Um abençoado dia
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Salve,
leitores!
Tenho
um vizinho amigo que, toda semana, vai ao mercado, em frente ao nosso bloco,
compra uma cesta básica e coloca em grande caixa da portaria do bloco.
Contribui, assim, com a Campanha de Doação de Alimentos, promovida, há
meses, pela "prefeitura"
local. Vez ou outra, vejo-o voltando do mercado com a cesta...
Dia
desses, ele disse-me que, após pegar uma cesta básica de 14 quilos, enquanto
caminhava para um dos caixas, lembrou-se de comparar o preço do pacote com o de
um pote de manteiga de meio quilo. Preço da cesta básica: R$ 60,00 (sessenta
reais), aproximadamente. Preço da manteiga mais barata: R$ 30,00 (trinta
reais). Na cesta não há manteiga, nem ao menos, margarina. Que pena!
Outro
mistério que meu amigo ainda não conseguiu decifrar: o preço da cesta básica,
que até hoje está afixado abaixo dos pacotes, no primeiro corredor do mercado,
é de aproximadamente R$ 67,00 (sessenta e sete reais), mas há um mês, semana
após semana, são-lhe cobrados sete reais a menos. E não adianta
"reclamar" ao caixa: — Moço (ou moça), o preço da etiqueta é maior...
A resposta, após consulta ao sistema é sempre a mesma: — O preço é esse
mesmo que o senhor está pagando (R$ 60,00).
—
Que mais lhe aconteceu no mercado? — indaguei-lhe.
—
Quando me dirigi ao caixa, havia uma senhora com um carrinho cheio de compras à
minha frente. Fiquei tranquilo, porém, pois acabara de praticar exercícios e,
embora já seja idoso, segurar 14 quilos por uns cinco a dez minutos é moleza,
para mim. Foi o que pensei, mas
a senhora cedeu-me a vez e ainda me aconselhou: — Coloque o pacote sobre o
balcão, para aliviar seus braços desse peso. Agradeci-lhe, paguei ao caixa e,
na saída, enquanto ela olhava para os lados, agradeci-lhe novamente. Com a
maior simplicidade, a alma bondosa respondeu-me:
—
Por nada, vá com Deus!
—
Uma atitude assim até merece uma crônica, meu caro Dinis. Mais alguma cousa?
—
Sim. Ao sair do mercado, um vigia de carros abordou-me e falou:
—
Que Deus o abençoe e que o senhor tenha um excelente dia. Dei-lhe uns trocados
e segui em frente. Depois disso, amigo Jó, fui à farmácia, que fica do outro
lado da rua. Ali, comprei remédio e sabão líquido. Informado do valor,
dirigi-me à moça do caixa para pagar os produtos. O remédio era X e o sabão, Y.
Na hora de pagar, porém, verifiquei que a jovem do caixa me cobrou X + Y + z.
Como sou bom em cálculo mental, percebi o erro, mas calei-me. Na entrega dos
produtos, contrariamente ao que sempre ocorre ali, quando nunca me perguntam
isso, a moça indagou-me:
—
O senhor quer a nota?
—
Não precisa — respondi-lhe... Já havia percebido que a diferença fora pouco
maior do que o aporte dado ao vigia de carros da via pública.
—
Quanto? — perguntei ao Dinis.
Ele,
com simplicidade, respondeu-me:
—
Só o suficiente para, cada um, comprar um litro de leite e dois pãezinhos. E
arrematou: Que bom será quando todos agirmos como aquela gentil senhora, que
pratica o bem no cotidiano de nossa existência neste maravilhoso mundo azul.
—
Por quê?
—
Porque cedeu-me parte do seu tempo, e isso, para muitos de nós, é mais
importante do que alguns trocados...
Quanto
ao rapaz, deu-me o ensejo de aliviar-lhe um pouco a carência material. Disse,
por fim.
—
E a moça do caixa? — Perguntei-lhe.
—
Com ela aprendi o que não se deve fazer em prejuízo do próximo, ainda que seja
mínimo, pois Jesus nos ensinou que da prisão não sairemos, sem
sofrimento, até que paguemos o último centavo de nossas dívidas. Isso está em Mateus,
5:25,26. Essa prisão é a da consciência culpada, que nos cobra reparação
do mal feito a alguém.
—
Você agiu bem — falei ao amigo Dinis —. Como disse o apóstolo Pedro, devemos
ter "[...] ardente amor uns para com os outros, pois o amor cobre a
multidão de pecados." (I Pedro,
4:8). Mas não seria melhor esclarecer o que houver com a moça do caixa
farmacêutico? Quem sabe se não teria havido engano?... Muitas vezes, algo que
nos parece prova da má-fé não
passa de nosso juízo errado.
Dinis,
então, concluiu com esta pérola de raciocínio:
—
Jó, se houve ou não má-fé, a nota fiscal recusada poderia confirmar. Mas nada
justifica que subtraiamos um centavo sequer de alguém sem seu consentimento.
Se, porém, o que nos tiram é insignificante para nós, por que humilhar o nosso
próximo, acusando-o, em vez de amá-lo e socorrê-lo?
Concordei
com Dinis e nos despedimos fraternalmente com um abraço.
O
mundo precisa do nosso auxílio material e espiritual: nos pensamentos, nas
palavras, nos gestos e nos atos. Agindo assim, breve o vírus passará... o vírus
do mal.
No
encerramento desta crônica, lembrei-me de que, tempos atrás, eu postava um link
de música para acesso de meus leitores, e esta, cantada pela bela voz do Renato
Russo, vem bem a calhar aqui: Monte Castelo.
Clique,
para ouvir, em: https://www.letras.mus.br/renato-russo/176305/
Paz,
saúde e caridade, meus amigos!
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
Como consultar
as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique
neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário