Entrevista com Kardec sobre a origem do Espiritismo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
"Vossos velhos sonharão.",
afirma o profeta Joel (2:29). Pois não é isso que aconteceu comigo novamente? Desta
vez, sonhei que encontrei Allan Kardec caminhando pela rua Sainte-Anne, em
Paris. Foi no nº 59 dessa rua, ao lado da passagem Sainte-Anne, que ele,
no final de sua vida, morou com Amélie Boudet. Cumprimentamo-nos e, após
dizer-lhe que sempre sonhara com esse momento, convidei-o para uma entrevista
num café da citada rua.
Entramos, sentamo-nos e, enquanto o garçon
nos servia um cafezinho francês com croissant, ele colocou-se à minha
disposição, após agradecer-me pela "imerecida honra", como é próprio
de sua modéstia. Em seguida, perguntou-me sobre qual assunto eu desejaria saber.
Respondi-lhe que gostaria de conhecer os meios de comunicação dos Espíritos
observados, experimentados e anotados por ele, que deram origem à Doutrina
Espírita.
— Pergunte-me o que desejar, irmão
espírita, pois o Senhor autorizou-me a responder-lhe — disse-me o grande
missionário gentilmente.
— Obrigado, Kardec. Agradeça ao Senhor
por mim — falei-lhe, emocionado —. A primeira pergunta é a seguinte: Como se manifestaram
os fenômenos espíritas em sua época?
— Aqui na França, Jó, comecei por
observar a movimentação de diversos objetos que, vulgarmente, eram chamados de
"dança das mesas ou mesas girantes". Na presença de um médium, a mesa
erguia-se e batia com um dos pés, quando o Espírito que a movia desejava
assinalar uma letra, ao lhe serem lidas as letras do alfabeto. Desse modo, eram
formadas frases em resposta às questões propostas.
— Como se soube que eram Espíritos que
respondiam? — perguntei novamente.
— Foram eles mesmo que o disseram, por
meio de pancadas dum dos pés da mesa.
— Isso não era muito demorado, Kardec?
— Exatamente. Por isso mesmo, o
Espírito indicou outro meio de comunicação: a cesta, à qual se adaptava um
lápis e o médium colocava seus dedos sobre sua borda. Desse modo, a cesta
movia-se rapidamente e escrevia no papel colocado sob ela com grande velocidade.
As mais altas questões filosóficas, morais, metafísicas e psicológicas eram propostas
e respondidas pelo lápis adaptado à cesta.
— Por que não se usam mais cestas e
pranchetas na comunicação dos Espíritos, professor?
— Porque reconheceu-se que esses
objetos eram apenas apêndices para as mãos, meu caro Jó. Desse modo, quando o
médium escrevia diretamente com o lápis nas mãos, seu impulso era involuntário
e muito mais rápido do que o texto dum escritor normal. Percebeu-se, ainda, que
os Espíritos podiam comunicar-se pela palavra, pela audição, pelo tato, pela
visão etc. Embora seja rara, até mesmo pela escrita direta, ou seja, sem uso da
mão do médium e sem lápis, pode-se obter comunicação dum Espírito numa folha em
branco dobrada e fechada numa gaveta. A isso, deu-se o nome de pneumatografia.
Há ainda a pneumatofonia, que é a transmissão da voz direta do Espírito que
deseja comunicar-se. Mas sobre os tipos de mediunidade poderemos falar em nova
entrevista.
— Ótimo! aprenderei muito com suas
novas informações. E quem eram os médiuns, mestre?
— Jó, mestre, mesmo, só Jesus...
Respondendo a sua pergunta, havia médiuns de variadas idades, de diversos níveis
de conhecimento e de ambos os sexos. Trabalharam comigo médiuns muito jovens e
outros já idosos. Ermance Dufaux, por exemplo, era médium desde os doze anos. Conheci-a
em 1857, quando tinha apenas 16
anos. A partir de então, passou a trabalhar comigo, mediunicamente, infatigável,
na edificação da Doutrina Espírita. As mensagens do Espírito São Luís foram
psicografadas por ela. Em 1860, quando colaborou comigo na segunda edição d'O
Livro dos Espíritos, estava apenas com 19 anos.
— É preciso ter moral elevada para ser
médium, Allan?
— Não, Jó, pois a mediunidade é uma faculdade
orgânica. De certo modo, todos somos médiuns, mas somente os médiuns produtivos,
ou seja, aqueles que veem, ouvem e transmitem, involuntariamente ou não, as
mensagens dos Espíritos superiores, são úteis às finalidades destes de
proporcionarem-nos consolo, certeza sobre a imortalidade da alma e os
benefícios que isto proporciona à humanidade. Entretanto, relembro-lhe o que
escrevi em vida física: "Diga-me o que pensa e eu lhe direi quem é sua
companhia espiritual."
— As horas correram e nem me dei conta,
Kardec. Quero, entretanto, ter o privilégio de voltar a encontrá-lo para nova
entrevista.
— Agradeço-lhe o convite e me coloco a
sua disposição, todas as vezes que Jesus de Nazaré, mentor do Espírito de
Verdade, meu guia espiritual, assim o permitir. Adeus!
Com lágrimas nos olhos, acordei...
∞
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