ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Na última quinta-feira, se encarnada estivesse, Anita
Borela de Oliveira – que nasceu em 5 de janeiro de 1909 – estaria comemorando mais
um aniversário.
Anita foi minha mãe na presente existência e, por isso, não poderia deixar de registrar o fato, para dizer a ela e a todos os meus familiares quão feliz me considero por ter sido seu filho.
Seu
nome era, em verdade, Ana Borela de Oliveira, mas foi como Anita que se tornou
conhecida em sua cidade e nos diversos locais de Minas Gerais aonde chegou a
notícia do seu trabalho no campo da mediunidade.
Sua
existência, embora muito curta, foi recheada de lances de sacrifício, de
renúncia e de heroísmo. De origem e formação católica, foi exatamente a
perseguição movida pela Igreja aos espíritas da cidade que a levou ao
Espiritismo, religião que seu marido já professava sob a influência direta do
amorável professor Abel Gomes.
Por
essa época, pouco antes da desencarnação de Abel, ocorrida em 1934, suas
faculdades mediúnicas afloraram com um potencial que expressava bem suas
aquisições espirituais do passado. Audição, vidência, clarividência,
psicofonia, curas – eis algumas das faculdades que passou a exercer com a
responsabilidade de quem entendia seu compromisso para com a mediunidade.
Em
pouco tempo, os fatos e a dedicação ao semelhante tornaram-na conhecida e
procurada pelos necessitados de toda a sorte, que encontravam na sua presença o
alívio, o consolo e a cura. Solicitada com frequência nos casos de
desaparecimento de pessoas, ao inteirar-se do nome da pessoa procurada fechava
os olhos e com toda a naturalidade descrevia o local onde ela se encontrava.
Quando ocorria algum afogamento no rio da cidade, as pessoas iam primeiro ao
seu encontro para que descrevesse a situação e o lugar em que o corpo estava.
Em
1950 Anita não se encontrava fisicamente bem. Com 11 filhos e inúmeros
afazeres, seu estado de saúde agravou-se com o surgimento de uma nova gravidez,
o que não a impediu de continuar suas tarefas no lar e no Centro. Mas no dia 8
de maio seu coração não resistiu e Anita partiu, aos 41 anos de idade, deixando
uma lacuna enorme no movimento espírita da cidade, onde já funcionava, além da
casa espírita que frequentava, a Fundação Espírita Abel Gomes, construída sob
sua inspiração para abrigar meninas órfãs.
*
Do
livro Memórias de Padre Vítor, obra psicografada por Ana Paula Cazetta e
publicada pela Editora Leopoldo Machado em 2001 e reeditada sob a forma de
e-book pela Editora Virtual O Consolador, transcrevo dois relatos que mostram
muito bem como atuava Anita em favor dos necessitados.
Numa
certa tarde, na entrega de roupas a famílias carentes, alguém chegou com uma
linda jovem perturbada e agressiva que parecia faiscar ódio pelos olhos.
D.
Menina, que estava junto de Anita, imediatamente lhe disse:
–
Vá, Anita. Converse com o Espírito que a perturba e verá que tem o poder,
concedido pelo Pai, de encaminhá-lo. É chegada a hora do seu testemunho.
Ela,
com uma força que não possuía normalmente e com sua candura habitual, pegou a
mão da jovem e lhe disse:
–
Oh! Meu filho. Que buscas? Tens sede de amor e fome do perdão? Ah! Meu
filhinho, Jesus te quer muito a seu lado. Liberta essa menina-moça de tua
subjugação. O que ganhas com isso? Sabe, meu querido, só o amor nos liberta a
alma. Queres a liberdade? Pois entrega-te a ela retirando-te já daí.
O
Espírito, comovido por forte emanação magnética, se libertou, deixando a jovem em
paz. Em seguida, D. Menina e Anita ministraram-lhe passes e, medicada e
alimentada, coisa que não fazia há dias, pôde voltar ao lar, livre da
influência negativa do Espírito.
Em
outra ocasião, quando lidava com os afazeres domésticos, bateu-lhe à porta um
empregado de uma fazenda próxima, a mando do patrão. Anita ouviu atentamente o
fato narrado e, em seguida, saiu em desabalada carreira junto com o rapaz, que
viera em uma charrete até a sua casa. Pelo caminho ela foi meditando e, na
virada da Reta – uma das ruas da cidade –, avistou Diogo, um companheiro de
lides espíritas que seguia em sua direção.
Logo
que chegaram ao seu destino, depararam um quadro triste de possessão. Mulher
fina, de tratos nobres, Emília, esposa do fazendeiro, se arrastava pelo chão
como um animal selvagem. Já havia destruído tudo à sua volta e por pouco não
assassinara o próprio filho, um bebê, que seu marido trazia nos braços.
Diogo
e Anita, sem perda de tempo, oraram fervorosamente a Jesus e, com força e amor,
envolvida pelo Espírito de Abel Gomes, Anita iniciou a doutrinação reparadora:
–
Levanta-te daí, meu irmão infeliz. Liberta essa criatura de tuas garras e
envergonha-te de tal papel.
Embora tentasse avançar sobre ela, o
Espírito não conseguiu tal intento, pois se prostrou ao chão pela força do magnetismo
de Abel. O esclarecimento então prosseguiu:
–
Vamos, meu irmão! Fala como ser humano que és, tu não és bicho.
Um
choro de dor ecoou pela sala e, afogado pela revolta, o Espírito relatou o ódio
que sentia pelo fato de ter sido abortado na juventude por Emília:
–
Por que eu? Por que eu, se agora ela traz no colo um filhinho amado? Eu a
amava, queria estar em seus braços maternais.
Anita
aproximou-se dele e lhe falou com amor de mãe:
–
Ah! meu filhinho. Não chores assim, um erro não justifica o outro. Tu és
vítima, não queiras tornar-te o algoz. Quanto tempo de abandono, de sofrimento
e jamais te lembraste de pedir alívio a Maria de Nazaré. Ela com certeza te
abrigaria nos braços e te daria o amor que te hão negado. Precisas de ajuda,
mas não para sofrer e sim para ser feliz. Se fosse permitido pelo Pai Celestial,
eu te receberia como meu filhinho querido, mas só posso te oferecer o meu amor
espiritual e te confortar com preces, mas olha em volta e verás quantas
mãezinhas que deixaram seus filhinhos na Terra te querem adotar. Esquece a Emília.
Deus com ela acertará as penas do seu gesto. Quanto a ti, busca a paz em mãos
amigas. Deixa a Emília cuidar do filhinho que Deus lhe deu, pois ela o faz
pensando em ti.
Envolvido
por Espíritos de aspecto feminino, o Espírito abandonou então a mulher e seguiu
em paz.
Anos
depois, Diogo pressentiu em uma de suas peregrinações costumeiras a
reencarnação daquele irmãozinho na fazenda de Emília e viu que ela, sem que
ninguém soubesse explicar, se tomou de amores pelo menino fazendo dele um filho
do coração e adotando-o mais tarde, em face da desencarnação precoce da mãe.
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Que vida proveitosa e maravilhosa .
ResponderExcluirComo a Doutrina Espírita reconforta nossos corações .