O Além e a
Sobrevivência do Ser
Léon Denis
Parte 18 e final
Concluímos nesta data o estudo do clássico O Além e a Sobrevivência do Ser, de autoria de Léon Denis, com base na 8ª edição publicada em português pela Federação Espírita Brasileira.
Nosso propósito é que este estudo tenha
servido para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Por que é normal entre nós,
encarnados, o esquecimento das existências anteriores?
B. A crença na reencarnação é comum a
todas as grandes religiões?
C. Por que o Catolicismo, que é a
religião cristã mais conhecida, não ensina a lei das vidas sucessivas?
Texto para
leitura
226. A esses casos acrescentarei um,
citado pelo Sr. H. Varigny, no folhetim científico do Journal des Débats, de 11 de abril de 1912:
“Segundo um autor que muito conviveu
com os Birmans e os estimulou, consagrando-lhes um livro de grande interesse, o
Sr. Fielding Hall relatou o fato seguinte, que não é mais do que unum et pluribus. Entre os Birmans,
encontrar-se-iam frequentemente crianças que se recordavam de vidas anteriores.
Infelizmente essa lembrança se apaga e desaparece com a idade.
Cinquenta anos antes, duas crianças,
um menino e uma menina, nasceram no mesmo dia e na mesma aldeia. Para abreviar:
casaram-se e morreram na mesma data, depois de terem fundado uma família e
praticado todas as virtudes. Sobrevieram dias agitados, diz a história, cuja
lembrança, entretanto, pouca utilidade tem para esta narrativa. Basta dizer-se
que dois jovens de sexos diferentes foram obrigados a fugir da aldeia, onde o
primeiro episódio se passara, e foram estabelecer-se alhures. Tiveram dois
filhos gêmeos.
Aqui começa o segundo episódio. Os
dois gêmeos, em lugar de se tratarem pelos respectivos nomes, se designavam
pelos nomes (muito semelhantes) do casal virtuoso que morrera; por conseguinte,
uma das crianças dava a outra um nome feminino.
Os pais se admiraram disso um pouco,
porém logo compreenderam o que havia. Para eles o casal virtuoso se reencarnara
nos meninos. Quiseram tirar a prova. Levaram ambos à aldeia onde tinham
nascido. Reconheceram tudo: estradas, casas, pessoas, até as roupas do casal,
conservadas sem que se saiba por que razão. Um se lembrou de haver emprestado
certa soma a determinada pessoa, que ainda vivia e confirmou o fato. Ao Sr.
Fielding Hall, que viu os dois meninos quando tinham seis anos, parecia que um
apresentava aspecto um tanto feminil: era o que abrigava a alma da mulher
defunta.
Antes da reencarnação, viveram, dizem
os dois, algum tempo sem corpo, nos galhos das árvores, mas suas reminiscências
se vão tornando cada vez menos nítidas e se apagam: as da vida anterior,
naturalmente.”
227. Conforme o demonstramos em O Problema do Ser, capítulo XV – Os
meninos-prodígio e a hereditariedade –, o caráter individual não se pode
explicar unicamente pelas leis do atavismo e da hereditariedade. Se se
encontram nos filhos, às vezes fortemente acentuadas, as qualidades ou os defeitos
dos ascendentes, verificam-se também traços distintivos, que não podem provir
senão de aquisições pessoais, anteriores ao nascimento.
228. Os gêmeos são, não raro, de
caracteres muito dessemelhantes e os meninos-prodígio possuem talentos que os
pais não acusam.
229. Descartes, Leibniz e Kant tiveram
uma certa intuição destes fatos, sobretudo Descartes, na sua teoria das ideias
inatas; mas só o espiritualismo experimental contemporâneo pôde lançar luz
sobre tais problemas.
230. A lei das reencarnações é
conforme ao princípio de evolução, aclara-o e completa. Somente, em vez de lhe
procurar a causa inicial na matéria, a coloca no espírito, livre e responsável,
que por si mesmo constrói as formas sucessivas que revestirá para percorrer a
escala magnífica dos mundos.
