sábado, 8 de maio de 2021

 



Nova versão da história do barqueiro analfabeto

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

           

Salve, leitores amigos! Hoje daremos nova versão à história do barqueiro que não sabia ler nem escrever e do professor que ele transportava no rio Negro.

João do Barco era um jovem simples, que morava às margens do rio Negro, um dos afluentes do rio Amazonas. Possuía duas profissões: pescador e barqueiro. Nesta última, trabalhava das 7h às 19h, diariamente, transportando as pessoas de margem a outra do rio, sem folga nos feriados e fins de semana. Pescava entre 5h e 6h da manhã.

Toda a sua existência atual, até então, baseara-se nos conhecimentos herdados do pai, falecido quando João do Barco estava com a idade de 15 anos. O pai narrava-lhe muitas histórias. Uma delas era a de um professor que morrera quando o barco virara e aquele, com muita raiva do professor, deixara de tentar salvá-lo, por se ter melindrado com as palavras do mestre, que lhe dissera que o conhecimento das letras era fundamental para abrir nossas mentes para viagens do espírito, muito além das meras travessias duma margem à outra do rio. 

Quando o barco virara, Sr. Joaquim, o pai de João, perguntara ao professor:

— O senhor sabe nadar? – Em resposta, ouviu uma desesperada vítima, antes de se afogar, dizer-lhe, entre glub, glub, glub:

— Não sei... Salve-me, por favor! – E Sr. Joaquim, após refletir um instante no quanto era importante para ele garantir a própria sobrevivência, recomendou-lhe que se agarrasse à pequena tábua que boiava, solta do barco, a distância.

— Assim que eu nadar até a margem, virei noutro barco para salvá-lo. — O detalhe é que a citada tábua estava fora do alcance de quem não sabia nadar, mas não de um bom nadador, como Sr. Joaquim.

Passados os anos, o pai de João do Barco ocultava seus remorsos com as seguintes palavras ditas ao filho:

— Se um dia você encontrar quem lhe ensine a ler e escrever, esforce-se em aprender, para que não venha, por despeito, a deixar alguém morrer. Afinal, aprender nunca é demais, mas fazer o que se aprende é fundamental.

Como a vida continua, Joaquim também morreu. Não afogado, como o pobre docente, que deixou família sem provedor e dezenas de alunos privados do único professor local, mas porque, não sabendo ler, num dia em que, mais uma vez, se aventurara a atravessar a nado para a outra margem do rio, por esporte, ignorou o aviso, numa grande placa, à sua frente: "Nado interditado, pois o rio foi invadido por piranhas vorazes".

Anos após o infausto acontecimento da morte do professor, agora era João do Barco que transportava o substituto daquele. Em dado momento, o rapaz, então com 18 anos, perguntou ao docente:

— O senhor sabe nadar?

— Não sei, mas e você, sabe ler e escrever?

— Também não, professor, mas vou propor-lhe uma troca de aprendizagens: eu lhe ensino a nadar e o senhor me ensina a ler e escrever. Que acha disso?

– Aprovado! — Disse o mestre, ainda com o hábito de avaliar...

O professor aprendeu a nadar, e João aprendeu a ler e escrever com seu mestre e amigo. Vinte anos após, o agora dr. João, que se formara em agropecuária, no Campus da Universidade Federal do Amazonas, em Parintins, tornou-se um dos maiores comerciantes de peixes, proprietário dalgumas das melhores embarcações da região e proprietário de famosa escola local.     

Atualmente, João do Barco proporciona emprego e estudos a cerca de 3.000 famílias amazonenses. Seu ex-professor é o atual diretor de sua instituição de ensino...

Moral da história: Não importa o que sabemos, se não passamos isso adiante com humildade e desejo permanente de aprender e compartir. Somente assim nos livramos da ignorância e da falta de compaixão pelo próximo.

Esta é uma história fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

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