sábado, 14 de maio de 2022

 



Histórias de vidas!

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Quora: "Você já foi tratado diferente por causa do carro que dirigia?"

Sérgio: "[...] Aos 20 anos comprei meu primeiro carro, um Chevrolet Chevette velho e usado do modelo brasileiro [...]. [Vim] de uma família humilde que ajudei a sustentar, portanto não havia dinheiro para um carro melhor [...].

Bem, de volta aos meus 20 anos... Depois do trabalho, fomos a um bar para um happy hour [...]: uma mesa de garotos bem-vestidos. Ao lado havia outra mesa com uma festa, um grande grupo e entre eles uma das garotas mais bonitas que eu já tinha visto. Trocamos olhares e depois de um tempo ficou claro o nosso interesse mútuo, então pedi ao garçom que [lhe] entregasse um guardanapo onde escrevi “encontre-me lá fora”. Funcionou!

[...] Durante nossa breve conversa, descobri que ela estava fazendo um treinamento para ser comissária de bordo [...]. Bem, então finalmente vem a parte engraçada (ou infeliz) da história. Fui até a casa dela: era na verdade o que eu suspeito, um casarão, uma grande mansão que se destacava das outras também ricas casas vizinhas...[...]

A garota abriu a porta com um sorriso no início e, em seguida, seus olhos... [...] Tive a impressão de que a postura de seu corpo indicava que ela queria dar meia volta até a porta... [...]. Mas depois de uma fração de segundo, ela conseguiu respirar e seu rosto pálido quase voltou ao normal. Esta foi uma imagem que nunca esquecerei na minha vida.

Para resumir, sua frustração era óbvia. Tentei o meu melhor para mostrar quão charmoso e inteligente eu era, mas a conversa ficou meio truncada. Mesmo o bom restaurante não a impressionou muito e já bem cedo ela estava pronta para partir, e eu a levei de volta. Ela nunca retornou uma ligação posterior, como eu já esperava [...].

Bom para mim. Mais tarde me casei com minha atual esposa, também linda, que realmente me ama pelo que sou [...]. Espero que ela tenha encontrado seu príncipe rico, mas ela nunca imaginou que depois eu me tornaria um executivo internacional, "Level C" de grandes empresas, poliglota que viajou o mundo, que agora gosta de contar suas histórias no Quora." (Sérgio Diniz)

 

*

 

Vamos agora às diferenças entre este modesto escrevinhador e linda garota que conheci em viagem ao Rio de Janeiro, em ônibus executivo, quando servia em Salvador e me dirigia, nas férias, à cidade natal. Ela morava em Copacabana, em apartamento de luxo; eu, na Penha, em casinha pobre do Rio de Janeiro.

A jovem era formada, poliglota e exímia pianista, aos 21 anos de idade; e eu com 23, nem ao menos o atual ensino médio havia concluído.

Por outro lado, eu nem bicicleta tinha naquela época quando, a seu convite, visitei-a no apartamento onde ela morava. "Por que você não desce com o rapaz, para lhe mostrar a praia?" – propôs-lhe seu pai, após me "entrevistar", na ampla sala de seu apartamento...

Ela, então, como filha muito educada, desceu comigo do andar onde morava e fomos dar uma brevíssima volta na praia. Ao passarmos por um rapaz acompanhado, que estava sentado tomando uma cerveja, este fez-lhe a seguinte observação: "Que rapaz bonito, seu namorado?" Ela respondeu-lhe: "Não, apenas conhecido". Ele ainda se atreveu: "Por que não namora ele? Parece ser boa pessoa". Ela respondeu-lhe secamente: "Não, obrigada". E afastou-se rapidamente, comigo a seu lado. Ao chegarmos próximos do bloco de sua residência, despediu-se de mim para sempre... 

Anos depois, casei-me com linda mulher, formei-me, tivemos três belos filhos, que nos deram, até agora, cinco belos netos: quatro meninos e uma menina.

Creio que haja bons motivos para nossas diferenças. Órfão de pai quando eu estava com onze anos, tudo o que consegui na vida foi à custa de muito estudo e trabalho próprio, pois descendo de família paupérrima, que jamais pôde custear meus estudos. A jovem de Copacabana, pelo que percebi, tinha pai amoroso, que a educara nos melhores colégios. Trajava roupas de grife, alimentava-se bem, ia a restaurantes de luxo e, se preciso, não lhe faltaria atendimento médico especializado.

Não sei se está casada e torço para que seja feliz por tudo o que conquistou com o amparo dos bens familiares, mas citando frase da letra de música Carango, do cantor Wilson Simonal, "pra ter fon fon, trabalhei, trabalhei". Minha riqueza é minha família na convivência de 43 anos com a mulher que sempre amei e que, junto comigo, construiu o espaço modesto, mas confortável, em que moramos.

Acesse Carango em: https://www.letras.mus.br/wilson-simonal/679871/

 

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