Por que orar?
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Há
pessoas que não creem, em absoluto, na validade da prece e assim procedem
durante toda a sua existência, até que a provação, surgida sob a forma de
enfermidade irreversível ou da ruína nos negócios, abata seu orgulho e as leve
à meditação em Deus.
Certo
amigo que nas horas vagas colaborava com assiduidade num dos hospitais da
cidade, relatou-nos oportunamente como era o comportamento de determinadas
criaturas de vida abastada quando, internadas naquele hospital, tomavam
conhecimento da gravidade de sua enfermidade.
Ciente
de antemão da gravidade do caso, nosso amigo, na visita habitual que fazia aos
enfermos, sugeria ao paciente, em particular, a presença de um sacerdote para –
quem sabe? – o necessário desabafo. A resposta era, contudo, no início,
invariavelmente desanimadora: “Não creio em padre nem em religião nenhuma!”
Ocorre
que, com o passar dos dias, toda doença insidiosa mostra os sinais de sua
dureza e determinação. A família passa a rodear o enfermo, os parentes chegam
de todos os cantos e, evidentemente, o resultado não se fazia esperar. O
enfermo acabava enviando ao amigo o esperado recado: “Se o senhor quiser, não
me importo com a vinda do sacerdote”, ou seja, quando a ciência se revela
impotente e o dinheiro nada mais pode fazer, só resta recorrer à religião, como
último recurso na busca de melhores dias.
Com
as pessoas de vida mais singela o fato se passa de forma diferente. A escassez
de recursos e a simplicidade da vida fazem com que esses irmãos sintam
geralmente na prece um elemento importante em suas vidas e, talvez, o único
recurso diante das vicissitudes.
O
convívio com famílias que vivem na periferia da cidade comprova isso. Essas
pessoas, não raro, acompanham a oração com seriedade e gosto. Sim, com gosto,
alegria, interesse, compreensão. É que a prece sincera transforma nosso estado
d´alma e, quando fervorosa, traz-nos uma paz indefinida, assentando por alguns
momentos uma vida nova em nosso campo mental.
Por
que a prece conforta tanto?
Que
mistério profundo encerra essa comunhão que até os povos mais antigos cultuavam?
O
Espiritismo trata do tema com respeito e carinho, ao definir a prece como sendo
um ato de adoração a Deus e, ao mesmo tempo, uma conversa com o Criador ou seus
prepostos.
Sendo
um ato de adoração, ela agrada ao Senhor e nos torna melhores, não requerendo
para isso uma forma exterior determinada ou uma dissertação alongada. Seu
conteúdo é que vale, a atitude de quem ora é que importa, cientes todos nós de
que a prece deve ser espontânea, objetiva e repleta de sentimentos elevados.
Do
mesmo modo como Jesus ensinou, propõe-nos o Espiritismo que devemos orar em
secreto, visto que, tratando-se de uma invocação e uma conversa íntima, ela
requer os mesmos cuidados que temos quando desenvolvemos com alguém um
entendimento particular.
Ensina
Emmanuel: “A prece deve ser cultivada no íntimo, como a luz que se acende para
o caminho tenebroso ou como o alimento indispensável na jornada longa e
difícil, porque a oração sincera estabelece a vigilância e constitui o maior
fator de resistência moral no centro das provações mais escabrosas e mais
rudes” (O Consolador, pergunta 245).
Há,
como sabemos, vários modelos de prece. O Pai Nosso, a prece de Cáritas, a
oração de São Francisco de Assis, todas são peças de altíssimo valor literário
e sentimental. O essencial, contudo, não é o que elas dizem, mas como as dizemos,
o que sentimos ao dizê-las, a maneira, enfim, como as vivenciamos, sobretudo no
momento de pô-las em execução.
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