Há remédio para insensatez?
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Quem
tem o hábito de navegar pela internet certamente se lembra de um texto que, anos
atrás, circulou pela Web com o título “Amostras da insensatez”, que mostrou a
todos nós, com exemplos diversos, como a invigilância e a ausência de bom senso
têm dado azo a bobagens divulgadas no Brasil em nome do Espiritismo.
Previsões
e revelações bombásticas, dietas para emagrecer, casamento em centro espírita,
reencarnação no mundo espiritual, vacina espiritual contra a gripe suína,
registro de uma nova pomada – Pomada Esperança – recomendada por seu autor para
o tratamento de matéria fluídica infecciosa acumulada por elementos vivos de
magia, e por aí vai.
Existe
remédio para isso?
Remédio,
para ser sincero, não sabemos se existe, mas há medidas preventivas que
poderiam pelo menos evitar que esse mal se alastre.
A
principal delas é não permitir que o Espiritismo perca seu caráter de ciência.
Cabe-nos, a propósito, lembrar aqui o que Herculano Pires escreveu acerca do
chamado método kardequiano, que nos permitiu surgisse no mundo a codificação da
doutrina espírita, que o avanço dos anos cada vez mais confirma e reafirma, sem
nela produzir o mais leve arranhão.
Herculano
sintetizou em 4 pontos o método adotado por Kardec:
1º -
Escolha de colaboradores mediúnicos insuspeitos, do ponto de vista moral, da
pureza das faculdades e da assistência espiritual.
Allan
Kardec submetia as respostas anteriormente obtidas ao crivo de outros
Espíritos, por meio de médiuns diferentes. É devido a isso que ele trabalhou com inúmeros
médiuns – Caroline e Julie Baudin, Japhet, Aline, Ermance Dufaux, sra. Schmidt,
sr. Crozet, dentre muitos outros –, não se fiando apenas nesse ou naquele
medianeiro para firmar suas conclusões.
2º -
Análise rigorosa das comunicações e seu confronto com as verdades científicas
demonstradas, pondo-se de lado tudo aquilo que não pudesse ser logicamente
justificado.
Kardec
escreveu em “O Livro dos Médiuns” (cap. 24, item 266) que "não existe uma
comunicação má que possa resistir a uma crítica rigorosa". E, na mesma
obra, consignou a conhecida orientação de Erasto: “Mais vale repelir dez
verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa” (LM, cap.
20, item 230).
3º -
Controle dos Espíritos comunicantes, em face da coerência de suas comunicações
e do teor de sua linguagem.
4º -
Consenso universal, isto é, concordância entre as várias comunicações recebidas
por médiuns diferentes, ao mesmo tempo e em diversos lugares, sobre o mesmo
assunto.
A
"Revista Espírita", que Kardec redigiu e publicou de janeiro de 1858
a março de 1869, foi fundamental para isso. “O Livro dos Espíritos” surgiu inicialmente,
em 18/4/1857, com 501 questões. Na segunda edição, ocorrida em março de 1860,
já eram 1.019 questões. É que, graças à “Revista”, Kardec constituiu-se num
centro que recebia mensagens e comunicações de todos os cantos, inclusive do
Brasil.
Com
efeito, ele escreveria em 1864, no item II da Introdução d’ “O Evangelho
segundo o Espiritismo":
"A
única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que
existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande
número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares."
*
Trazemos
à lembrança as informações acima para dizer aos nossos colegas espíritas e
também aos nossos leitores quão importante seria para o movimento espírita a
observância do método kardequiano em nossas atividades, porque somente isso
poderá evitar que novos exemplos de insensatez surjam em nosso meio.
O
princípio da verificação da universalidade do ensino, por exemplo, deveria
nortear os passos de todos nós que usamos a tribuna ou escrevemos para revistas
e jornais. Se isso fosse seguido, toda teoria nova e assim os modismos ficariam
esperando o momento certo para serem tratados ou descartados.
E seria
ótimo se o mesmo cuidado tivéssemos com os livros de determinados médiuns que
disseminam em nosso meio informações estranhas e duvidosas, que seguramente
seriam evitadas caso o método kardequiano fosse levado realmente a sério pelos
espiritistas daqui e de fora.
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