimento.

228. Os gêmeos são, não raro, de caracteres muito dessemelhantes e os meninos-prodígio possuem talentos que os pais não acusam.

229. Descartes, Leibniz e Kant tiveram uma certa intuição destes fatos, sobretudo Descartes, na sua teoria das ideias inatas; mas só o espiritualismo experimental contemporâneo pôde lançar luz sobre tais problemas.

230. A lei das reencarnações é conforme ao princípio de evolução, aclara-o e completa. Somente, em vez de lhe procurar a causa inicial na matéria, a coloca no espírito, livre e responsável, que por si mesmo constrói as formas sucessivas que revestirá para percorrer a escala magnífica dos mundos.

231. Na obra já citada expus as razões que tornam necessário e justificam o esquecimento das existências anteriores durante a nossa passagem pela Terra. Na maioria dos casos, a lembrança seria um entrave ao nosso progresso, uma causa de inimizade entre os homens. Perpetuaria, entre as gerações, os ódios, os ciúmes, os conflitos de toda ordem.

232. A alma, depois de ter bebido a água do Letes(1), recomeça uma outra carreira, mais livre de construir a sua existência em um novo e melhor plano, liberta dos preconceitos, das rotinas, dos erros e dos rancores passados.

233. Todas as grandes religiões se hão baseado na crença nas vidas sucessivas: o bramanismo, o budismo, o druidismo, o islamismo (ver Surata II, v. 26 do Alcorão; Surata VII, c. 55; Surata XVII, v. 52; Surata XIV, v. 25). O Cristianismo primitivo não abriu exceção à regra. Traços desta doutrina se nos deparam no Evangelho.

234. Os Padres gregos Orígenes, Clemente de Alexandria e a maior parte dos cristãos dos primeiros séculos a admitiam (ver minha obra Cristianismo e Espiritismo, caps. III e IV e Nota 5).

235. O Catolicismo julgou dever deixar na sombra esse ensino e substituí-lo pela teoria de uma vida única e pelo dogma das penas eternas, como mais eficazes para a salvação das almas e talvez mais ainda para a dominação da Igreja. Daí, acreditamos, a sua atual impotência para dar solução satisfatória ao problema da vida e do destino, uma das razões do seu enfraquecimento e da sua decadência.

 

(1) O rio Letes localiza-se, de acordo com a mitologia clássica, no inferno (Hades). Era onde os mortos se banhavam e esqueciam sua existência anterior. Na Comédia de Dante, Letes é um rio do purgatório onde as almas penitentes se banham e se purificam para que possam ter acesso ao Paraíso.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Por que é normal entre nós, encarnados, o esquecimento das existências anteriores? 

Existem fortes razões que justificam o esquecimento das existências anteriores durante a nossa passagem pela Terra. Na maioria dos casos, a lembrança seria um entrave ao nosso progresso, uma causa de inimizade entre os homens. Perpetuaria, entre as gerações, os ódios, os ciúmes, os conflitos de toda ordem. A alma, depois de ter bebido a água do Letes, recomeça uma outra carreira, mais livre de construir a sua existência em um novo e melhor plano, liberta dos preconceitos, das rotinas, dos erros e dos rancores passados. (Estudo sobre a Reencarnação ou as Vidas Sucessivas – Parte III.)

B. A crença na reencarnação é comum a todas as grandes religiões?

Sim. Todas as grandes religiões se hão baseado na crença nas vidas sucessivas: o bramanismo, o budismo, o druidismo, o islamismo e também o cristianismo primitivo. Segundo Léon Denis, traços desta doutrina se nos deparam no Evangelho, e os Padres gregos Orígenes, Clemente de Alexandria e a maior parte dos cristãos dos primeiros séculos a admitiam. (Obra citada.)

C. Por que o Catolicismo, que é a religião cristã mais conhecida, não ensina a lei das vidas sucessivas? 

Segundo Léon Denis, o Catolicismo julgou dever deixar na sombra esse ensino e substituí-lo pela teoria de uma vida única e pelo dogma das penas eternas, como mais eficazes para a salvação das almas. Daí, acredita ele, a atual impotência da Igreja para dar solução satisfatória ao problema da vida e do destino, uma das razões do seu enfraquecimento e da sua decadência. (Obra citada.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 17 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/05/o-alem-e-asobrevivencia-do-ser-leon.html

 

 

 

 

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