Nova versão da história do barqueiro analfabeto
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Salve,
leitores amigos! Hoje daremos nova versão à história do barqueiro que não sabia
ler nem escrever e do professor que ele transportava no rio Negro.
João
do Barco era um jovem simples, que morava às margens do rio Negro, um dos
afluentes do rio Amazonas. Possuía duas profissões: pescador e barqueiro. Nesta
última, trabalhava das 7h às 19h, diariamente, transportando as pessoas de
margem a outra do rio, sem folga nos feriados e fins de semana. Pescava entre
5h e 6h da manhã.
Toda
a sua existência atual, até então, baseara-se nos conhecimentos herdados do
pai, falecido quando João do Barco estava com a idade de 15 anos. O pai
narrava-lhe muitas histórias. Uma delas era a de um professor que morrera
quando o barco virara e aquele, com muita raiva do professor, deixara de tentar
salvá-lo, por se ter melindrado com as palavras do mestre, que lhe dissera que
o conhecimento das letras era fundamental para abrir nossas mentes para viagens
do espírito, muito além das meras travessias duma margem à outra do rio.
Quando
o barco virara, Sr. Joaquim, o pai de João, perguntara ao professor:
—
O senhor sabe nadar? – Em resposta, ouviu uma desesperada vítima, antes de se
afogar, dizer-lhe, entre glub, glub, glub:
—
Não sei... Salve-me, por favor! – E Sr. Joaquim, após refletir um instante no quanto era importante para ele
garantir a própria sobrevivência, recomendou-lhe que se agarrasse à pequena
tábua que boiava, solta do barco, a distância.
—
Assim que eu nadar até a margem, virei noutro barco para salvá-lo. — O detalhe
é que a citada tábua estava fora do alcance de quem não sabia nadar, mas não de
um bom nadador, como Sr. Joaquim.
Passados
os anos, o pai de João do Barco ocultava seus remorsos com as seguintes
palavras ditas ao filho:
—
Se um dia você encontrar quem lhe ensine a ler e escrever, esforce-se em
aprender, para que não venha, por despeito, a deixar alguém morrer. Afinal,
aprender nunca é demais, mas fazer o que se aprende é fundamental.
Como
a vida continua, Joaquim também morreu. Não afogado, como o pobre docente, que
deixou família sem provedor e dezenas de alunos privados do único professor
local, mas porque, não sabendo
ler, num dia em que, mais uma vez, se aventurara a atravessar a nado para a
outra margem do rio, por esporte, ignorou o aviso, numa grande placa, à sua
frente: "Nado interditado, pois o rio foi invadido por piranhas
vorazes".
Anos
após o infausto acontecimento da morte do professor, agora era João do Barco
que transportava o substituto daquele. Em dado momento, o rapaz, então com 18
anos, perguntou ao docente:
—
O senhor sabe nadar?
—
Não sei, mas e você, sabe ler e escrever?
—
Também não, professor, mas vou propor-lhe uma troca de aprendizagens: eu lhe
ensino a nadar e o senhor me ensina a ler e escrever. Que acha disso?
–
Aprovado! — Disse o mestre, ainda com o hábito de avaliar...
O
professor aprendeu a nadar, e João aprendeu a ler e escrever com seu mestre e
amigo. Vinte anos após, o agora dr. João, que se formara em agropecuária, no
Campus da Universidade Federal do Amazonas, em Parintins, tornou-se um dos
maiores comerciantes de peixes, proprietário dalgumas das melhores embarcações
da região e proprietário de famosa escola local.
Atualmente,
João do Barco proporciona emprego e estudos a cerca de 3.000 famílias
amazonenses. Seu ex-professor é o atual diretor de sua instituição de ensino...
Moral
da história: Não importa o que sabemos, se não passamos isso adiante com
humildade e desejo permanente de aprender e compartir. Somente assim nos
livramos da ignorância e da falta de compaixão pelo próximo.
Esta
é uma história fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.
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