domingo, 15 de janeiro de 2023

 



Os fatos espíritas são tão antigos quanto o mundo

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Os fenômenos cujos estudos resultaram na estruturação da Doutrina Espírita não eclodiram numa data determinada. As interferências das forças exteriores inteligentes têm ocorrido desde tempos imemoriais, durante todo o curso da História até o advento da 3ª Revelação no Ocidente. Podemos, então, dizer que o Espiritismo, enquanto fenômeno, sempre existiu, embora como doutrina tenha surgido a partir do advento d’O Livro dos Espíritos, obra publicada originalmente por Allan Kardec em 18/4/1857.  

Os fatos atinentes às revelações dos Espíritos, ou seja, os fenômenos mediúnicos, remontam, pois, à mais remota antiguidade, sendo tão velhos quanto o nosso mundo, porque ocorreram em todos os tempos e entre todos os povos. Os registros históricos são, a esse respeito, pontilhados de tais fenômenos, tal como a Bíblia, que nos mostra Saul conversando com o Espírito de Samuel e Jesus recepcionando as visitas dos Espíritos de Elias e Moisés materializados.

As evocações dos Espíritos, como hoje as conhecemos, não se situaram apenas entre os povos do Ocidente, ocorrendo com larga frequência no Oriente, como se observa dos relatos do Código dos Vedas e do Código de Manu.

Afirma Louis Jacolliot que em épocas bastante recuadas no tempo os padres iniciados nos mosteiros preparavam os faquires para evocação dos mortos, com a obtenção dos mais notáveis fenômenos. O missionário Huc refere-se a grande número de experiências de comunicações com os mortos registradas na China.

O apóstolo Paulo, em suas cartas, reconheceu a prática dessas manifestações entre os cristãos primitivos, como podemos ver nos textos seguintes:

"Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em outra língua não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação" (I Coríntios, 14:1 a 3).  

"Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem" (I Tessalonicenses, 5:19 a 21).      

João Evangelista também se referiu às manifestações espirituais e, quanto ao exame das comunicações delas oriundas, alertou-nos: 

"Amados, não creais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo" (I João, 4:1 e 2).  

Na Idade Média não podemos esquecer a figura admirável de Joana d'Arc, a grande médium que se recusou a renegar as vozes espirituais e por isso foi supliciada e levada à fogueira.  

Contudo, é nas décadas mais próximas que podemos situar melhor a fase precursora do Espiritismo, o Consolador prometido por Jesus. A diferença entre os fatos desta última fase e os fenômenos de antiguidade está em que, como bem acentuou Arthur Conan Doyle, estes últimos eram esporádicos e não obedeciam a uma sequência metódica, ao passo que os fenômenos da era moderna tiveram “as características de uma invasão organizada". (Cf. História do Espiritismo, pág. 33.)  

Vamos encontrar nessa fase, na Suécia, o sensitivo Emmanuel Swedenborg, engenheiro militar, autoridade em Física e em Astronomia, zoologista e anatomista, financista e político, além de insigne teólogo, dotado de largo potencial de forças psíquicas. Os fenômenos tiveram início em sua infância, mas, ampliando-se numa continuidade que se prolongou até a morte, suas faculdades adquiriram maior intensidade a partir de abril de 1744 em Londres. Desde então – afirmou Swedenborg – "o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos".  

Outro notável precursor, digno de menção, foi Franz Anton Mesmer (Iznang, 23 de maio de 1734 - Meesburg, 5 de março de 1815), médico, descobridor do magnetismo curador. Em 1775, Mesmer reconheceu o poder da cura mediante a aplicação das mãos. Acreditava ele que por nossos corpos transitam fluidos curadores, preparando o caminho para o Hipnotismo de Marquês de Puységur. Os passes magnéticos, que se popularizaram graças a Mesmer acabaram assimilados pelo Espiritismo, tornando-se um dos fatores mais importantes de atração das pessoas que buscam ajuda nas instituições espíritas.

Fenômenos também dignos de registro ocorreram nos Estados Unidos com Andrew Jackson Davis, magnífico sensitivo que viveu entre 1826 e 1910 e foi chamado por Arthur Conan Doyle de “o profeta da Nova Revelação”. Os poderes psíquicos de Davis começaram em sua infância, quando ele ouvia vozes de Espíritos que lhe davam conselhos. À clarividência seguiu-se a clariaudiência. Certa vez, em 6 de março de 1844, Davis foi tomado por uma força que o transportou da pequena cidade onde residia até as Montanhas de Catskill, distante mais de 60 km de sua casa.  

O surgimento do Espiritismo foi, por sinal, predito por Davis em seu livro Princípios da Natureza, publicado em 1847, um ano antes do advento dos fenômenos de Hydesville. Conan Doyle assevera em sua obra que o papel de Davis foi a preparação do terreno, antes que se iniciasse a revelação propriamente dita.

Dez anos depois, em 18 de abril de 1857, surgiria em Paris O Livro dos Espíritos, obra de autoria de Allan Kardec que é o marco inicial da doutrina espírita.

 

 

 

 


 

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