231. Na obra já citada expus as razões
que tornam necessário e justificam o esquecimento das existências anteriores
durante a nossa passagem pela Terra. Na maioria dos casos, a lembrança seria um
entrave ao nosso progresso, uma causa de inimizade entre os homens.
Perpetuaria, entre as gerações, os ódios, os ciúmes, os conflitos de toda
ordem.
232. A alma, depois de ter bebido a
água do Letes(1), recomeça uma outra carreira, mais livre de construir a sua
existência em um novo e melhor plano, liberta dos preconceitos, das rotinas,
dos erros e dos rancores passados.
233. Todas as grandes religiões se hão
baseado na crença nas vidas sucessivas: o bramanismo, o budismo, o druidismo, o
islamismo (ver Surata II, v. 26 do Alcorão; Surata VII, c. 55; Surata XVII, v.
52; Surata XIV, v. 25). O Cristianismo primitivo não abriu exceção à regra.
Traços desta doutrina se nos deparam no Evangelho.
234. Os Padres gregos Orígenes,
Clemente de Alexandria e a maior parte dos cristãos dos primeiros séculos a
admitiam (ver minha obra Cristianismo e
Espiritismo, caps. III e IV e Nota 5).
235. O Catolicismo julgou dever deixar
na sombra esse ensino e substituí-lo pela teoria de uma vida única e pelo dogma
das penas eternas, como mais eficazes para a salvação das almas e talvez mais
ainda para a dominação da Igreja. Daí, acreditamos, a sua atual impotência para
dar solução satisfatória ao problema da vida e do destino, uma das razões do
seu enfraquecimento e da sua decadência.
(1) O rio Letes localiza-se, de acordo
com a mitologia clássica, no inferno (Hades). Era onde os mortos se banhavam e
esqueciam sua existência anterior. Na Comédia de Dante, Letes é um rio do
purgatório onde as almas penitentes se banham e se purificam para que possam
ter acesso ao Paraíso.
Respostas às questões preliminares
A. Por que é normal entre nós, encarnados, o esquecimento
das existências anteriores?
Existem fortes razões que justificam o
esquecimento das existências anteriores durante a nossa passagem pela Terra. Na
maioria dos casos, a lembrança seria um entrave ao nosso progresso, uma causa
de inimizade entre os homens. Perpetuaria, entre as gerações, os ódios, os
ciúmes, os conflitos de toda ordem. A alma, depois de ter bebido a água do
Letes, recomeça uma outra carreira, mais livre de construir a sua existência em
um novo e melhor plano, liberta dos preconceitos, das rotinas, dos erros e dos
rancores passados. (Estudo sobre a
Reencarnação ou as Vidas Sucessivas – Parte III.)
B. A crença na reencarnação é comum a todas as grandes
religiões?
Sim. Todas as grandes religiões se hão
baseado na crença nas vidas sucessivas: o bramanismo, o budismo, o druidismo, o
islamismo e também o cristianismo primitivo. Segundo Léon Denis, traços desta
doutrina se nos deparam no Evangelho, e os Padres gregos Orígenes, Clemente de
Alexandria e a maior parte dos cristãos dos primeiros séculos a admitiam. (Obra
citada.)
C. Por que o Catolicismo, que é a religião cristã mais
conhecida, não ensina a lei das vidas sucessivas?
Segundo Léon Denis, o Catolicismo
julgou dever deixar na sombra esse ensino e substituí-lo pela teoria de uma
vida única e pelo dogma das penas eternas, como mais eficazes para a salvação
das almas. Daí, acredita ele, a atual impotência da Igreja para dar solução
satisfatória ao problema da vida e do destino, uma das razões do seu
enfraquecimento e da sua decadência. (Obra citada.)
Observação:
Para acessar a Parte 17 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/05/o-alem-e-asobrevivencia-do-ser-leon.html
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